RIMS 2024: “O tema mudança climática preocupa o mundo todo e não só seguros” diz Guilherme Perondi

"Nossa equipe desenvolveu um manual de avaliação de preparação para catástrofes naturais que é trabalhado em conjunto com os objetivos de gestão de riscos do cliente", conta o vice-presidente da Swiss Re Corporate Solutions

A Swiss Re tem uma diretoria para apoiar gestores de riscos. O Sonho Seguro entrevistou Guilherme Perondi, vice-presidente executivo Brasil e Head de Distribuição LATAM da Swiss Re Corporate Solutions (SRCS), para contar mais sobre as tendências de riscos, já que participa da RISKSWORLD, evento promovido pela RIMS, associação americana que reúne os gestores de riscos, que acontece em San Diego, Califórnia, entre 5 e 8 de maio.

O evento é citado como o maior do mundo para o debate sobre gerenciamento de risco. Por isso, no domingo, o grupo realizou um coquetel para parceiros de negócios, com a presença do CEO mundial, Andreas Berger. No Brasil, a SRCS é sócia da Bradesco Seguros há 6 anos.

Poderia comentar sobre o que motivou a criação desta diretoria?

Há 60 anos o Grupo Swiss Re tem uma área chamada RES, do inglês Risk Engineering Services ou Serviços de Engenharia de Riscos. Essa equipe de RES tem uma dupla função de apoiar nossa subscrição na análise e classificação dos riscos que asseguramos e também apoiar clientes corporativos na avaliação e gestão dos seus próprios riscos operacionais. Para isso, contamos com uma equipe de engenheiros e técnicos em todo mundo em diferentes especialidades como riscos patrimoniais, engenharia e responsabilidades com conhecimento em vários setores como indústria pesada em geral, energia, cadeia de suprimentos, exposições catastróficas e sustentabilidade.

A motivação para o investimento nessa área é tanto para termos resultados sustentáveis ao longo do tempo, conhecendo o melhor possível os riscos que expõem nosso capital, quanto gerar valor para os clientes, compartilhando esse conhecimento com eles e apoiando sua gestão de risco.

  • Quais os benefícios que a diretoria tem efetivamente trazido aos corretores e clientes?

O trabalho de consultoria que nossos engenheiros e engenheiras fazem já criaram vários casos de sucesso junto a clientes em todo mundo, inclusive no Brasil, em que nosso corpo técnico trabalha junto com o cliente determinando exposições de risco e formas de mitigação, com frequência trabalhando à seis mãos com as equipes de consultoria de risco dos corretores corporativos.

Um outro resultado concreto são produtos de análise de dados com base em tecnologia que estamos oferecendo para clientes. O principal deles é o RDS do inglês Risk Data Services ou Serviços de Dados de Risco em que disponibilizamos nossa plataforma global digital onde temos riscos, por exemplo, exposição a catástrofes naturais como inundações, excesso ou falta de chuva, terremotos ou furacões mapeadas por coordenadas. O cliente pode adicionar outras camadas de dados próprias como, por exemplo, a localização de suas instalações – ou de seus fornecedores – ou rotas de suprimento e cruzar as informações para ter em tempo real e em formato digital suas exposições de riscos mapeadas e quantificadas. O RDS só foi possível pela combinação de tecnologia com a inteligência de dados gerada e por nossas equipes de RES ao longo dos anos.

Vale também destacar que a equipe de RES produz muito material técnico acessível livremente através de nossos sites, incluindo Guias de Preparação para eventos como inundações e vendavais que estão disponíveis em português e são bastante acessados aqui no Brasil. Vale dar uma checada em nosso site para conhecer melhor.

  • Quando foi criada e quantos profissionais tem na equipe? Quem é o líder?

A área de RES (Risk Engineering Services) é bem consolidada dentro da Swiss Re e seu conhecimento vem sendo formado desde muito tempo, praticamente desde que a companhia foi criada 160 anos atrás. O grupo de RES, como unidade independente, foi criado em 1970. Dentro da Swiss Re Corporate Solutions, a equipe é liderada globalmente por Tina Baacke desde 2021 e temos o privilégio de ter um brasileiro, o Fabio Magalhães, responsável pela operação de RES nas Américas. A equipe de RES conta com 200 profissionais em todo o mundo, sendo 56 nas Américas, e 8 no Brasil.

  • Quais as principais demandas recebidas e também sugeridas por esta diretoria de Gerenciamento de Risco? 

Há um tema comum nas demandas que é a busca por troca de conhecimentos com nossa equipe técnica. Nosso engajamento com clientes e corretores em geral é baseado em dados e expertise para suporte à gestão de riscos, com objetivo de prevenção a perdas, incluindo com uso de tecnologia para análises de grandes volumes de dados. Outro valor agregado que é solicitado com frequência são benchmarks e melhores práticas globais ou do setor de atuação da companhia, que geralmente passam a ser incorporados nos planos de gestão de riscos da empresa. O objetivo final é sempre a busca da melhoria da qualidade do risco dos clientes.

