Especial Seguros – Gazeta Mercantil

http://pdf.investnews.com.br/pdf/gzm/Relatorios/2008/rel20080423.pdf

JMalucelli investe na emissão de apólice digital*

Ontem, a J.Malucelli Seguradora, especializada em seguro de garantias financeiras, emitiu a 100 apólice digital, dia de inauguração do sistema de certificação. “Foram oito meses de trabalho para desenvolver o programa para a emissão de apólices digitais. Mas o retorno dos nossos clientes e corretores foi fantástico”, diz João Gilberto Possiede, presidente da J.Malucelli.

A emissão digital será feita a partir de agora nas prorrogações, renovações ou novos contratos. A J.Malucelli emite uma média de 3,5 mil apólices por mês. “A cada 15 minutos sai uma apólice da seguradora”, orgulha-se Possiede. Segundo o executivo, o principal encantamento dos clientes é pela rapidez em ter a apólice emitida e pela economia que a iniciativa gera. Tudo isso conta pontos para se conseguir reduzir o custo do seguro.

Uma grande vantagem é a eliminação da fraude, apurada no passado e que trouxe muitas complicações para a imagem do produto. “O risco de fraude está totalmente eliminado”. Um dos incentivadores da implementação da apólice digital foi o ex-titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Renê Garcia. Durante sua gestão, iniciada no governo Lula e encerrada em julho do ano passado, ele teve de gerir vários problemas com fraude em seguro garantia.

Para tentar inibir as fraudes, Garcia baixou uma série de normas. Isso estimulou as seguradoras a buscarem formas mais simples e seguras. Segundo a J.Malucelli, a certificação digital foi uma das soluções encontradas para evitar que as informações de seus clientes sejam acessadas por terceiros. Além disso, o grupo investiu alguns milhões de reais em ferramentas ativas de proteção e solução para segurança dos internautas. Possiede cita a vantagem ecológica, pois não é necessário ter formulários em papel especial para as apólices e nem o gasto com cópias de documentos para reconhecimento de firmas em cartório.

A seguradora encerrou 2007 na liderança do ranking de vendas do segmento. O mercado de seguro garantia encerrou o ano com uma produção de R$ 346,2 milhões, superando os R$ 194,6 milhões obtidos por todas as seguradoras juntas em 2006. A J.Malucelli movimentou prêmios de R$ 174,5 milhões, 50% do market share.

O carro-chefe da seguradora são seguros que garantem contratos entre o setor privado e o governo. O grande crescimento tem vindo dos contratos de construção de usinas hidrelétricas. Outro produto de destaque dentro da empresa é o seguro de garantia judicial, onde a apólice libera os recursos dados como caução.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 03/04/2008

Os impactos do subprime*

42-21522248As perdas geradas pela crise nos mercados mundiais de crédito devem superar US$ 600 bilhões, sendo a maior parte do prejuízo dos bancos e das seguradoras, segundo estudo divulgado no final de fevereiro pelo banco suíço UBS. Juntas, as principais seguradoras do setor garantem dívidas estimadas em US$ 2,4 trilhões.

É muito dinheiro. Tanto que o presidente do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, Ben Bernanke, fez um alerta de que alguns pequenos bancos dos país podem falir. Apesar disso, ele garante que o sistema bancário dos EUA continua sólido.

Essa crise não vai parar por aí. Aliado ao prejuízo com pagamentos de indenizações, as seguradoras registram também perdas na carteira de investimentos em razão da baixa das ações de grupos atingidos pela inadimplência do crédito hipotecário de alto risco (subprime). Muitas seguradoras estão tendo de dar baixa contábil no valor dos títulos conhecidos como credit-default swaps, que garantem o investidor contra a inadimplência da empresa tomadora. Algo parecido com o nosso garantia de crédito interno.

O American International Group Inc. (AIG), a maior seguradora mundial em termos de ativos, afastou o executivo Joseph Cassano, que comandava a divisão de produtos financeiros, depois dos US$ 15 bilhões em prejuízos no último trimestre de 2007 sobre garantias vendidas a investidores em títulos de renda fixa. Trata-se do maior prejuízo trimestral já contabilizado em seus 89 anos de história. E não foi apenas a AIG que perdeu. Swiss Re, XL Re, e muitas outras, além das maiores seguradoras de crédito dos Estados Unidos, conhecidas como monolines: MBIA e Ambac Financial Group.

A Fitch, agência classificadora de rating, mostra que o subprime é uma grande bola de neve. As empresas de hipoteca têm dificuldades para financiar as operações, há uma queda acelerada no preço das moradias, o que, por sua vez, dificulta o refinanciamento das dívidas e o uso da casa como garantia para empréstimo. Com isso, as companhias estão ameaçadas de perder os ratings AAA por causa de prejuízos com papéis atrelados às hipotecas de alto risco.

Se isso ocorrer, novo efeito cascata. Uma queda no rating das seguradoras reduz imediatamente o valor dos papéis que garantem. Além disso, alguns investidores só podem possuir ativos em suas carteiras que tenham o selo AAA. Com o rebaixamento do rating, são obrigados a fazer provisões para perdas, reduzindo seus lucros. Por isso até o megainvestidor Warren Buffett se propôs a ajudar, ofertando US$ 800 bilhões para garantir títulos emitidos por municípios, onde o risco de não pagamento é bem menor do que de uma empresa privada.

E o que nós temos a ver com tudo isso? O impacto no Brasil deverá ser restrito. Algumas empresas brasileiras que contam com seguro dessas seguradoras podem ter de substituir a garantia ou fazer provisionamento para perdas caso a seguradora contratada tenha o rating rebaixado. Investimentos de seguradoras estrangeiras previstos aqui podem ser suspensos até que se saiba qual a verdadeira extensão da crise subprime.

E o pior para todos. A alta do preço de alguns dos seguros que mais cresce nos últimos anos: responsabilidade civil de executivos. Os corretores de apólices de responsabilidade civil receberão pedidos de indenização de diretores e executivos com relação à crise, mas poderão pagar quase sem dificuldade, disse Christian Schmidt, economista sênior da Swiss Re, em evento realizado em Luxemburgo entre 20 e 21 de fevereiro. “Prejuízos ocorrerão, mas o céu não está caindo para o lado dos diretores”.

O executivo acredita que a capacidade de capital possivelmente se tornará mais dispendiosa para as seguradoras, porém deverá permanecer abundante.
O cenário para as seguradoras de crédito, que garantem pagamentos do principal e dos juros sobre os créditos podres, não está tão claro. Seus prejuízos são extremamente pesados e os órgãos reguladores dos EUA tentam analisar como manter as seguradoras saudáveis o suficiente para que possam pagar as indenizações. “O valor dessa parte do setor de seguros recai na reputação, e as seguradoras perderam parte dela”, disse Schmidt. “Portanto precisam ampliar seu gerenciamento de risco para recuperar a confiança do investidor”.

Que esta crise, ou qualquer outra que possa abalar a credibilidade do setor, continue bem longe daqui.

* Articulista da revista Apólice

Marítima faz aporte de R$ 76 milhões*

cazdyrx9catlrdr3caxdb2fpcayv5yuacaaps1iccaxl4xzecan5pj1vcabr5dj8ca7blthica6r0rnyca296rg2ca2tszbmca9w3e3ecalq227ycamwc8xbca737hbecapeay1dcabl4wgwcayozie41A Marítima Seguros anuncia hoje um aumento de capital de R$ 76 milhões, elevando o patrimônio da seguradora para R$ 165 milhões. Com a capitalização, a companhia ficará enquadrada nas novas regras de solvência do mercado de seguros e terá folga para aguardar um momento melhor do mercado financeiro para fazer o IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) agendado desde agosto do ano passado.

Os acionistas irão integralizar nesta terça-feira cerca de R$ 69 milhões, informa Milton Bellizia, diretor administrativo e financeiro da Marítima. Os R$ 7 milhões restantes dependem dos acionistas minoritários, que têm 30 dias para fazer a integralização. “Os atuais controladores apostam no mercado brasileiro e querem fortalecer a companhia para que ela entre neste novo ciclo do setor, mais globalizado com regras de solvência próxima dos padrões internacionais e abertura do resseguro.”

O lançamento de ações, cujo pedido foi registrado no final de agosto do ano passado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), já foi cancelado no início deste mês. Segundo o executivo, a empresa não desistiu de fazer a oferta. Apenas mudou a sua estratégia de abertura de capital. “Estamos com o prospecto para a nova emissão pronto, mas vamos esperar o melhor momento”, diz.

A intenção era entrar no Novo Mercado e captar até R$ 500 milhões com a emissão de ações ordinárias, segundo normas da Bovespa para empresas que querem fazer parte desse grupo. Elas só podem emitir ações ordinárias, com direito a voto. Trata-se do mais alto nível de governança corporativa, que conta com 94 empresas, entre elas a Porto Seguro, única seguradora listada.

Depois de obter a aprovação da CVM para fazer o IPO, a Marítima iniciou o road show no mercado local e internacional, em setembro do ano passado. No entanto, percebeu que os investidores estavam com pouco apetite pelos papéis em razão da falta de clareza sobre a extensão da crise das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos (subprime).

Decidiu, então, esperar. Neste período, advogados e bancos de investimento que assessoram a Marítima a convenceram de que a melhor estratégia seria entrar no Nível 2 da Bovespa e, em vez de ações ordinárias, emitir units, compostas por uma ordinária e duas preferenciais (sem direito a voto), limitando o poder de controle dos investidores.

A Bovespa criou as units para permitir que bancos e seguradoras, que não têm interesse em perder o controle da instituição, pudessem ser listados na bolsa. A SulAmérica está no nível 2 e captou R$ 775 milhões com a emissão de units em setembro do ano passado.
“Percebemos que os investidores buscam liquidez e por isso optamos pelas units, pois assim podemos fazer uma emissão maior, de até 70% do capital da companhia.” Segundo ele, o prospecto está pronto, aguardando apenas o melhor momento para a oferta.

Destino dos recursos

Com a emissão anterior, o grupo pretendia usar cerca de 80% dos recursos para elevar a margem de solvência, 10% para investimentos em tecnologia da informação e melhoria de processos internos. Do total, 4% seriam aplicados em capital de giro, 3% no desenvolvimento de novos produtos e 3% na expansão geográfica. Agora, a intenção é captar US$ 350 milhões, quase R$ 700 milhões, e o uso será o mesmo. Bellizia lembra o caso da Porto Seguro. “Ela estava preparada para fazer o IPO em 1999 e depois de tantas crises só fez a abertura em novembro de 2004. É preciso ter paciência para ter um bom resultado.”

Em 2007, a Marítima registrou lucro líquido de R$ 15,7 milhões, abaixo dos R$ 23,7 milhões do ano anterior. Os prêmios de seguros totalizaram R$ 929 milhões, crescimento de 8% em relação aos R$ 854 milhões de 2006. Cerca de 36% das vendas vêm do seguro automóvel e 30%, do saúde. Os ativos totais do grupo ultrapassaram R$ 817 milhões e as provisões técnicas R$ 360 milhões.

*Matéria publicada por Denise Bueno na Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 2

D&O: cresce o interesse e taxas recuam

A crise americana com créditos hipotecários de alto risco, conhecida como subprime, já traz efeitos para o seguro de responsabilidade civil de executivos, conhecido como Directors & Officers (D&O). Segundo Enrico Nanni, diretor-executivo da divisão Aon Network Solutions, do grupo Aon, dono de uma das maiores consultoras de seguros do mundo, 47 empresas avisaram que acionistas questionam judicialmente a responsabilidade dos executivos diante das milionárias perdas divulgadas até agora, superiores a US$ 200 bilhões.

“Acredito que haverá uma pressão para a subida do preço nos próximos meses mas, para empresas fora do mercado financeiro, essa tendência não deverá se consolidar, permanecendo o ciclo de taxas decrescentes”, disse Nanni, durante a 10ª Conferência Latino Americana de Seguros em Energia, promovida entre 10 e 12 deste mês, em Buenos Aires.

Eduardo Pitombeira, responsável pelos seguros financeiros da Zurich na América Latina, as instituições financeiras já encontram dificuldades para negociar suas apólices de responsabilidade civil do executivos, onde investidores questionam a perda de rentabilidade; de D&O, contra ações de acionistas; e de fraude, onde a beneficiária é a instituição financeira. “Além da crise do subprime, temos o choque de credibilidade que veio à tona com a fraude do Société Générale. As várias leis internacionais exigidas pelos órgãos reguladores para controlar riscos de gestão se mostraram frágeis e isso pode gerar uma revisão no cálculo do preço do seguro com o agravamento do risco. Se um grupo do porte do SocGen registrou perdas de US$ 4,9 bilhões, outros podem estar oferecendo o mesmo risco para o setor de seguros”, explica Pitombeira.

A situação fica ainda mais grave com as perspectivas de que o prejuízo com o subprime pode chegar a US$ 600 bilhões, segundo divulgou a agência Fitch. Entre as seguradas que já reportaram avisos que seus executivos foram intimados pela Justiça, 25 são do mercado financeiro. Além de cobrir o valor indenizatório determinado pela Justiça, desde que o executivo não tenha agido de ma fé, o seguro de D&O cobre custas judiciais e adianta valores financeiros para que o empresário possa ter dinheiro para as contas cotidianas caso seus bens sejam apreendidos.

Nanni, da Aon, informou em sua palestra que a crise do subprime ainda deve trazer mais acionamentos nos Estados Unidos. “Esse movimento não deverá agravar os preços do seguro em países da América Latina, onde México e Brasil são os maiores compradores do produto, pois há muita oferta de capacidade”, disse. Segundo o executivo, é possível achar com facilidade no mercado de resseguros capacidade de US$ 300 milhões por risco a um preço razoável.

O temor das seguradoras é ter um ano como no início do século 21. As maiores perdas em D&O foram iniciadas com a quebra da Enron, que gerou acordos com acionistas de US$ 7,1 bilhões. A WorldCom é a vice líder em indenizações, com US$ 6,1 bilhões. A Cedant gerou indenizações de US$ 3,5 bilhões.

As empresas que mais contratam o seguro de D&O são aquelas que negociam seus papéis no mercado acionário. Os Estados Unidos são os campeões em compra de D&O nas Américas. As empresas latinas que negociam ADR na bolsa de valores americana ocupam a segunda colocação no ranking do segmento. “Tem sido uma carteira tranqüila, com pouquíssimos acionamentos em países da America Latina. E por isso, acredito que o preço continuará com margens para negociação”, aposta Nanni, da Aon.

No Brasil, que até o momento não tem qualquer reflexo das crises, a procura pelos seguros tem crescido nos últimos anos. Principalmente agora que o Banco Mundial passou a reduzir significativamente a taxa de juros em empréstimos às instituições que têm essas apólices”, diz.

Marcelo Neves, diretor da OCS, corretora de seguros cativa do grupo Odebrecht, aposta na tendência de baixa das taxas. “Não há subprime no Brasil e por isso não há porque pagarmos a mais por um risco que não oferecemos”, argumenta o dono de uma das maiores apólices de seguros do Brasil.

Segundo dados da Susep organizados pela consultoria Siscorp, o seguro de D&O movimentou prêmios de R$ 96,4 milhões em 2007, alta de 9,3% em relação a 2006. A Unibanco AIG é a maior do Brasil, com prêmios de R$ 42,4 milhões. A Chubb é a segunda maior, com R$ 12,3 milhões, seguida pela ACE (R$ 11,6 milhões), SulAmérica (R$ 10,5 milhões), e Itaú XL (R$ 8,4 milhões)

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil

Bradesco pagou R$ 13,9 bi em indenizações e aposentadoria*

A Bradesco Seguros e Previdência divulga amanhã seu balanço social. “Os números mostram o que devolvemos à sociedade. Ou seja, os riscos cotidianos que os segurados preferiram repassar para a seguradora e que efetivamente aconteceram, seja de sua saúde, de seu patrimônio ou mesmo de seu futuro”, diz Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do maior grupo segurador do Brasil e também da América Latina.

Em 2007, a Bradesco faturou R$ 21 bilhões. Considerando-se o ganho financeiro, o resultado sobe para R$ 29 bilhões. As indenizações, resgates de planos de previdência e pagamento de aposentadorias totalizaram R$ 13,9 bilhões, acima dos R$ 12,3 bilhões em 2006. Em saúde, o grupo pagou R$ 3,4 bilhões referentes ao atendimento de 41 milhões de procedimentos médicos. “Pouco mais de 15 eventos por segurados. O que mostra a demanda e o papel social da saúde suplementar”, frisa Trabuco.

Na área de bens patrimoniais e responsabilidade civil, as indenizações totalizaram R$ 2,59 bilhões, com 387 mil atendimentos. Em previdência e vida, onde são considerados benefícios, pecúlios, aposentadoria, resgates e seguros prestamistas, o grupo desembolsou R$ 6,4 bilhões para atender a solicitações de 644,3 mil pessoas.

De acordo com Trabuco, poder dar esse retorno à sociedade e também ser rentável é fruto de ser uma seguradora com presença em todo o Brasil, o que lhe garante ter uma market share de 25,3%. O lucro líquido do grupo em 2007 foi de R$ 2,3 bilhões, o que chega a representar 30% do resultado do banco.

“Estamos preparados para o futuro. 2007 foi um ano em que se buscou equilíbrio harmônico entre todos os ramos, que passaram por ajustes. Em saúde, por exemplo, tivemos aumento das provisões, o que nos deixou preparado para o futuro, para o aumento da competição com a evolução do mercado interno.”

Para 2008, Trabuco diz que por ser uma seguradora multilinhas, o foco está em todas as direções: saúde, ramos elementares, capitalização, além de vida e previdência. O objetivo é crescer acima de 12%. A novidade neste ano é a criação da quinta área de atuação do grupo segurador: a Bradesco Dental. O produto era vendido por meio da Bradesco Saúde e agora ganhou vida própria e já começa com 735 mil clientes em apólices grupais.

Em quase todas as áreas a Bradesco detém a liderança ou vice liderança. VGBL, um produto de acumulação de renda, movimentou prêmios de R$ 8,4 bilhões, com 41% do mercado e 63% das vendas de seguro no grupo. Em automóvel ocupa a segunda posição, com prêmios de R$ 1,8 bilhão. Sua participação neste segmento é de 13,8% e o produto representa 14% do mix de seguros. Vida e acidentes pessoais a receita de prêmios foi de R$ 1,7 bilhão, com 16,4% de participação, que representa cerca de 12,6% das vendas de seguros.

Um produto que destoa dentro do grupo é o seguro prestamista, aquele que garante o pagamento de uma dívida em caso de morte ou invalidez do titular. Apesar de o banco Bradesco ser o maior banco privado em crédito, a seguradora ocupa o oitavo lugar no ranking de prestamista, segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), com prêmios de R$ 94 milhões. É superada pela Mapfre, Santander, Tokio Marine (ABN Amro Real), Unibanco AIG, HSBC, Cardif e Banco do Brasil. Porém, está à frente do principal concorrente, o Banco Itaú, com prêmios de prestamista de R$ 80 milhões. “Começamos a atuar neste segmento há menos de dois anos e acreditamos que vamos crescer aceleradamente”.

Segundo ele, 2008 será um ano mais competitivo do que os outros anos. “Só o recente aumento do salário mínimo vai injetar R$ 20 bilhões na economia. Isso significa dizer que o perfil de renda está mudando e isso possibilita que o consumidor possa comprar seguro. Todos os operadores estão atentos a isso e preocupados em desenvolver produtos com cobertura e preço adequados.” Das 100 maiores empresas do País, 40 são clientes no ramo corporativo e 38 em saúde.

Outra arma para enfrentar a concorrência é treinar seus profissionais e corretores. O programa Universeg completou três anos. No ano passado, o curso registrou 92 mil participações, sendo 76 mil presenciais e 15,8 mil online. Também formou a primeira turma de MBA in Company, em parceria com o IBMEC.

*matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 04/03/2008

Protecionismo inibe globalização do setor*

images31Restrições para os investimentos estrangeiros, para a venda direta de produtos e a falta de liberdade para a compra de resseguro são os principais problemas citados no estudo “Barreiras nas operações globais de seguros nos mercados emergentes”, divulgado na semana passada pela Geneva Association, entidade que reúne cerca de 80 CEOs das seguradoras mais importantes do mundo. Patrick Larragoiti, presidente da SulAmérica, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente da Bradesco Seguros e Previdência, e Osvaldo do Nascimento, responsável pelas operações de seguros, previdência e capitalização do Itaú, fazem parte do conselho da associação.

O estudo, de mais de 250 páginas, analisou a regulamentação de seguros dos países que compõem o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), além do México, levando em conta as exigências determinadas durante negociações de acordos internacionais que envolvem General Agreement on Trade in Services (GAT) e World Trade Organisation (WTO).

Segundo a autora Julian Arkell, um sistema de regulamentação moderno nos mercados emergentes é um pré-requisito indispensável para a prosperidade da economia local. Isso é válido particularmente para China e Índia pela exposição que ambas têm a catástrofes naturais.

As vendas mundiais de seguros somaram US$ 3,7 trilhões em 2006, expansão real de 5% em relação a 2005. Os mercados emergentes representaram, em 2006, 5,1% das vendas mundiais de seguros de ramos elementares e 4,7% das apólices de vida e previdência.

A baixa penetração de seguro – seja pela oferta restrita de produtos e preço elevado, características de mercados sem competitividade -, gerou um volume insignificante de indenizações para as seguradoras mesmo sendo China e Índia os campeões em mortes causadas por catástrofes naturais no ano passado. “As seguradoras exercerão um papel fundamental no crescimento da economia local protegendo pessoas, empresas e governos de perdas, principalmente com catástrofes”, escreve ela no dossiê.

Alguns dados do estudo estão desatualizados em razão do prazo necessário para a edição de um dossiê de tal abrangência num momento em que os países emergentes são pressionados por órgãos reguladores dos países desenvolvidos por mudanças urgentes na área de seguros como uma forma de pulverizar os riscos a que estão expostos.

No caso do Brasil, por exemplo, o monopólio de resseguros é citado na lista de barreiras, bem como o de seguro de acidentes do trabalho. A partir de janeiro deste ano, resseguros está aberto aos estrangeiros, com reserva de 60% da cessão dos contratos aos locais nos três primeiros anos. Acidentes do trabalho ainda é operado só pelo governo.

