A AXA acaba de divulgar a 11ª edição do seu tradicional relatório anual “Future Risks Report“, que apresenta o ranking das dez principais preocupações globais para 2024. O estudo é baseado em uma ampla pesquisa realizada com 3mil especialistas em 50 países e 20 mil pessoas do público geral em 15 nações.
O relatório revela que as mudanças climáticas continuam sendo a principal preocupação dos respondentes em todos os continentes. A instabilidade geopolítica, impulsionada pelas tensões no Oriente Médio e pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, subiu para o segundo lugar, enquanto os riscos cibernéticos ocupam a terceira posição.
Além disso, a inteligência artificial e os grandes volumes de dados, que entraram no ranking de riscos emergentes em 2023, permanecem na quarta posição. Outro destaque do relatório é o avanço das preocupações com novas ameaças à segurança e terrorismo, que subiram do 16º para o 8º lugar.
Entre os riscos emergentes, o relatório alerta para os perigos da desinformação, especialmente no contexto de eleições. Esse problema crescente, amplificado pelo uso de ferramentas digitais, redes sociais e inteligência artificial, representa uma séria ameaça à prevenção e gestão de riscos globais.
Nesta entrevista, Melina Cotlar, Diretora de Riscos e Sustentabilidade e membro do Comitê Executivo da AXA International Market, compartilha com o Sonho Seguro a sua visão sobre os principais destaques do relatório, o impacto dessas tendências no mercado segurador e as estratégias da AXA para enfrentar os desafios emergentes de um mundo em constante transformação.
Com a mudança climática permanecendo no topo da lista de riscos emergentes, como a AXA prevê que seguradoras e governos trabalhem juntos para mitigar os efeitos desse risco e lidar com a crescente sensação de vulnerabilidade entre o público?
Seguradoras e governos estão cada vez mais conscientes da importância de colaborarem para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e responder ao crescente sentimento de vulnerabilidade entre o público. Essa colaboração pode abranger desde o desenvolvimento de estruturas abrangentes de avaliação e gestão de riscos, até o apoio a esforços de infraestrutura sustentável e construção de resiliência. Além disso, inclui a defesa de medidas políticas para enfrentar riscos climáticos e a ampliação da conscientização e educação pública sobre esses riscos e a importância do seguro como instrumento para garantir a estabilidade financeira. Ao unirem esforços nessas áreas, seguradoras e governos têm a oportunidade de desempenhar um papel crucial na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, contribuindo para a construção de um futuro mais resiliente e sustentável para todos.
Como a crescente dependência de grandes fornecedores e o avanço das capacidades de inteligência artificial estão impactando a percepção dos riscos cibernéticos entre especialistas, e quais estratégias de proteção e mitigação a AXA recomenda para o setor?
De acordo com o nosso Relatório de Riscos Futuros 2024, vemos que a segurança cibernética é percebida como uma grande ameaça. Embora tenha caído do segundo para o terceiro lugar este ano, a preocupação com esse risco está provavelmente ligada à instabilidade geopolítica, ao lado do avanço contínuo das capacidades de inteligência artificial e da dependência crescente de grandes provedores. Hoje, ataques cibernéticos não apenas interrompem empresas, serviços públicos e indivíduos, mas também podem ser usados para alcançar objetivos políticos em um esforço de guerra informacional e impulso social, o que aumenta as ameaças geopolíticas. Essa tendência aumentou a conscientização sobre potenciais ataques cibernéticos e vazamentos de dados, bem como a possibilidade de ameaças cibernéticas mais sofisticadas e direcionadas. Abordar os crescentes riscos cibernéticos tornou-se agora uma prioridade estratégica para empresas e indivíduos. Várias estratégias de proteção e mitigação podem ser consideradas para aumentar a resiliência.
Quais?
- Medidas aprimoradas de prevenção cibernética, com ferramentas, serviços e recursos proativos para identificar, mitigar e responder,
- Consideração do seguro contra riscos cibernéticos (por exemplo, a AXA XL oferece um conjunto completo de seguros de cibersegurança para PMEs, e outras entidades da AXA estão aproveitando isso para criar novas ofertas),
- Gestão robusta de riscos de fornecedores,
- Utilização de defesa cibernética alimentada por IA.
A pesquisa indica que 77% do público em geral se sente vulnerável às mudanças climáticas em sua vida diária. Quais ações práticas e de comunicação o relatório sugere que a indústria de seguros possa adotar para abordar essas preocupações?
As mudanças climáticas têm e continuarão a ter impactos diretos e indiretos em nossas atividades como seguradora global. Nossa estratégia é não apenas nos adaptar, mas também usar nossa experiência para fornecer soluções na transição para uma economia de baixo carbono, tanto como seguradoras quanto como investidores. Destacamos alguns dados-chave em nosso Relatório de Riscos Futuros, mostrando a escala de oportunidades para que a indústria de seguros contribua na luta contra as mudanças climáticas: Sem seguros, a transição não acompanhará o aquecimento global. Segundo um estudo recente da Howden e BCG, “19 trilhões de dólares já foram comprometidos para financiar a transição climática até 2030.” O mesmo estudo estima que será necessário seguro adicional para cobrir até 10 trilhões de dólares desse investimento. Nossa indústria, portanto, deve aprender a entender melhor, analisar, precificar e cobrir novos riscos para desbloquear a transição e enfrentar o desafio do século em setores como energia e construção. Na AXA, por exemplo, coletamos quase 250 milhões de euros em prêmios relacionados a energias renováveis no ano passado. No Brasil, iremos apoiar a transição energética por meio de soluções para toda a cadeia produtiva envolvida. Por meio do AXA Verde, iremos concentrar produtos e serviços com esse foco e já estamos em andamento com um retrofit do seguro property para a construção de uma sociedade mais resiliente. Acreditamos que, ao agir agora e transitar para uma economia de baixo carbono, garantimos que o mundo de amanhã permaneça segurável.
Quais fatores específicos levaram ao aumento significativo na preocupação dos especialistas com a instabilidade geopolítica, e como a AXA avalia o potencial impacto das crises na Ucrânia e no Oriente Médio para a indústria de seguros e resseguros?
O aumento dos riscos geopolíticos contribui para um cenário global de riscos cada vez mais volátil e incerto, que a indústria de seguros precisará navegar. A instabilidade geopolítica tem uma variedade de impactos para as seguradoras, desde subscrição e sinistros até investimentos, operações, cadeias de suprimentos, segurança cibernética, sanções e reputação. Para entender melhor esse novo contexto, insights do nosso Relatório de Riscos Futuros merecem destaque: Os cientistas ainda são as figuras mais confiáveis. Quando perguntamos aos entrevistados que escolheram esse risco para identificar o aspecto que mais os preocupava, a maioria citou “ressurgimento de conflitos militares”. Foi escolhido por 52% dos especialistas e 50% do público em geral, em ambos os casos um aumento em relação aos 42% da pesquisa do ano passado. Em segundo lugar, entre o público, estava a “ameaça nuclear.” Os especialistas colocaram o “declínio do multilateralismo e ressurgimento de blocos” em segundo lugar, à frente da “disrupção das cadeias de suprimentos”. A crescente instabilidade geopolítica pode ajudar a explicar por que menos pessoas acreditam que o nível global é o meio mais eficaz de lidar com os riscos futuros – uma visão expressa por 47% dos especialistas e 48% do público em geral, abaixo dos 54% e 52% respectivamente na pesquisa do ano passado. Mesmo que abordagens globais eficazes possam ser preferíveis em teoria, elas estão se tornando mais desafiadoras na prática.
Com a complexidade crescente dos riscos interconectados, qual papel a AXA acredita que a educação e a conscientização podem desempenhar para ajudar o público e as empresas a entender e gerenciar melhor esses riscos emergentes?
Novos riscos estão surgindo todos os dias. Entender esses riscos é o primeiro passo para melhor preveni-los, mitigá-los e gerenciá-los. Mas com o aumento da complexidade e da interconectividade, entender os riscos muitas vezes traz seus próprios desafios. Engajar todos os stakeholders, desde governos, até a academia e o setor privado, é um passo importante para avançar. A AXA busca capacitar o público e as empresas a tomar decisões informadas sobre mitigação de riscos e cobertura de seguros. Isso pode incluir a oferta de informações sobre riscos emergentes, melhores práticas para gerenciamento de riscos e a importância de soluções de seguros adequadas. Focar na prevenção é um pilar-chave de nossa estratégia. Ao equipar indivíduos e empresas com o conhecimento e as ferramentas para identificar, avaliar e mitigar riscos interconectados, acreditamos que a educação e a conscientização podem contribuir para construir uma sociedade mais resiliente e promover práticas sustentáveis de gerenciamento de riscos.
Considerando que o Brasil é frequentemente afetado por eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, como o relatório da AXA avalia a exposição do país às mudanças climáticas e quais medidas específicas são recomendadas para fortalecer a resiliência da população brasileira e das seguradoras a esses riscos?
Conforme destacado no relatório, embora os impactos variem de região para região, há uma tendência clara e evidente de que fenômenos naturais estão fortemente correlacionados ao aumento geral das temperaturas. Mais diretamente, vemos isso em secas, ondas de calor ou incêndios florestais. No Brasil, o que vemos é uma certeza que a frequência desses eventos será cada vez maior. O risco existe e onde podemos atuar é no gerenciamento e prevenção de risco, mitigando o impacto. É preciso que todo o mercado, ao lado da sociedade e governo se organizem coletivamente para trabalhar nesse sentido.