  • Como o tema “mudanças climáticas” é tratado por esta diretoria com seus parceiros e clientes? É relevante? 

As mudanças climáticas são um tema de preocupação em todos os setores e geografias atualmente. Tanto é que, dentro da Swiss Re Corporate Solutions, a área de Sustentabilidade faz parte do grupo de RES. Nossa equipe desenvolveu um manual de avaliação de preparação para catástrofes naturais que é trabalhado em conjunto com os objetivos de gestão de riscos do cliente. A partir disso, o plano de trabalho de RES é montado sobre três pilares: Identificação dos Riscos, Plano de Gestão de Riscos e Qualidade dos Riscos, que é medida através de inspeções, muitas delas presenciais, nas instalações do cliente. Com frequência, o resultado desse trabalho faz parte dos próprios Planos de Continuidade de Negócios dos clientes.

Não temos dúvida de que as mudanças climáticas continuarão ganhando relevância nas agendas estratégicas dos clientes e corretores, continuaremos investindo em tecnologia para levarmos soluções como o RDS (Risk Data Services) para o mercado como ferramentas de apoio à adaptação à essa nova realidade.

  • Qual a perspectiva do cenário com P&C em 2024, ainda com preços altos e condições restritivas? E em 2025?

A Swiss Re Corporate Solutions segue otimista com o mercado de ramos elementares, temos uma posição global relevante no segmento, seguimos investindo e gerando resultados crescentes na América Latina no Brasil. O mercado brasileiro é muito bem atendido com presença relevante de resseguradores, seguradores e corretores multinacionais e nacionais, com boa oferta de produtos, serviços e capacidades. No entanto, globalmente, o mercado vem passando por um período de ajuste estrutural e uma das consequências é a de exigências quanto à qualidade de gestão de riscos.

Inevitavelmente os compradores de seguros comerciais e corporativos precisam estar preparados para essa mudança estrutural pela qual o mercado está passando, especialmente em setores e empresas com maiores exposições de risco, históricos de sinistralidade e maior complexidade de gestão de riscos.

As exigências de boas práticas de gestão de risco, investimento contínuo em sistemas protecionais, transparência no compartilhamento de informações e disponibilidade para discussões técnicas não só sobre os riscos segurados, mas também sobre novas estruturas de transferência de riscos, vão seguir como regra nas interações entre compradores de seguro e o mercado de seguros e resseguros.

Essa nova dinâmica reforça a necessidade do corretor de seguros em atuar como um consultor de riscos qualificado para seus clientes passando por quatro importantes aspectos:

1.         Conhecimento efetivo sobre a operação e os riscos do cliente: historicamente essa sempre foi uma responsabilidade importante do corretor como consultor de riscos do seu cliente. Porém, neste novo cenário, é importante que o corretor vá além, conduzindo um trabalho qualificado de coleta e apresentação das informações, inclusive apoiando na organização de Road shows com o mercado, permitindo discussões técnicas. A preparação de pacotes adequados de informação e sua apresentação seguirá relevante, não só para conversa com seguradoras, mas também com resseguradores.

2.         Criação de vínculos entre as equipes do corretor, cliente e seguradora: indo além de ser o consultor de riscos do cliente, o corretor deve dar apoio no entendimento das exigências do mercado. O corretor precisa ajudar o cliente a entender as exigências do mercado e orientá-lo sobre as melhores escolhas de investimentos para endereçar os pontos mais críticos de risco identificados em eventuais inspeções ou discussões técnicas, otimizando o orçamento disponível para melhorias e protecionais. O apoio técnico no acompanhamento desses investimentos e reporte para as equipes de engenharia de riscos e subscrição das seguradoras passa a ser mais importante para alimentar esse “diálogo técnico” para que as equipes possam atender de maneira adequada os segurados mais diligentes na gestão de seus riscos.

3.         Realização de análise mais abrangentes: o papel do corretor como consultor qualificado também passa por análises, em conjunto com o cliente, sobre novas estruturas, eventualmente com diferentes níveis de retenção de risco pelo segurado, e sobre novos modelos de transferência de risco. Soluções alternativas como seguros paramétricos, isoladamente ou em conjunto com soluções tradicionais, e até mesmo cativas passam a ser analisadas como potenciais soluções para riscos mais complexos ou maiores.

Estamos todos vivendo em um ambiente de maior complexidade no setor de seguros, com seu papel vital na economia e na sociedade, que também passa por adaptações importantes. Vemos uma grande oportunidade, em especial de qualificação e cooperação enquanto o setor naturalmente se reequilibra.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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