Na China e na Índia, o principal obstáculo à entrada de grupos estrangeiros no setor de seguros está na limitação da participação acionária nas companhias. Sem deter o controle, o investimento estrangeiro se torna restrito. Na China, por exemplo, a participação estrangeira não ultrapassa 1,1% do market share em ramos elementares e 6% em vida, sendo os grupos HSBC, Zurich e AXA os mais representativos. No Brasil, os estrangeiros passaram a ter acesso ao controle das seguradoras em 1996, com o interesse da AIG em associar-se ao Unibanco.

Uma regulamentação mais moderna, transparente e que traga segurança jurídica aos acionistas e aos consumidores é vital para que as seguradoras possam oferecer serviços globais. A autora do estudo acredita que a definição do papel dos grupos estrangeiros é essencial para a criação de mercados fortes, uma vez que a decisão de investimento do acionista será tomada com base no retorno financeiro da operação, que depende de fatores de risco como segurança jurídica, operacional, comercial e financeiro. “A capacidade limitada ao acesso a seguros, a reforma nos planos de aposentadoria e as privatizações apresentam desafios formidáveis para as autoridades reguladoras”, aposta a autora do estudo, disponível no site da entidade (www.genevaassociation.org).

*matéria publicada no jornal Gazeta Mercantil

2008: realmente um ano novo para seguros*

O ano já começa com novidades para as seguradoras, empresas de previdência e capitalização, segmentos que projetam chegar em dezembro próximo com faturamento de R$ 96 bilhões. É previsto para hoje, primeiro dia útil de 2008, muita movimentação na Susep (Superintendência de Seguros Privados). “Tenho informações firmes de que teremos o registro de três resseguradores locais para o dia 2”, informa Armando Vergílio, da Susep, em entrevista a este jornal. Nas apostas entre os participantes, os nomes mais cotados para operar como local são Transatlantic Re, que tem o grupo americano AIG como principal acionista, e XL Capital, das Bermudas, sócia do Itaú no Brasil.

Tal movimentação só está prevista porque a Susep aceitou mudar parte das regras iniciais propostas nas minutas da audiência pública contendo as regras de abertura do resseguro, um setor que movimenta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano e pode dobrar de tamanho em cinco anos. Cerca de 70% das sugestões apresentadas pelo mercado foram aceitas. “Creio que o mercado ficou quase 100% satisfeito. A nova diretoria e toda a equipe da Susep trabalhou muito nesse período porque sabemos que é um momento histórico para o mercado de seguros”, diz ex-corretor de seguros.

Em quase quatro meses que está no cargo, Vergílio teve um início agitado. Conseguiu aprovar as regras de abertura do resseguro agradando a quase todos, alterou o que os executivos chamavam de “distorções” nas regras de solvência, flexibilizando a exigência para a maioria das companhias, criou as cooperativas de corretores e ainda mandou para a Casa Civil um projeto de criação do fundo garantidor para o setor de seguros, previdência e capitalização. Veja a seguir trechos da entrevista.

Gazeta Mercantil – Seus 130 primeiros dias de governo foram bem corridos…

Armando Vergílio: Foram dias agitados, mas valeu a pena. Foi um marco histórico para o setor conseguir aprovar a abertura do resseguro e novas regras de solvência. Agora começamos o ano focados em novos planejamentos, como o seguro popular de carro, o microsseguro e produtos de previdência privada voltados para saúde e educação.

Gazeta Mercantil – Quais foram as medidas que mais exigiram o esforço da autarquia?

Armando Vergílio: A Susep tinha diante de si alguns grandes desafios que já estavam sendo conduzidos antes do início da nossa gestão. Entre eles, havia a implantação da Supervisão Baseada em Risco, tendo como parâmetro o modelo preconizado pela IAIS; o estabelecimento das Novas Regras de Capital e a regulamentação do resseguro, dentro das diretrizes da Lei Complementar 126. Esse último era, acima de tudo, um assunto novo ainda pouco conhecido pelo corpo técnico da autarquia, que precisou buscar informações sobre os modelos de resseguro existentes em diversos países, inclusive através da capacitação fora do País, a fim de adaptar as melhores práticas à realidade do mercado brasileiro. O que se buscou foi um equilíbrio entre dois extremos: a abertura desmedida e o protecionismo exagerado.

Gazeta Mercantil – Qual a projeção de crescimento do setor com essas mudanças?

Armando Vergílio: 2008 será o ano base de uma fase de crescimento sustentado que nos permitirá dobrar a participação do setor no PIB em, no máximo, quatro anos, de 3% para 6%. O seguro deverá crescer acima da média da economia nacional nos próximos anos. Contudo, o mercado precisa se preparar visando a oferecer confiança aos consumidores e investidores.

Gazeta Mercantil – O que fez a Susep mudar os principais pontos das normas de resseguro?

Armando Vergílio: No momento de elaboração das normas sabíamos que alguns pontos seriam polêmicos, por exemplo, a questão das reservas adicionais para os resseguradores admitidos e as regras de preferência de 60% na oferta para os resseguradores locais. Algumas dessas diretrizes não poderiam ser mudadas pela Susep simplesmente porque faziam parte da Lei Complementar 126, mas outras poderiam porque de fato agregaram valor às normas, como a redução da garantia de depósito de US$ 5 milhões para US$ 1 milhão para as resseguradoras de vida e a flexibilização das reservas adicionais para as empresas com rating elevado. Consideramos que apenas pontos específicos foram questionados, havendo inclusive coincidência de sugestões sobre algumas minutas.

Gazeta Mercantil – Sim, você se refere a três pontos que determinavam o sucesso ou o fracasso do projeto de abertura. Os estrangeiros agradecem a mudança com os investimentos que farão no Brasil. Qual a sua impressão sobre o resultado final das regras de resseguro?

