Nuno David traz transformação e inovação em seguros e previdência com a nova empresa Syntropia

Co-fundador da Syntropia fala sobre as mudanças no setor, a importância da tecnologia e a necessidade de novos modelos de negócios para ampliar a proteção financeira dos brasileiros

O mercado brasileiro de previdência e seguros de vida está vivendo um momento de transformação acelerada. O avanço da tecnologia, aliado a mudanças regulatórias e a uma crescente demanda por proteção financeira, cria um cenário de grandes oportunidades – mas também de desafios inéditos. É dentro desse contexto que nasce a Syntropia, empresa fundada por Nuno David e seus sócios, com a missão de ser uma habilitadora de novos modelos de negócios no setor. Para ele, a inovação exige mais do que boas ideias; é preciso estruturar ecossistemas que permitam testar e operacionalizar soluções de forma ágil e eficiente.

Com mais de uma década de experiência no mercado de seguros, tendo atuado na liderança comercial da MAG Seguros, Nuno David observou de perto as dificuldades enfrentadas pelas grandes corporações ao tentarem inovar. Segundo ele, muitas empresas dispõem de metodologias e ferramentas para planejar novos projetos, mas poucas conseguem levá-los até a fase de execução e operação. “A Syntropia surge justamente para preencher essa lacuna, oferecendo tecnologia, conhecimento estratégico e um modelo de colaboração que visa acelerar a implementação de novos produtos e serviços”, conta em entrevista ao Sonho Seguro. Leia abaixo os principais trechos desta conversa.

Depois de anos à frente da MAG Seguros, o que motivou você a fundar a Syntropia?

Está se formando uma “tempestade perfeita” no mercado brasileiro de previdência e de seguros de vida: à inovação tecnológica que marcou fortemente a última década, se juntaram recentemente uma série de evoluções legislativas e regulatórias e uma demanda inédita e crescente da população brasileira por produtos e serviços de proteção financeira, sejam eles de previdência ou de risco de vida e invalidez. Se juntarmos à implantação da economia OPEN (Open BankingOpen InsuranceOpen Prev, Open Health, etc), a crescente demanda dos brasileiros por este tipo de produtos e a automação de processos que a IA está proporcionando, o resultado é um mercado onde o cliente fica ainda mais central e em que os distribuidores ganham uma importância inédita. São estas as novas regras do mercado e é com elas que teremos sucesso em aumentar a proteção securitária da população brasileira, que segue sendo muito baixa e cujo aumento tem que ser o maior Propósito de todos os que trabalham neste mercado. Mas, para ter sucesso neste novo cenário, vai ser necessário refazer modelos de negócio existentes e desenvolver novos. Essa enorme oportunidade foi a minha maior motivação. Discutindo informalmente, há alguns meses atrás, esta tempestade perfeita com os meus sócios na Syntropia, percebi que transformações idênticas estão acontecendo em outros mercados. Isso reforçou a motivação de todos e nos levou à criação da empresa, que nasce com o principal propósito de ser uma habilitadora de novos modelos de negócio para os seus clientes.

⁠Como a sua experiência no mercado de seguros influenciou a concepção da nova empresa?

Um dos maiores desafios da minha vida profissional trabalhando em corporações foi a dificuldade de testar novas oportunidades de negócio por falta de tempo e/ou de recursos. Há no mercado brasileiro excelentes fornecedores que oferecem muitas metodologias e ferramentas para ajudar as empresas a organizar os seus planejamentos, aproveitando todo o conhecimento dos seus colaboradores. Mas nenhum desses fornecedores é efetivamente capaz de passar dessa fase para a da execução e operação de novos modelos de negócio. A Syntropia nasce com um ecossistema próprio de ativos tecnológicos (SynXCore) com mais de 300 funcionalidades ativas (e aumentando), desde a cobrança ao faturamento, passando pela geração sistémica de conteúdos, de jornadas de SDR, emissão de apólices, gestão de pós-venda, pagamento de benefícios, etc. Este ecossistema pode se conectar total ou parcialmente com elementos dos ecossistemas dos clientes ou de terceiros, que eventualmente possam ser necessários no desenho de novas jornadas (o SynXCore já conta com mais de 1500 APIs e Agentes de IA ativos). E pode operar essas jornadas a partir de uma camada de motores de regras que configuram cada nova modelagem de negócio. Isto encurta o time-to-market e reduz significativamente o custo e a necessidade de impactar os recursos internos dos clientes. Portanto a Syntropia se propõe ser um parceiro eminentemente tático e operacional na testagem e operação desses novos modelos de negócio, sempre em estreita colaboração com as equipes dos clientes, que são quem conhece de fato o dia-a-dia e os processos da própria organização. Para além, obviamente, de também contribuir na fase mais estratégica de concepção e estruturação de um novo modelo de negócio.

O que aprendeu no setor de seguros que acredita ser essencial para qualquer mercado que deseja melhorar a gestão e a experiência do cliente?

A importância de ouvir o cliente “na fonte”, sem intérpretes ou lendo relatórios. De entender bem quem é de fato “o” ou “os” clientes. De granularizar os assuntos para poder isolar as suas variáveis e assim chegar em entendimentos simples (e não simplistas), que possam ser testados de forma rápida e eficaz. De dar mais valor ao erro do que ao sucesso imediato. De “olhar para o lado”, muito para além dos concorrentes diretos, acompanhando outros segmentos e mercados que compitam comigo em “share of pocket” e ofereçam melhores experiências para os seus clientes. Muitas vezes esses são os nossos maiores concorrentes.

A Syntropia se baseia no conceito de ordem, harmonia e organização. Como essa filosofia se traduz na prática para os negócios?

O contrário de sintropia é entropia. Que, numa definição ultra simplificada, mede o grau de desorganização de um sistema e das suas variáveis. Se não houver nenhuma intervenção, o grau de entropia tende a aumentar e o sistema vai ficando disfuncional à medida que vai ficando mais complexo, podendo estagnar ou colapsar. Nas empresas processos assim são frequentes, em que é cada vez mais difícil gerir harmoniosamente e a um custo competitivo todas as variáveis de um sistema, à medida que ele cresce. O que sintropia preconiza é que os sistemas podem nascer e evoluir para níveis de maior complexidade de uma forma harmoniosa. Para que isso aconteça é necessário colaborar muito mais com outros participantes do sistema e partilhar esforços e conhecimento de uma maneira equilibrada, assim participando e contribuindo para um ecossistema maior. Um exemplo concreto de um ecossistema sintrópico é o Airbnb: ele consolidou de forma harmoniosa e eficiente os interesses, ativos e contribuições de diferentes atores interessados num mesmo objetivo: locar imóveis residenciais. É um sistema altamente complexo, com múltiplos atores, tem oportunidades de melhoria, mas o Airbnb trouxe ordem, harmonia e organização para esse processo. O que defendemos na Syntropia é que isso é replicável em outros mercados, promovendo uma maior colaboração entre os seus atores. A nossa plataforma de ativos tecnológicos, compartilhável de forma 100% customizada e conectável a outros parceiros e fornecedores, faz parte dessa filosofia.

O que significa, na visão da empresa, a convergência para um mundo phygital?

A convergência de mundos físicos e digitais será crucial para o futuro das vendas, especialmente em mercados como o de seguros de vida. A transição para um mundo phygital envolve a integração de jornadas digitais automatizadas com o toque humano. Em um setor onde confiança e empatia são fundamentais, a presença de um agente humano será sempre necessária para garantir que o cliente entenda a importância de um produto como o seguro de vida.

⁠Como a Syntropia pretende se diferenciar no mercado em relação a outras empresas que atuam na inovação e transformação digital?

Por atuar como parceira de negócio e não apenas como uma consultoria ou fornecedora de tecnologia. Nosso compromisso vai além de sugerir ideias ou implementar ferramentas – estamos ao lado do cliente para conceber, testar e operar novos modelos de negócio, compartilhando riscos e resultados. Só encontramos o nosso verdadeiro retorno quando o cliente alcança sucesso. Esse modelo nos obriga a ser extremamente analíticos na escolha dos projetos em que atuamos, garantindo que cada iniciativa tenha alto potencial de impacto. Outro diferencial está no próprio time da Syntropia. Nossos sócios fundadores têm uma experiência sólida e complementar em setores como bens duráveis, serviços e tecnologia, além de conhecimento profundo em marketing, vendas, planejamento e operações. Essa combinação nos permite ter uma visão holística dos desafios dos clientes e acelerar processos de inovação com eficiência. Por fim, nosso foco não é apenas contribuir para evoluir ou transformar modelos de negócio, mas ajudar as empresas nossas clientes a estruturar e operar ecossistemas colaborativos que impulsionem o crescimento sustentável. Atuamos como parceiros reais nesse processo, assumindo riscos, celebrando conquistas e construindo soluções em conjunto.

⁠Quais setores e tipos de empresas podem se beneficiar das soluções da Syntropia?

Concebemos e organizámos a Syntropia para poder atuar em todos os setores que precisem de inovar seus modelos de negócio através das jornadas que oferecem aos seus prospects e clientes. Mas, naturalmente, iniciámos a nossa prospecção nos setores em que os sócios fundadores concentraram a sua experiência profissional: financeiro, agro e automotivo.

Além de tecnologia e modelos comerciais, que outros aspectos da experiência do cliente vocês pretendem transformar?

Buscamos transformar a experiência do cliente em uma jornada contínua de adaptação. O conceito de “aleatoriedade programada” permite flexibilidade dentro das jornadas para testar novos insights e abordagens criativas. Além disso, implementamos uma estratégia de feedback constante, em que cada interação com o cliente alimenta a evolução do sistema, garantindo que as experiências se ajustem em tempo real às suas necessidades.

⁠A Syntropia já tem projetos em andamento? Se sim, pode compartilhar alguns exemplos?

Atualmente, temos três propostas aprovadas e dois projetos de SyncMap em fase de elaboração. Além disso, estamos finalizando outras duas propostas e conduzindo oito processos de prospecção, abrangendo os três setores mencionados anteriormente.

⁠Há uma metodologia específica que vocês seguem para acelerar e inovar em novos modelos comerciais?

Para além de frameworks consagrados como Design Thinking, Lean Startup e metodologias de diagnóstico e vendas como ABM, Solution Selling e Challenger Sale, percebemos a necessidade de desenvolver três metodologias proprietárias para resolver desafios mais complexos de mapeamento, design e otimização de jornadas comerciais e ecossistemas colaborativos, coerentes com o nosso posicionamento. A primeira delas é o SyncMap, que funciona como base de todo o processo. Ele é essencial para o alinhamento estratégico inicial, onde mapeamos o contexto do cliente, identificamos desafios, lacunas e oportunidades de melhoria. O SyncMap permite diagnosticar o momento atual do negócio, alinhar metas e expectativas, identificar oportunidades de integração e colaboração e fornecer os insumos necessários para as próximas etapas. É como construir um alicerce sólido para que tudo o que vem depois faça sentido e esteja alinhado aos objetivos concordados com o cliente.

E o que vem a seguir?

A partir desse alinhamento inicial, entramos na fase do SynX360, que é o coração da nossa abordagem. Essa metodologia é focada no design e na gestão de jornadas transacionais e de relacionamento, combinando nossas competências em comunicação, vendas, tecnologia e design de serviços. O SynX360 permite criar jornadas personalizadas e eficientes, tanto para aquisição de novos clientes, quanto para a sua fidelização. Ele trabalha em sinergia com o SynXCore, nossa plataforma tecnológica proprietária, que simula, testa e otimiza essas jornadas em tempo real, com base em dados concretos. O resultado são experiências omnichannel coesas, alinhadas às estratégias do negócio e centradas no cliente. Por fim, estamos finalizando o desenvolvimento do SynXBGE, nossa metodologia mais recente, que criámos para enfrentar um dos maiores desafios atuais das empresas: a construção e gestão de ecossistemas de negócios colaborativos e sustentáveis. O SynXBGE ajuda as empresas a mapear e orquestrar ecossistemas complexos, conectando parceiros, clientes, fornecedores e plataformas em um ambiente coeso. Ele não só identifica os pontos de conexão e fluxos de valor, como aplica métricas para avaliar e otimizar o desempenho do ecossistema, impulsionando crescimento coletivo.

