Como garantir a governança do IRB Brasil Re depois da oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês)? Essa é a principal questão levantada pelos investidores presentes nas apresentações dos bancos envolvidos na venda dos papéis do maior ressegurador local do Brasil. Vários deles entrevistados pelo blog Sonho Seguro acreditam que haverá janela para o IPO e que ficará na faixa mínima de R$ 8 bilhões estimada pelos acionistas, entre eles a União com 27,44% (e uma Golden share), BB Seguros Participações (20,43%), Bradesco Seguros (20,43%), Itaú Seguros (14,94%) e o fundo Caixa Barcelona (9,85%).
Todos concordam que o IRB está preparado para fazer um IPO. Quem não está preparado é o Brasil.
“O calcanhar de aquiles do IRB é a governança”, afirmou um deles que está a frente da oferta aos fundos de private equity. “Todos têm preocupação com a governança, uma vez que o governo trocou o presidente José Cardoso por Tarcisio Godoy no início do ano e recentemente demitiu Godoy e reconduziu Cardoso ao comando. Também demitiu um dos vice-presidentes (Mário Di Croce) que vinha fazendo um trabalho elogiado por todos os acionistas e clientes no backoffice, incluindo até a tecnologia blockchain, e colocou um indicado (Airton Renato de Almeida Filho) por Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados e possível homem para assumir em caso da saída de Michel Temer da presidência da República. Tudo isso na véspera de um IPO”, comentou.
Segundo as fontes, que pediram anonimato, há vários interessados em comprar o IRB. No entanto, o governo, que ocupa diariamente as manchetes dos jornais por ter seus políticos investigados por corrupção, teme que a opinião publica questione o preço da venda. Além disso, muitos se preocupam com o run-off de perdas que pode estar mal dimensionado nos ativos e passivos do IRB, uma vez que grandes empresas resseguradas praticamente acabaram diante das consequências das investigações da Lava Jato e muitas outras sofrem com a retração prolongada da recessão da economia. Tal cenário gera menos negócios para resseguro e tornam alguns clientes alvos potenciais para registrar sinistros em alguma linha de negócio, principalmente garantia, riscos de engenharia e de responsabilidade civil.
Diante da dificuldade em precificar o IRB para uma privatização, o caminho mais adequado é que o preço seja determinado pelo mercado com o IPO. “Assim ninguém reclama, pois o IRB foi precificado pelos agentes de mercado”, comenta uma das fontes. “Não tenho dúvidas de que o IRB está pronto para ser privatizado. Há cinco anos os executivos colocaram o IRB em pé de igualdade com muitos resseguradores estrangeiros, com o benefício de conhecer o mercado brasileiro melhor do que qualquer outro”, diz um segurador.
A previsão desses entrevistados é que cerca de 20% serão colocados no IPO secundário (quem vende coloca o dinheiro no bolso), sendo a participação do Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo (FGEDUC) o alvo e também de sócios de peso como Itaú e Bradesco. Sem o comprometimento dos sócios privados, os investidores também não se comprometem, comentam. A aposta mais contundente é de que o Itaú deixaria boa parte de sua cota na emissão secundária.
Outro sócio do IRB, o Bradesco, que tem a Swiss Re, uma das maiores resseguradoras do mundo, como sócia em grandes riscos, manteria sua parte próximo do patamar da BB Seguridade. O melhor dos mundos para o governo e para o IRB, segundo as fontes, seria que a Swiss Re assumisse no pós IPO, tida entre os pares como uma das empresas com melhor governança do mundo. A Korean Re, que sonda o mercado brasileiro há tempos, também está entre as citadas como interessada no IRB pos IPO. Vale lembrar que a Mapfre tem peso na BB Seguridade e uma das resseguradoras mais importantes do mundo.
No entanto, esses argumentos ainda não convenceram os investidores, que aguardam comprometimento mais firme sobre a governança no pós IPO. Vamos aguardar para ver a precificação e apetite dos compradores. Interesses há por todos os lados, especialmente do governo, que teria uma renda extra com a venda de pelo menos R$ 4 bilhões só o pagamento de Imposto de Renda e Contribuição Social Sobre o Lucro liquido (CSLL).
O que anima os investidores é o potencial do mercado de resseguros, que tem grande espaço para crescer. Com um programa de resseguro adequado, as seguradoras poderiam ser mais agressivas na venda de produtos simples, como para as pequenas e médias empresas, que apesar da grande oferta, ainda não contratam por considerarem o preço elevado. “O resseguro pode ajudar a baratear o custo e também pode ofertar um contrato para as seguradoras liberarem o capital diante das exigências de regras de solvência “, diz um dos especialistas em resseguro.
Segundo a mais recente edição do Terra Report, que analisa o comportamento do mercado brasileiro de resseguro no primeiro trimestre de 2017, o volume de resseguro cedido pelas seguradoras brasileiras (bruto de comissão) foi de R$ 2,72 bilhões, aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2016, sendo que 68% foi colocado nas resseguradoras locais. A sinistralidade bruta das resseguradoras locais ficou em 47% (39% para o IRB e 59% para o conjunto das outras locais) contra 87% do mesmo período do ano anterior. O Combined Ratio ficou em 98% (87% para o IRB e 112% para o conjunto das outras locais), relativamente estável em comparação aos 97% apresentados em 2016 (91% para o IRB e 105% para o conjunto das outras Locais). A capacidade de retenção de risco pelo mercado local continua a crescer e comporta confortavelmente o volume de riscos atualmente retido, existindo significativo espaço para uma maior retenção de risco pelo mercado local.