Armando Vergílio: Consideramos que o resultado foi muito positivo. Acatamos cerca de 70% das sugestões enviadas durante a audiência pública. Tal como foram formuladas, as regras serão fundamentais para nos ajudar na formação de um mercado ressegurador local forte e competitivo e ao mesmo tempo receptivo às resseguradoras eventuais e admitidas dispostas a investir no Brasil e a crescer junto conosco.

Gazeta Mercantil – Há vida além do resseguro. Como ficam as mudanças nas regras de solvência?

Armando Vergílio: As regras de capital serão fundamentais para o fortalecimento do mercado segurador, na medida em que as empresas só assumirão seus riscos se estiverem preparadas para tal. Alguns ajustes serão necessários e cada uma está buscando as próprias estratégias para se adequar. No entanto, com a ampliação de três para quatro anos no prazo de enquadramento das seguradoras às novas regras de capital, que foram aprovadas pelo CNSP, as entidades terão mais tranqüilidade para fazer estes ajustes. Lembrando que os percentuais também foram modificados, passando a ser 15%, 25%, 30% e 30%.

Gazeta Mercantil – Também incluiu na reunião do CNSP as cooperativas de corretores. O que vem a ser?

Armando Vergílio: É uma medida que visa otimizar a área de operação do pequeno e médio corretor. O objetivo é reduzir sensivelmente o custo operacional e o tempo que o profissional gasta com a parte burocrática para que ele possa se dedicar mais ao aspecto comercial, que é o seu negócio, além de dar assistência com qualidade para seus segurados.

Gazeta Mercantil – Acredita que o governo estará aberto a negociar incentivos fiscais para os novos produtos de previdência?

Armando Vergílio: São produtos criados dentro dos moldes dos atuais PGBL e VGBL, onde o valor de retirada será repassado diretamente aos fornecedores, como escolas, no caso do educacional, e aos médicos, laboratórios e hospitais, no caso de saúde. Sentimos um clima positivo no governo para negociar a respeito de incentivos fiscais a estes produtos, responsáveis pelo crescimento de previdência complementar nos Estados Unidos. Esses produtos podem aliviar o serviço público de educação e de saúde ao ajudar as pessoas a criarem reservas de longo prazo para cuidarem destes dois problemas que preocupam a todos por serem essenciais e custosos. A Susep atuará com o intuito de convencer as autoridades governamentais de que é possível rever a carga tributária incidente sobre as receitas geradas nesse setor.

Gazeta Mercantil – Bem, 2007 já acabou. O que espera deste ano?

Armando Vergílio: 2008 chega com um cenário favorável ao crescimento do mercado e às grandes mudanças que estão por vir. Juros em queda, inflação anual de 4,5%, US$ 170 bilhões de reservas, balança comercial de 2007 fechando em alta de US$ 42 bilhões e taxa de desemprego diminuindo. O papel da Susep neste contexto é oferecer segurança para consumidores e segurados.

Gazeta Mercantil – Pelas mudanças, a Susep terá de mudar junto com o setor. Há investimentos previstos para poder fiscalizar o setor com tantas regras novas?

Armando Vergílio: A Susep manterá sua postura fiscalizadora, mas que pretende implantar uma fiscalização preventiva e orientadora. Quero uma fiscalização personalizada, por isso a Susep tem que interagir com o mercado. Neste tipo de fiscalização baseada em riscos e nos controles internos o foco não está exclusivamente na verificação do cumprimento das normas pelas empresas pertencentes aos mercados supervisionados, mas também na identificação dos diferentes tipos de riscos a que as mesmas estão submetidas (crédito, mercado, operacional, legal e de subscrição), e na forma de como é realizado o gerenciamento de tais riscos. Nos trabalhos de inspeção in loco e supervisão personalizada, dentro desse novo modelo de supervisão, o foco está voltado para a análise das situações de risco operacional, entendido como sendo aquele relacionado à incerteza quanto aos retornos de uma instituição no caso de falhas operacionais, o que depende diretamente da eficiência de seu sistema de controles internos, no sentido de minimizar a ocorrência de eventos como falhas humanas, danos à infra-estrutura de suporte, fraude interna e externa, interrupção de negócios e falhas em sistemas, entre outros.

Gazeta Mercantil – Também haverá uma mudança física, não?

Armando Vergílio: Sim, a Susep será deslocada do prédio atual para o edifício onde está o Banco Central, também no centro do Rio de Janeiro. As novas instalações serão equipadas e a autarquia fará concurso público para contratar mais 250 novos funcionários já em 2008.

Gazeta Mercantil – O que o setor pode esperar da Susep em 2008?

Armando Vergílio: Espero que a Susep possa ser reconhecida não apenas pelo papel repressivo e fiscalizador dos mercados de seguro, previdência complementar aberta, capitalização e resseguro, mas que todos – mercado, entidades supervisionadas, empresários e os consumidores – possam reconhecer esta autarquia como uma grande fomentadora do crescimento do mercado e do País.

Gazeta Mercantil – O que faz você ter o microsseguro como bandeira?

Armando Vergílio: No mundo todo o microsseguro é um grande instrumento de inclusão social e de proteção aos cidadãos de menor poder aquisitivo, já que muitas vezes o bem segurado o grande patrimônio da vida desse cidadão. Acho que é uma modalidade de seguro que daria muito certo no Brasil, diante do potencial público a ser segurado por este tipo de cobertura. No entanto, é importante frisar que microsseguro é diferente e seguro popular, daí a necessidade de adequar modelos internacionais à realidade do nosso País.

Gazeta Mercantil – Qual o potencial do microsseguros?

Armando Vergílio: Queremos trazer para o mercado 100 milhões de novos consumidores das classes C, D e E com a oferta de produtos que têm uma função relevante: a de permitir a inserção social e a proteção das vidas e do patrimônio da população de menor poder aquisitivo.

Gazeta Mercantil – Como pretende ajudar o setor a implementar o seguro popular de carro?

Armando Vergílio: Para viabilizar o seguro popular para carros com mais de dez anos de uso seriam necessárias medidas como a redução fiscal e, por exemplo, o uso de peças usadas certificadas.

Gazeta Mercantil – Um dos grandes temores é a demanda judicial que coberturas restritas podem gerar.

Armando Vergílio: A viabilização desse seguro também passa pela adoção de regras claras e simples. É importante que o mercado possa atuar com menos amarras. A nossa indústria amadureceu bastante e é natural que haja maior demanda por menor interferência dos órgãos reguladores. É necessário que tenhamos regras claras e modernas. Isso trará a necessária segurança jurídica e regulatória.

Gazeta Mercantil – E capitalização, haverá tempo para fazer a regulamentação deste segmento?

Armando Vergílio: Já iniciamos a regulamentação relativa à capitalização com a aprovação do CNSP do corretor exclusivo para venda de títulos de capitalização.

Gazeta Mercantil – Que cenário prevê para o setor de seguros até o final do governo Lula, em 2010?

Armando Vergílio: Espero que consigamos atingir a meta de crescimento do setor de seguros para 6% ou 7% do PIB nacional. É preciso saber ser otimista sem deixar de lado a recomendável cautela e sem cair na tentação da euforia. Ainda há muito a avançar em questões tais como a reforma tributária e a redução das taxas de juros, por exemplo. São gargalos que certamente serão removidos no momento adequado. A equipe econômica comandada pelo ministro Guido Mantega e o Banco Central têm trabalhado firme para assegurar uma transição tranqüila, sem solavancos.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 02/01/2008

Não há preço para proteger obras de arte*

Saber que as valiosas peças não estão seguradas traz um segundo choque para a população. Mas é assim mesmo que funciona em todo o mundo. E no Brasil não é diferente.

Os atentados a obras de arte mais famosos ocorridos no Brasil não tinham seguro. Entre eles os quadros de Picasso e Cândido Portinari, roubados do Masp (Museu de Arte de São Paulo) neste mês; “O Jardim de Luxemburgo”, de Henri Matisse, roubado em 2006 do Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro; as gravuras e livro furtados do setor de obras raras da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, com prejuízo avaliado em R$ 400 mil; e a tela “Preparando o Enterro na Rede”, de Cândido Portinari, obra exposta na galeria paulistana Thomas Cohn, avaliada em R$ 2,5 milhões e roubada em novembro de 2005.

A explicação mundial para justificar as fracas vendas desse tipo de seguro é o valor das obras e a falta de sistemas de proteção de museus e galerias, o que aumenta o risco das seguradoras. Para manter a rentabilidade e o interesse de seus acionistas na atividade, as seguradoras cobram preços exorbitantes para garantir a reposição de tudo aquilo que desconhecem, ou seja, que não tem estatísticas que possibilitem fazer cálculo correto de preço.

Mas isso não quer dizer que não existe seguro para obras. Existe sim e custa caro em qualquer hipótese. Muitas vezes, o valor é mais elevado do que o orçamento anual da instituição. Para algumas entidades com histórico de roubo, o preço chega a ser inviável. No mundo, não há estatísticas precisas. Ninguém divulga que faz o seguro para manter a obra longe das quadrilhas especializadas em fraudá-lo. No Brasil, obras de arte movimentam prêmios de US$ 3 milhões por ano. Desse total, 50% vêm de exibições; 30%, de museus; e 20%, de coleções privadas.

As taxas de seguros de museus e galerias são diferenciadas pelos investimentos em segurança. Também se distinguem entre um segurador especializado e um que aceita o risco só porque um bom cliente de outros produtos pediu. As especializadas têm um quadro de funcionários treinado no assunto e que faz exigências e sugestões de implementação de medidas que reduzam o risco de perdas.

Os riscos de um museu, por sua vez, são os mais diversos, desde os mais comuns, básicos, como danos causados por incêndio, raio ou explosão ao imóvel, até os mais complexos. Quase inviável é contratar proteção para o risco de roubo – como o ocorrido com a “Monalisa”, no Louvre, em Paris, em 1911, que por sorte foi localizada dois anos depois e devolvida ao museu – ou perdas geradas por um visitante lunático que resolve danificar a obra, como aconteceu duas vezes com a própria “Monalisa” (uma com acido e outro com uma pedra), bem como as marteladas dadas por um lunático na escultura “Pieta”, de Michelangelo, exposta no Vaticano. Já o seguro de danos ao imóvel é contratado pela maioria.

O que se vê no mercado de seguros é a contratação de apólices com indenização para parte do acervo. O princípio é o mesmo de grandes empresas. A Braskem, por exemplo, maior petroquímica do Brasil, tem um patrimônio em risco avaliado em US$ 20 bilhões e a cobertura do seguro está limitada a US$ 2 bilhões.

Estatísticas mundiais mostram que o custo de fazer um seguro de obra de arte varia entre 0,5% e 2% do seu valor. Para exposições, o valor da apólice de transporte, com cobertura conhecida como “prego a prego”, o custo do seguro chega a representar até 10% do valor da exposição. Nesses casos, quem paga o seguro é o patrocinador, geralmente um banco dono de seguradora ou mesmo a própria seguradora.

E as exigências são muitas. Se os proprietários não cumprirem a imensa lista, podem perder o direito de receber o seguro. No caso recente do Masp, se o museu tivesse segurado as obras, poderia perder o direito à indenização em razão de ter desligado o sistema de alarme por defeitos apresentados, segundo a imprensa.

