“Ou vai ou racha”. Esse é a frase dos principais executivos que atuam com seguro rural para definir o que acontecerá com esse segmento, que há anos busca formas de se desenvolver. Apesar de todo o esforço para elevar as vendas, o resultado foi catastrófico. Entre 2000 e 2005, o volume de prêmios (valor pago à seguradora pelo agricultor) totalizou R$ 225 milhões e as indenizações pagas R$ 462 milhões. Um prejuízo e tanto. Nos Estados Unidos, o seguro rural movimenta US$ 4,5 bilhões em prêmios e as indenizações representam cerca de 70% desse valor.
A principal justificativa para o fracasso do setor do Brasil era a falta de um subsídio do governo para auxiliar no pagamento do prêmio. No ano passado, o governo federal prometeu R$ 20 milhões mas só R$ 2 milhões foram usados. Nesta safra, o governo disponibilizará subsídios de R$ 61 milhões para produtores do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Considerando-se uma média de subsídio de 50% do prêmio do seguro, isso significa que esse nicho poderá sair de prêmios de R$ 38 milhões em 2005 para R$ 120 milhões em 2006. Em número de contratos, o salto também será expressivo: de 25 mil para 80 mil. Além do subsídio do governo federal, os agricultores paulistas contam com subvenção de 50% dos prêmios em 25 culturas, que podem chegar a R$ 40 milhões.
“Estou muito otimista. No ano que vem o governo federal estima colocar no orçamento R$ 120 milhões em subvenção. Se isso acontecer, são R$ 240 milhões em prêmios de seguros para 2007”, disse Wady José Mourão Cury, diretor técnico da Aliança do Brasil, seguradora do Banco do Brasil em parceria com a Aliança da Bahia.
Segundo Roberto Foz, presidente da Seguradora Brasileira Rural (SBR), o ano é decisivo para as seguradoras, pois se os agricultores não usarem os R$ 61 milhões, dificilmente haverá um mercado de seguro agrícola no Brasil no futuro.
Com isso, o setor rural que era o patinho feio agora é encarado como um promissor cisne pelos acionistas. “A seguradora é indutora de tecnologia para o agricultor e ajuda o governo a fiscalizar o setor. O seguro só é vendido para quem está plantando de acordo com as técnicas corretas, dentro do zoneamento agrícola do governo, a seguradora fiscaliza o cliente”, disse Foz.
Segundo o executivo da Aliança do Brasil, a Fenaseg está trazendo técnicos do México para treinar profissionais no Brasil “Eles vão ministrar cursos nas principais escolas de agricultura do País para termos mais profissionais qualificados para regular o sinistro”.
Todo esse cenário trouxe uma revolução interna nas seguradoras, que operavam com pouca variedade de culturas e em regiões específicas, o que acabava por potencializar o risco de perdas em caso de catástrofes regionais.
A estratégia da Mapfre foi se posicionar não só em agricultura, como também em florestal e futuramente na área animal. “Isso nos ajudou a reverter o resultado negativo nesses cinco anos de atuação e a aumentarmos a capacidade de resseguro para poder atuar em outras culturas e não em só grãos e cana de açúcar”, disse Glaucio Toyama, superintendente da área rural da Mapfre.
A partir de agosto deste ano, a Mapfre, que tinha a soja como carro-chefe, fortaleceu sua operação em café, florestas e hortifrutis com a ampliação da capacidade de resseguro negociado com o IRB Brasil Re, Swiss Re e o braço ressegurador do grupo, a Mafpre Re. A expectativa inicial da Mapfre para 2006 era de crescimento de 50% sobre 2005, quando movimentou prêmios de R$ 8 milhões nas culturas subsidiadas. Com a aprovação dos subsídios, a projeção supera 100%, sem considerar os novos nichos, como florestas, café e hortifrutis.
A SBR, que tem a resseguradora Swiss Re como uma de suas acionistas, tinha previsão de faturar R$ 5 milhões no segundo semestre e agora o objetivo é de R$ 10 milhões pela demanda que a seguradora recebeu nos últimos dias, quando o subsidio foi aprovado.
A Aliança, que só opera com soja e milho, negociou capacidade de resseguro de R$ 2,4 bilhões com a Converium Re. A expectativa é ter R$ 36 milhões do subsídio federal, o que gerará prêmios de R$ 70 milhões. No ano passado a Aliança ficou fora deste segmento para reestruturar a operação. AGF e Nobre também aguardam a aprovação do governo para venderem com subsídio.
*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil