“Estamos vivendo mais… os desafios da proteção” foi o tema de um painel que traz várias reflexões sobre como lidar com os desafios da longevidade já expostos pelos palestrantes ouvidos no período da manhã do Fórum da Fenaprevi, que busca trazer questões relevantes para o setor. O médico e especialista Alexandre Kalache fez uma palestra inicial sobre o envelhecimento saudável para iniciar os debates.
“Precisamos coordenar uma pauta emergencial sobre educação em seguros para ampliarmos nossa participação na sociedade. Trata-se de uma necessidade social para o pais e não para empresas venderem mais”, afirmou Jorge Nasser, vice-presidente da Fenaprevi e presidente da Bradesco Vida e Previdência, no inicio do painel do qual participaram também Renato Meirelles (Instituto Locomotiva), Paulo Alves (Instituto DataFolha) e Patricia Freitas (Prudential do Brasil).
Alexandre Kalache, especialista em gerontologia, apontou os “quatro capitais da longevidade” como pilares essenciais para garantir qualidade de vida na velhice. Segundo ele, é necessário cultivá-los ao longo da vida, já que cada um desempenha um papel fundamental no processo de envelhecimento.
O capital social é o primeiro deles, englobando as conexões e redes de apoio. “Amigos, família e comunidade são indispensáveis para o bem-estar emocional e para enfrentar os desafios da vida”, destaca Kalache, que reforça a importância de cultivar esses laços em todas as fases da vida.
Já o capital de saúde é construído a partir de escolhas diárias. Alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos e acompanhamento médico regular são fundamentais para prevenir doenças e garantir uma velhice saudável. “Investir na saúde desde cedo é a base de uma longevidade com qualidade”, afirma.
Outro ponto crucial é o capital de conhecimento, que trata da educação continuada e da capacidade de se adaptar às mudanças. Aprender novas habilidades e se manter mentalmente ativo são práticas que ajudam não apenas na vida profissional, mas também na saúde cognitiva durante a velhice.
Por fim, o capital financeiro é indispensável para a segurança e independência na terceira idade. Planejar o futuro, poupar e investir são ações que permitem enfrentar os desafios econômicos do envelhecimento. “É preciso construir uma base financeira sólida, que garanta conforto e autonomia no futuro”, explica o especialista.
Kalache ressalta que esses capitais não atuam de forma isolada, mas interagem e se complementam. “Usem esses quatro capitais para reforçar o seu propósito de vida e seguir seu caminho com resiliência. Envelhecer bem é o resultado de escolhas conscientes e de um preparo que começa hoje”.
Educação e poder aquisitivo estão relacionados na decisão de economizar. “Estamos perdendo a briga gente. Quando as pessoas apostam mais em apostas esportivas, as Bets, do que investem em proteção como vida e previdência, nos temos de correr para mudar este cenário com educação financeira”, afirmou Renato Meirelles (Instituto Locomotiva).
Segundo ele, é preciso pensar nas classes sociais. “As classes C, D e E acham que o longo prazo é daqui a um mês. E quando o arrimo faltar, como ela vai ficar? E como podemos mobilizar o tema? A família. Precisamos que as empresas tenham canais de comunicação para conscientizar as pessoas. Outro ponto é a discussão sobre diversidade. “R$ 78 de cada R$ 100 gastos em comunidades vem de negros, mulheres e LGBT”.
Segundo Kalache, entender a diversidade do Brasil é condição sinequanon para reduzir o gap de proteção dos brasileiros. “O setor tem de fazer um esforço maior para conscientizar que este desafio é imediato. Sobretudo as empresas do setor tem o poder de poder pressão para esta mudança. Estamos evitando aceitar que o Brasil não é mais jovem. Envelheceu. E fazer um trabalho de diversidade. Temos de incluir todos, inclusive os 60+. O desafio é que as empresas encarem o Brasil de fato como é e não fantasiado”.
Paulo Alves, do Instituto DataFolha, afirma que é preciso pensar no planejamento financeiro tem tudo a ver com os quatro pilares citados por Kalache. “Teremos resultados disso no longo prazo. Temos de enfrentar a situação que Renato comentou. É difícil fazer sobrar dinheiro, mas usam uma parte da renda de dois salários mínimos, que é o ganho da grande maioria, mas a execução é mais complicada”, citou um dos responsáveis pela pesquisa divulgada pela Fenaprevi.
Segundo ele, as pessoas gostariam de parar de trabalhar antes dos 60 anos. Mas entendem. Muitos afirmam que sabem que não vão poder parar dependendo do INSS. “Por ser uma contribuição compulsória e regrada ajuda as pessoas a pensarem no tema, mas mesmo assim há grande dificuldade em poupar diante de tantas ofertas para o gasto imediato”, citou.
Patricia Freitas, CEO da Prudential, discorreu sobre os desafios das empresas de previdência e seguro de vida para atrair as pessoas. “Estamos concorrendo com o dinheiro das bets. Dá mais prazer em jogar do que pensar e escolher um plano de previdência privada. Hoje temos a caderneta de poupança ainda como o investimento mais conhecido e mais utilizado. Temos evoluído para chegar nos consumidores, mas temos de aprimorar na educação para que eles saibam escolher os produtos. Estamos avançando, mas as pessoas ainda não estão conseguindo entender”, afirmou.
A executiva lembrou que atingir a marca de 100 milhões de usuários é um marco significativo para empresas de tecnologia, e o tempo necessário para alcançar esse número varia conforme o produto e o contexto de mercado. O Netflix alcançou 100 milhões de assinantes, aproximadamente 10 anos após o início do streaming. O iPhone, lançado em 2007, demorou quatro anos para atingir a marca de 100 milhões de iPhones vendidos. Já o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, alcançou 100 milhões de usuários em apenas 60 dias após seu lançamento, estabelecendo um recorde de adoção rápida.
“Esses exemplos ilustram como a adoção de novas tecnologias pode variar significativamente, influenciada por fatores como inovação, estratégia de mercado e contexto tecnológico. E o setor de seguros e previdência tem avançado e tem muitas oportunidades pela frente”, destacou. A comunicação é um destes desafios. “Pessoas desconhecem os produtos. As que conhecem, tem vergonha de tirar dúvidas. Por isso, uma ferramenta como AI vem ajudar a ensinar e isso vai fazer a diferença para todas as classes sociais”, acredita. Já do ponto de vista das seguradoras, a AI já é adotada.
Nasser, moderador do painel, comentou ser inóquo falar de planejamento financeiro pra quem não tem essa cultura ainda. “E esse é o nosso desafio como Fenaprevi, que pode com suas associadas de fato fazer a diferença na comunicação. Eu insisto que a questão da educação financeira deveria estar nos bancos do ensino fundamental e, a partir disso, a sim nós incluirmos o brasileiro através dos nossos produtos, dos nossos serviços”, resumiu.
Para o presidente da Bradesco Vida e Previdência, o setor de previdência está num grande momento de transformação. “Se fala muito de inteligência artificial também dentro do dia a dia dos seguros e é fundamental usarmos a AI para incluir as pessoas nessa questão de educação financeira no planejamento para o futuro”, defende.
“Portanto, acho que esse momento é um divisor de águas dentro do nosso mercado, onde de fato a gente traz a público uma discussão que não é só das entidades que fazem parte do mercado de segurador. É uma questão também de governo. A partir disso, precisamos de um posicionamento que possa fazer diferença na vida das pessoas. Afinal de contas, o que a gente sempre fala: a longevidade já chegou e nós precisamos dar uma resposta à sociedade”, finalizou.