No Brasil, o custo é balizado pelo teto. Além de todos os problemas enfrentados pelos países de primeiro mundo, a situação é mais crítica. Primeiro: as seguradoras não têm experiência no assunto e, por isso, cobram um preço alto para garantir perdas. Poucas têm especialização, como Chubb, ACE e Unibanco-AIG, em produtos específicos para colecionadores. Segundo: elas não têm profissionais especializados na área. Isso exige que os custos de avaliação da obra, feita por marchands para constar na apólice, corra por conta do colecionar. Ou seja, o preço do seguro se torna mais alto ainda.

Terceiro: o resseguro. Por ser um risco de valor elevado, várias companhias dividem o contrato, para que, no caso de uma perda financeira monstruosa, nenhuma companhia entre em processo de falência. Assim, o valor do seguro é determinado pelo resseguro, que até 2007 era um monopólio do IRB Brasil Re, o que inibiu a concorrência e, conseqüentemente, aumentava os preços.

Alguns especialistas acreditam que a abertura do resseguro em 2008 trará mais concorrentes para o setor. Por enquanto, a saída dos colecionadores tem sido a mesma de proprietários de carros com mais de cinco anos de uso ou de motoristas de caminhão. Investir em sistemas de segurança e de monitoramento para amenizar o risco, uma vez que o custo do seguro é impraticável.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 28/12/2007

Microsseguro, apelo mundial*

42-21521755O microsseguro virou a bola da vez para governos e executivos de seguros dos países pobres e dos emergentes. Mundialmente, o assunto ganhou mais força depois de Mohammed Yunus e Grameen Bank serem premiados com o Nobel da Paz em 2006 por desenvolverem ferramentas para impulsionar a microfinanças, onde está inserido o microsseguros. No Brasil, até mesmo o presidente Lula notou que as pessoas de menor renda estão consumindo. “Essas pessoas estão tendo uma ascensão na sua vida social, estão virando consumidores, o que é uma coisa extremamente importante. Quem está indo no shopping percebe que o povo pobre está comprando”, disse ele no programa de rádio “Café com o Presidente”.

Mas, afinal, o que vem a ser microsseguro? “A definição que mais gosto é pela condição social do segurado e não pelo produto oferecido, que abrange da classe C até a E. Nesta faixa, há microsseguros sociais, como o Bolsa Família, e aqueles complementados pela iniciativa privada, como o auxílio funeral, por exemplo”, explica Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre, da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência e Vida) e líder do comitê recentemente criado pela Fenaseg (Federação das Seguradoras) para estudar o assunto. E microsseguro não é filantropia. “É uma oportunidade de inserção social ou manutenção do estatus obtido pela pessoa de menor renda, com rentabilidade para os operadores. As seguradoras lucram com o produto.”

Para José Rubens Alonso, sócio da KPMG especializado em seguros, atingir esses novos consumidores é uma forma que o setor, em todo o mundo, tem para crescer tendo em vista a maturação dos gastos medida pelo consumo per capita no PIB.

A demanda maior da população pobre é por produtos de saúde e vida, seguida pelo seguro do imóvel e cobertura em caso de morte acidental e invalidez, segundo o estudo da MicroInsurance Centre. Entre as quase 80 milhões de pessoas atendidas por microsseguros em todo o mundo, 6,8 milhões são pessoas em saúde, 35,3 milhões em vida, 12,6 milhões para acidentes e invalidez e 7,8 milhões com apólices de residência. O mercado potencial é cerca de 30 vezes maior para todos os produtos.

Tal projeção explica o interesse pelo microsseguro. Os pobres representam a maior parte da população nos países emergentes. Tirá-los da linha de pobreza é um sonho que poucos governos conseguem realizar de fato. E quando conseguem, querem mantê-los nesse patamar para que eles deixem se ser um custo para o Estado e passem a contribuir para a riqueza nacional. E um seguro que ajude a manter a qualidade de vida conquistada por essas pessoas é visto como um dos pilares das estratégias governamentais.
Segundo discurso do ministro das Finanças da Índia, Mr. Sri P.

Chidambaram, durante a Conferência de Microsseguros realizada em outubro, “um dos pilares do forte crescimento da economia do país está em levar ferramentas financeiras às pessoas pobres e o microsseguro é uma delas”. Na Índia, o potencial é estimado em 250 milhões, ou seja, 3% da população pobre do mundo.

No Brasil, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, colocou o seu ministério à disposição dos responsáveis por desenvolver o microsseguro. “O governo é parceiro desta idéia. Nós gostaríamos de ter sugestões de como regulamentar, como implementar, porque temos certeza que a população quer um produto como esse”, disse em evento da Fenaseg.

Para a iniciativa privada, o interesse vem pela inserção de novos consumidores no mercado de seguros, item fundamental para o crescimento do setor. Por isso, as seguradoras buscam identificar tudo que causa aflição nas pessoas para criar produtos. Não ter condições de pagar um enterro digno a um parente. Perder a casa, o emprego. Se machucar e não ter como trabalhar e manter a família. A aflição de pagar as contas do dia-a-dia. Para todas essas situação há um seguro.

Mas, para que o microsseguro seja ofertado em escala, será preciso superar várias barreiras. Entre elas o desenvolvimento de canais de venda baratos, de produtos adequados. Outras barreiras estão relacionadas à percepção das pessoas a respeito de seguro em geral. No Brasil é preciso criar uma regulamentação. “Ela não pode ser tão rígida para poder baratear o custo. Por outro lado, é preciso ter um controle rígido das companhias, pois um problema com solvência poderá deixar milhões de pessoas sem cobertura”, diz o presidente da FenaPrevi.

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 26/12/2007