Hannah Gurga, diretora-geral da Association of British Insurers (ABI), destacou durante o Fórum Brazil UK a resiliência e a adaptabilidade do setor de seguros britânico diante dos desafios atuais, com uma visão de longo prazo para enfrentar riscos climáticos e cibernéticos. “O mercado de seguros está profundamente enraizado na sociedade, e nosso propósito hoje permanece o mesmo de 300 anos atrás: onde o futuro era incerto e cheio de riscos, nós trouxemos segurança. Mas, como setor, sempre tivemos que nos adaptar. À medida que a sociedade ao nosso redor muda, nós também mudamos,” afirmou Gurga em entrevista ao Sonho Seguro.
Ela destacou o papel do setor em momentos difíceis, afirmando que o seguro está presente em situações adversas para auxiliar as pessoas a retomarem suas vidas. “Estamos presentes nas ocasiões difíceis, pagando 18 milhões de libras todos os dias em seguros de vida, cobertura para doenças graves e sinistros de bens. O setor emprega 300 mil pessoas em todo o país e desempenha um papel claro na promoção da inovação e do crescimento, permitindo que as empresas gerenciem seus riscos e se concentrem em criar novos produtos, inovar e investir,” explicou Gurga.
Um exemplo prático desse compromisso com a sustentabilidade e inovação é o parque eólico offshore em Lindsey, o maior do mundo, que foi construído com investimento de fundos de pensão e seguradoras do Reino Unido, gerando energia para abastecer a cidade de Manchester. A ABI considera esse projeto uma amostra da contribuição do setor segurador para a transição para uma economia verde.
A ABI estabeleceu, em 2021, o Climate Change Roadmap, um roteiro de mudanças climáticas para o setor de seguros do Reino Unido, que é monitorado anualmente. “Além do monitoramento, realizamos uma Conferência Climática, que este ano aconteceu em julho, para debater nosso progresso e traçar novas metas em parceria com outros países. Estamos ansiosos para trabalhar com o Brasil e explorar maneiras de lidar com riscos climáticos emergentes,” afirma a ABI, que considera o alinhamento com o país uma oportunidade de trocar conhecimento e desenvolver soluções conjuntas.
A associação destaca também o modelo britânico de resiliência contra inundações, o Flood RE, um programa desenvolvido para lidar com as consequências das mudanças climáticas e mitigar os impactos em regiões vulneráveis. “Essa é uma abordagem que pode ser usada para lidar com alguns dos efeitos da mudança climática, mas existem outros programas em outros países. Por isso, é essencial que haja um intercâmbio de ideias e que cada país aprenda com a experiência do outro,” comenta a ABI.
Em um contexto global, a ABI enfatiza a importância de parcerias público-privadas, ressaltando que este ano o G7 formalizou uma estrutura de alto nível para tal cooperação entre governos e seguradoras privadas. “Acreditamos que esse desenvolvimento é uma forma eficaz de enfrentar grandes desafios, como mudanças climáticas e riscos cibernéticos, que exigem esforços coordenados e recursos significativos. O setor de seguros tem o conhecimento técnico e a capacidade de modelagem para apoiar o enfrentamento desses riscos complexos e sistêmicos,” reforça a ABI.
Além disso, a associação ressalta a contribuição econômica do setor de seguros no Reino Unido, que representa o maior mercado de seguros e poupança de longo prazo da Europa e a quarta maior indústria do mundo. Gerenciando ativos superiores a £1,6 trilhão e atendendo a mais de 18 milhões de apólices de pensão, a ABI considera essa capacidade financeira um elemento-chave para impulsionar o crescimento e a inovação.
Com cerca de 900 seguradoras e 330 provedores de poupança de longo prazo, o setor emprega aproximadamente 300 mil pessoas no Reino Unido, gerando mais de £30 bilhões anualmente para a economia britânica. A ABI enxerga essa força econômica como essencial para assegurar resiliência às empresas e cidadãos, bem como para enfrentar os riscos de um futuro cada vez mais desafiador.
Peso no bolso dos consumidores
As apólices anuais para cobertura de edifícios e conteúdos atingiram, em média, £396 entre maio e junho, de acordo com dados publicados pela ABI. Esse valor representa um aumento de 6% em relação aos três meses anteriores e foi 19% superior ao mesmo período do ano passado.
No seguro de carros, o prêmio médio caiu 2%, para £622 no segundo trimestre deste ano, marcando a primeira queda em dois anos, conforme dados da ABI. Em resposta ao aumento significativo dos prêmios pagos pelos motoristas no Reino Unido, ministros britânicos prometeram trabalhar para conter os custos dos seguros automotivos.
“Em primeiro lugar, somos muito solidários quanto à situação em que muitas famílias se encontram devido à inflação e às pressões do custo de vida. O desafio de lidar com o custo do seguro automotivo tem sido uma prioridade da ABI há algum tempo. No outono passado, criamos um subgrupo da diretoria voltado para a questão da acessibilidade do seguro automóvel, presidido por Colm Holmes, CEO da Allianz no Reino Unido,” explicou a ABI em entrevista ao Sonho Seguro.
No início deste mês, o governo do Reino Unido realizou sua primeira reunião da força-tarefa do seguro automotivo. “Foi um prazer sermos convidados para fazer parte do painel e compartilhar a perspectiva do setor de seguros e o papel que podemos desempenhar, enfatizando que esse é um esforço coletivo. Nem uma empresa, nem um setor, nem mesmo um governo podem enfrentar sozinhos alguns dos desafios que estamos enfrentando; precisamos trabalhar juntos para ajudar a lidar com os riscos e, assim, reduzir o custo para os consumidores,” concluiu a ABI.