As catástrofes climáticas apresentam alta complexidade e requerem muita base atuarial. De que anda adianta ter a informação e não confeccionar modelos ajustados e compartilhá-los?, questionou René Hernande, professor da FMU/SP, durante a palestra Catástrofes Climáticas no Brasil, proferida no segundo e último dia do 2º Encontro de Resseguro do Rio Janeiro, promovido pela CNseg, Abecor-Re, Fenaber e Escola Nacional de Seguros.
Segundo ele, as catástrofes climáticas tendem a aumentar nos próximos anos. “Temos vários registros no Brasil de tempestades, inundações, variações de temperatura e de alguns tipos de incêndio. E isso tudo tende a aumentar”, comentou. Diante da tendência de maior aumento dos efeitos do fenômeno El Niño, com grande influência no Sul do Brasil, Hernande recomenda que a precificação dos produtos de seguros ocorra com mais atenção e com um acompanhamento atento dos estudos sobre mudanças climáticas, para garantir a rentabilidade ao longo do tempo nas carteiras de seguros afetadas pelas mudanças climáticas.
Segundo Hernande, as catástrofes podem ser comparadas a Aids, para a qual não há remédio e é preciso aprender a lidar e conviver com ela, diante da previsibilidade de que as mudanças climáticas continuarão a aumentar tanto em frequência como em severidade.
O segundo palestrante, Geraldo Luis Lino, diretor do movimento de solidariedade Ibero-Americano, autor do livro “A fraude do aquecimento global”, defendeu a tese de que o clima sempre oscilou e causou perdas. A diferença é que hoje as pessoas se preocupam mais com os prejuízos. “As atividades humanas não influenciam o clima em escala global. A influência humana no clima se limita às cidades e seus entornos e a microclimas”, afirmou.
Para ele, o problema é outro. “Nossa cultura é do medo. Muitas vezes não damos respostas adequadas aos nossos riscos porque desconhecemos. Algumas que já acumularam informações não querem compartilhar com medo da concorrência. Mas temos que afinar nosso diálogo, ter foco e compartilhar as informações para se criar um banco de dados capaz de mitigar riscos inerentes às mudanças climáticas e que afetam toda a sociedade”, disse.
O método científico requer uma correspondência entre hipóteses e evidências físicas observadas. Se ela não ocorrer, a hipótese precisa ser revista ou aguardar novos dados para ser confirmada. Por isso, ele critica firmemente o que chama de “alarmismo climático”.
Como sugestão, Lino lista prioridades que ainda não são tratadas com atenção no País. “O Brasil, um dos cinco maiores do mundo em população, não tem satélite meteorológico próprio. Dependemos do americano e europeu. Não é tão caro assim”, disse. Ele também citou que radares meteorológicos não são usados para Defesa Civil e sim para o fim aeronáutico. “No Rio de Janeiro, por exemplo, se o equipamento tivesse sido usado pela Defesa Civil, as pessoas teriam tido tempo de se preparar ou mitigar os riscos na tempestade da semana passada”. Segundo ele, o alerta da forte chuva só foi dado dez minutos antes.
Lino também informou que, pelos critérios mundiais, o Brasil deveria ter 700 estações meteorológicas- hoje tem menos de 500. “Em vez de nos preocuparmos com isso, estamos gastando tempo discutindo as mudanças do clima em 2050?”, questionou. Para ele, as palavras-chave para aumentar as políticas públicas são melhorar o conhecimento da dinâmica climática, aumento da resiliência das sociedades às mudanças climáticas e doses planetárias de bom senso.