O risco reputacional desencadeado com o caso Americanas, seguido de Lojas Marisa e Tok&Stok, acendeu o farol vermelho dos subscritores, profissionais que calculam o preço do seguro tendo como ponto de partida estatísticas que sinalizam o potencial do risco se concretizar ou não. Quanto mais o cliente dá informações que a probabilidade de o risco acontecer é baixa, menor o preço. Segundo especialistas, a estimativa é que há aproximadamente R$ 5 bilhões em créditos detidos pelos principais fornecedores das grandes redes varejistas e que deverão ser indenizados pelas seguradoras.
“Os grandes fornecedores das varejistas estão só agora testando de fato essa modalidade de seguro. Os valores envolvidos são bastante altos e as seguradoras precisarão fazer os pagamentos de forma célere. Do contrário, o produto não funcionará para o fim a que destina, o que pode impactar gravemente no fluxo financeiro desses fornecedores”, explica o advogado Pedro Ivo Mello, sócio do escritório Raphael Miranda Advogados.
Segundo ele, este é um momento importante para o mercado segurador porque se os fornecedores atestarem que o seguro foi pago corretamente, no médio prazo a tendência é que o produto ganhe a confiança dos fornecedores e a demanda por sua contratação aumente substancialmente.
E isso já está acontecendo, segundo o vice-presidente de riscos corporativos e sinistros da corretora e consultoria Alper, Ilan Kajan. “As seguradoras estão fazendo seus cheques para indenizar os fornecedores da Americanas, o maior case de indenizações já visto no Brasil”, ressalta o corretor. Por outro lado, acrescenta Kajan, a demanda para comprar o seguro de crédito é também a maior já vista no país. “Quem não tinha a cultura de comprar o seguro de crédito, agora percebeu a importância de ter um seguro para proteger as vendas”.
O seguro de crédito protege empresas que produzem e comercializam bens a prazo contra o risco de não pagamento por parte dos compradores, usualmente as grandes redes varejistas. Uma proteção para os credores, caso seus clientes não paguem pela transação comercial.
Para definir o valor de crédito garantido pela apólice, as seguradoras usam bancos de dados próprios e informações públicas sobre a saúde financeira da empresa compradora para autorizar o limite de crédito que está disposta a garantir em favor do fornecedor. A questão é que ainda não tinha ocorrido um caso com as proporções do recente episódio das Americanas.
Como o seguro de crédito ainda é um produto relativamente novo no Brasil, vai passar agora por um momento de teste de credibilidade e adequação dos termos da contratação à realidade das práticas comerciais do mercado varejista. Os fornecedores da Americanas comunicaram sinistros às seguradoras superiores a R$ 2,2 bilhões e os processos de regulação dos sinistros (nos quais as seguradoras analisam se há cobertura e apuram os prejuízos indenizáveis) já se iniciaram.
Mello acredita que a tendência é o seguro de crédito crescer no Brasil, com o setor varejista passando a usufruir mais dessa garantia: “Se o pagamento das indenizações fluir bem, a tendência é que haja um aumento da procura pela contratação dessas apólices. Em contrapartida, as seguradoras passarão a fazer análises mais criteriosas para subscrição dos riscos das varejistas. O mercado segurador precisará entender melhor como funciona a dinâmica desse segmento de mercado e ajustar as apólices a essa realidade, não o contrário”, conclui Mello, cujo escritório já vem atendendo a alguns fornecedores que contrataram tais apólices.