Future Climate e Aon lançam seguro de créditos de carbono inédito no Brasil

A Future Climate, que incorporou recentemente a Future Carbon, acaba de anunciar o lançamento de um seguro inédito e inovador para proteger investidores e participantes do mercado de créditos de carbono. A novidade é o resultado de uma parceria da Future Climate com a corretora britânica e gigante global de seguros Aon, reconhecida por sua expertise em riscos ambientais e de sustentabilidade. O objetivo desse novo seguro é impulsionar o financiamento para a conservação de 6,5 milhões de hectares da floresta amazônica. Com isso, investidores e participantes do mercado estarão protegidos contra riscos como falhas na entrega de créditos de carbono, mudanças regulatórias inesperadas, e outras incertezas que podem impactar o valor e a validade dos créditos de carbono.

Inicialmente, o seguro vai abranger cinco projetos, todos localizados nos estados da Amazônia Legal brasileira, mas não limitados a eles. À medida que novos projetos forem sendo avaliados, o seguro também será ampliado. A soma desses cinco projetos deve girar em torno de um milhão de toneladas de crédito por ano.

“A colaboração entre a Aon e a Future Climate vem para fortalecer todo esse trabalho e reforçar o mercado voluntário de carbono 2.0 com integridade e transparência, criando produtos sofisticados que conectam os mercados de carbono, financeiro e de seguros. Isso acelera a transição para uma economia de baixo carbono, visando um mundo com emissões líquidas zero até 2050”, diz Fábio Galindo, CEO da Future Climate.

O novo seguro desempenha um papel fundamental no fortalecimento da confiança dos compradores no Mercado Voluntário de Carbono (MVC), especialmente para projetos de carbono baseados na natureza. E a expertise da Aon em gestão de riscos atrai investidores institucionais, ao esclarecer riscos e medidas de mitigação. 

A parceria entre as duas companhias surgiu da necessidade de maior segurança e previsibilidade no mercado de carbono. O novo produto chega para atender às necessidades específicas do setor. “As conversas iniciais com a Aon começaram em março do ano passado. Trabalhamos intensamente para desenvolver um produto que ofereça proteção e valor ao mercado de carbono”, conta Galindo.

O novo seguro aborda diversas preocupações do mercado, incluindo riscos associados à entrega de créditos e à volatilidade do mercado de carbono. Ao fornecer uma camada adicional de segurança, visa aumentar a confiança nas transações de créditos de carbono, promovendo a estabilidade e o crescimento do setor. Focado principalmente no comprador final, cobre o valor total da transação,ou seja, caso um projeto entregue menos créditos do que o prometido, o seguro cobre a diferença, garantindo que o comprador não sofra perdas financeiras significativas.

Na opinião de Natalia Moudrak, diretora executiva da Aon Climate Risk Advisory, sem a infraestrutura adequada e mecanismos de mitigação de riscos em vigor, é quase impossível atrair o capital de investidores institucionais na escala que o Mercado Voluntário de Carbono (MVC) requer para um progresso significativo em direção ao zero líquido. “Estamos trabalhando com a Future Climate para ajudar a moldar melhores decisões nessa área, enquanto exploramos soluções que diminuem a potencial volatilidade e aumentam a resiliência. Ao integrar considerações de risco e seguro no ciclo de desenvolvimento do projeto desde o seu início, a Future Climate está ajudando a garantir a melhor possibilidade de sucesso para iniciativas nesse setor”, afirma.

Impacto Ambiental e Econômico

Investir na natureza oferece múltiplos benefícios em termos de mitigação e resiliência climática. Aproximadamente metade das emissões humanas atuais são absorvidas por terras e oceanos, e a floresta amazônica desempenha um papel crítico ao absorver um quarto do CO2 absorvido por todas as terras do planeta. As florestas da região amazônica armazenam mais de 500 toneladas de CO2 por hectare, o que significa que mais de 3,5 bilhões de toneladas de carbono serão protegidas pelos projetos desenvolvidos para conservar essas áreas. No entanto, a natureza e, em particular, as florestas tropicais, estão em declínio global, com 420 milhões de hectares de florestas convertidos para outros usos entre 1990 e 2020.

O Papel do Brasil no Mercado de Carbono

Em 2023, o Brasil alcançou uma redução extraordinária de 50% no desmatamento na Amazônia Legal, em comparação com 2022. Apesar deste progresso, mais financiamento é necessário para proteger e manter as florestas tropicais do país. O Mercado Voluntário de Carbono é uma ferramenta crucial para atrair financiamento do setor privado para projetos de conservação e restauração da natureza. O Brasil está assumindo um papel de liderança na promoção de projetos de carbono em terras públicas, priorizando integridade, escalabilidade e qualidade.

Thiago Lang, Diretor de Industry Specialties, M&A e Soluções em ESG da Aon Brasil, destaca: “O Brasil tem muito a ganhar com o financiamento público e privado em projetos de MVC de alta qualidade. Esses projetos têm o potencial não apenas de ajudar a sequestrar carbono, mas também de gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos adicionais para as comunidades locais. O suporte de seguros será fundamental para gerar confiança de que os resultados dos projetos serão alcançados e para ajudar a abordar uma série de riscos com os quais desenvolvedores de projetos, compradores de créditos de carbono, investidores e credores possam estar preocupados”, afirma ainda Lang.

Critérios para emissão do seguro

O desenvolvimento de Soluções Baseadas na Natureza (NBS) robustas, que aderem aos mais altos padrões de qualidade e integridade, é crucial para atrair compradores globais estratégicos e investidores climáticos no Mercado Voluntário de Carbono. A Future Climate está comprometida em elevar o padrão para projetos de carbono florestal, visando estabelecer um novo parâmetro de qualidade de projetos e liderar a implementação de propostas que estejam alinhadas às expectativas em evolução do MVC 2.0. Isso inclui a implementação das melhores práticas desde o início do desenvolvimento do projeto, incluindo:

●      Certificação de classe mundial: Todos os projetos serão certificados sob o Verified Carbon Standard (VCS) e o Climate Community and Biodiversity (CCB) Standard, e aplicarão a metodologia REDD+ mais recente (VM0048).

●   Alto impacto ambiental: Todos os projetos se concentrarão na conservação de grandes áreas de florestas primárias e no direcionamento de fundos para pesquisa científica e restauração florestal.

●   Potencial elegibilidade sob o Artigo 6: O governo está alinhado ao MVC global, e a agenda do Artigo 6 está em discussão pelas autoridades brasileiras.

●   Benefícios sociais: Até 85% das receitas serão destinadas à promoção do desenvolvimento sustentável, com 50% do total sendo direcionado aos beneficiários das comunidades locais.

● Classificação independente de qualidade: A Future Climate está trabalhando com a Sylvera, uma agência de classificação de créditos de carbono, para avaliar os riscos dos projetos e desenvolver classificações pré-emissão para os projetos; e

● Gestão de riscos e seguros: Incorporar seguros em projetos do MVC reduzirá o risco para compradores e investidores; a corretora de seguros global Aon fornecerá acesso a capital de risco para ampliar a disponibilidade de seguros no mercado.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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