O que torna essas metodologias únicas?

É a forma como elas se integram. O SyncMap prepara o terreno, o SynX360 desenha e otimiza as jornadas e o SynXBGE expande o alcance para ecossistemas colaborativos. Tudo isso é apoiado pelo SynXCore, nossa plataforma tecnológica. Trabalhando em conjunto, estas metodologias permitem que as empresas inovem com risco e custo controlados, testando e validando novas ideias de forma rápida e segura. Essa combinação de metodologias e tecnologia nos permite ajudar nossos clientes a explorar novos modelos de negócio, validar jornadas de aquisição e relacionamento e estruturar ecossistemas que promovem crescimento sustentável. É uma abordagem que equilibra inovação e pragmatismo, sempre com foco em resultados tangíveis.

⁠Como funciona a abordagem para testar projetos com risco e custo controlados?

Começar por apresentar a Syntropia em mercados que os sócios fundadores conhecem bem, permite uma análise com maior qualidade dos projetos ou desafios que os prospects escolhem partilhar connosco. E permite também ser propositivo e provocativo com alguns desses prospects com quem temos mais intimidade. O ponto chave é colocarmos os nossos recursos em projetos que sejam inovadores, mas em que acreditamos também. No final tudo se resume a 50% de conversas francas e abertas, 20% de um BP detalhado e discutido exaustivamente com a equipe do cliente e a uns 30% de coragem compartilhada…Apesar da frase ser originariamente do artista plástico uruguaio Carlos Paez Villaró, aprendi com um chefe meu que “Sin loucura no hai grandeza”… No final teremos sempre que aceitar um percentual de risco e desconforto, isso faz parte da nossa proposição de valor.

⁠Como você enxerga o papel da Syntropia no mercado nos próximos cinco anos?

Conforme escrevi no meu primeiro post do Linkedin em que falei da Syntropia, queremos ser reconhecidos como o parceiro das noites investidas a trabalhar e das noites gastas a celebrar! Se conseguirmos isso, teremos alcançado a nossa visão de empresa. Em termos de negócio, o objetivo é termos 20 parceiros ativos e estarmos operando até 60 novos modelos de negócio nos próximos dois anos.

⁠Como surgiu o nome Syntropia e a ideia desta empresa tao inovadora?

Numa das tantas reuniões de preparação que fizemos, um dos sócios fundadores explicou o conceito de sintropia aplicado à agricultura (onde é mais comum). Foi amor à primeira vista! Todos vimos nesse conceito a síntese perfeita de como entendíamos dever ser a proposta de valor e a forma de operar da Syntropia. O “Y” foi para fazer graça…

⁠Qual a principal mensagem que você gostaria de deixar para empresas que buscam inovação, mas ainda têm receio de mudar?

Inovar carrega consigo o peso do desconhecido. O medo de errar, desperdiçar recursos ou perder o controle é natural. Mas a verdadeira transformação não nasce no conforto da previsibilidade, ela surge da coragem de explorar, testar e evoluir. Comece pequeno. Valide hipóteses. Construa modelos escaláveis e invista em soluções que possam ser amplamente automatizadas, especialmente em áreas de back-office. Mas, acima de tudo, construa redes: de parceiros, clientes e stakeholders alinhados ao mesmo Propósito. O futuro das organizações não será definido por quem tem mais recursos, mas por quem consegue construir ecossistemas colaborativos mais eficientes, onde diferentes atores contribuem para um bem maior. O diferencial competitivo virá da capacidade de fomentar harmonia, cooperação e cocriação, criando redes resilientes que crescem juntas. Redes que sejam sintrópicas. Cerque-se de parceiros sinceros e transparentes, que desafiem suas ideias e ajudem a lapidá-las. Apaixone-se por suas visões, mas submeta-as ao teste rigoroso dos “porquês”, até que você tenha confiança para investir seu tempo, talento e recursos. E, quando decidir avançar, siga o ritmo natural do crescimento: primeiro engatinhe, depois caminhe e só então corra.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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