Discussões sobre renovações devem ir além da precificação

A indústria de resseguros não deve focar exclusivamente na precificação e precisa dar maior atenção à proposta de valor do setor durante as discussões de renovação, alertaram líderes do setor

Estamos na época mais importante para a renovação de contratos de resseguros, que determinam os contratos de seguros. É neste momento que saberemos se os seguros o tom dos reajustes em apólices desde de um simples veículo até plataformas de petróleo. Também teremos uma sinalização do apetite dos resseguradoras para riscos como cibernéticos, inclusão de cobertura para perdas ligadas a mudanças climáticas e quais as preocupações com o uso massivo de inteligência artificial.

A expectativa de muitos executivos no tradicional evento anual de resseguros em Baden-Baden, Alemanha, é ter boas negociações de contratos de resseguros. Laurent Rousseau, CEO da Guy Carpenter para EMEA e soluções globais de capital, instou a indústria a se afastar de uma visão puramente quantitativa do risco em debates que aconteceram neste domingo (20), dia da abertura do evento.

“Algo que me é muito caro é a diferença entre preço e valor. Como seguradoras, resseguradoras e corretores, focamos no preço do risco”, afirmou ele, informa a Insurer na matéria publicada sobre o painel. “Muitas vezes, tendemos a perder a visão do todo. Qual é o valor que trazemos para a sociedade? Pense em educação, saúde, identidade – em nome desses valores, diversos agentes econômicos estão dispostos a assumir algum risco a um preço econômico”.

Rousseau afirmou que “não compra a ideia” de que a incerteza nunca esteve tão alta, embora reconheça que há novos riscos, como aqueles relacionados à inteligência artificial e às perdas anuais com catástrofes naturais, que frequentemente ultrapassam US$ 100 bilhões. Painelistas que discursaram para mais de 600 executivos do setor no evento, realizado em parceria com The Insurer, concordaram que a indústria enfrenta novos e crescentes riscos, além de questões relacionadas ao aumento contínuo das perdas por catástrofes naturais e ao impacto da inflação sobre carteiras e exposições da indústria.

Andreas Berger, CEO da Swiss Re, alertou sobre o impacto crescente dos “perigos secundários” nas perdas gerais da indústria, destacando o “stress” causado pelo aumento das perdas. Ele citou, como exemplo, as recentes tempestades severas no norte da Itália. Segundo ele, enquanto as estimativas iniciais apontavam para perdas de US$ 2,2 bilhões, os números recentes divulgados pelas seguradoras indicam que a perda está mais próxima de US$ 6 bilhões “ou até mais”.

“O maior tema que precisamos abordar é a questão fundamental sobre o aumento das perdas”, afirmou. “Isso se resume basicamente à quantificação detalhada das exposições e ao entendimento dessas exposições. Nossos modelos precisam ser ajustados, e ainda trabalhamos com suposições desatualizadas em nossos custos, o que é algo que realmente precisamos resolver rapidamente, em conjunto, pois está causando estresse no sistema.”

GB Taglioni, sócio de seguros e gestão de ativos da Oliver Wyman, ressaltou que o momento atual no ciclo de resseguro apresenta uma oportunidade para reagir. “Estamos vendo mudanças na indústria, de modo que a mudança é a única constante. Neste momento, precisamos reagir para permanecer relevantes”, disse Taglioni. “A velocidade da mudança e a velocidade da inovação podem ser muito maiores.”

Parceria é uma escolha

A natureza cíclica do resseguro foi um tema central do simpósio, cujo foco este ano foi “Parcerias através de crises, choques e ciclos”. Rousseau descreveu crises e choques como “a matéria-prima” do negócio de resseguros, embora tenha alertado que o termo parcerias é muitas vezes usado em excesso para descrever relações que são, na verdade, meramente transacionais. “Na verdade, parceria é uma escolha, e é uma que se faz todos os dias”, explicou. “A maneira mais intuitiva de olhar para o ciclo de resseguro, e como os incumbentes veem seu papel no ciclo, é simplesmente observando a base de capital do resseguro.”

Rousseau destacou a forte capitalização do setor nos últimos anos, observando que uma proporção maior de capital agora provém de mercados financeiros por meio de transações com ILS, em vez de uma nova classe distinta de entrantes. Ele acrescentou que, no debate sobre parcerias ao longo do ciclo, o retorno sobre o patrimônio das resseguradoras listadas em 2023 indicou um equilíbrio.

“Após a reação rápida nas renovações de 1 de janeiro de 2023, quando as seguradoras aumentaram os pontos de retenção, reestruturaram programas e aumentaram os preços, seus retornos aumentaram tremendamente”, continuou Rousseau. “Enquanto isso, os retornos das seguradoras inevitavelmente diminuíram. Essencialmente, estamos agora nesse ponto de observar o quão rapidamente isso acontecerá para elas à medida que desaceleramos. Então, ao caminharmos juntos, isso realmente mostra que houve um equilíbrio no ciclo.”

Uma tendência relevante citada no evento tem sido a importância das parcerias. Roland Oppermann, membro do conselho da SV SparkassenVersicherung, afirmou que a indústria deve focar na construção de parcerias estratégicas e promover a colaboração para enfrentar a crescente complexidade e escala do ambiente de risco, além de estimular o crescimento. Ressaltou também a importância de seguradoras, especialmente as regionais e especializadas, formarem parcerias de longo prazo com resseguradoras e intermediários, destacando o papel crucial que ambas as partes desempenham ao possibilitar que seguradoras primárias cresçam e desenvolvam novos produtos e novos mercados.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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