Indenizações pagas pelo setor de seguros começam a arrefecer, segundo dados da CNseg

A análise do mês de setembro mostra redução do índice de sinistralidade, com as indenizações consumindo 54% do faturamento, menor do que os percentual de 63% acumulado no ano

O volume de indenizações pagas pelas seguradoras à sociedade tem crescido num ritmo mais acelerado do que as vendas no acumulado do ano. O setor retornou à sociedade R$ 166,3 bilhões, quase 20% a mais do que em 2021, no mesmo período, revela a mais recente edição da Conjuntura CNseg, publicação da Confederação Nacional das Seguradoras. “Esse valor é significativo para o setor, tendo em vista que o o volume de indenização avança dois pontos percentuais a mais do que o volume de arrecadação do setor”, destaca o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira. Nos nove primeiros meses do ano, as seguradoras venderam R$ 265,1 bilhões, 18,1% acima do observado em 2021, segundo dados da Susep (Superintendência de Seguros Privados), consolidados pelos economistas da CNseg, sem Saúde e DPVAT).

A análise do mês de setembro mostra o retorno ao equilíbrio do índice de sinistralidade, com as indenizações consumindo 54% do faturamento, menor do que os 63% acumulados no ano. Em setembro foram mais de R$ 17 bilhões com indenizações, benefícios, resgates e sorteios, valor 4,5% superior ao de setembro do ano passado. Já o avanço das vendas chegou a 24,4% sobre o mesmo mês do ano passado, com R$ 31,8 bilhões. Segundo Oliveira, a previsão é de crescimento de vendas acima de 15% no encerramento do ano.

A CNseg lança neste mês uma abertura mais detalhada dos dados do setor. Em termos de crescimento, Oliveira destaca que houve um aumento expressivo de vendas do seguro automóvel (+ 41,6%) e do Rural (+39,5%). Acredita-se que o avanço dos números foi impulsionado pelos reajustes de preço para equilibrar as perdas crescentes dos últimos dois anos, tanto por impactos da inflação na carteira automóvel como pelos perdas geradas pelo clima no setor agrícola.

Oliveira acredita que com o Sistema de Registro de Operações (SRO), da Susep, previsto para entrar no ar em 2023, juntamente com o Open Insurance, será possível medir se há avanço na conquista de novos clientes de forma praticamente online, possibilitando uma melhor análise sobre o motivo do crescimento do faturamento do setor.

O presidente da CNseg vê o agronegócio como um segmento que tem muito a avançar no Brasil e por este motivo pautam as conversas da confederação e da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais) com o governo. “O seguro rural demostrou que é vital para a agricultura moderna. Os que tiveram perdas e receberam a indenização valorizam a proteção. Os que não tinha, perceberam o quanto é importante ter um seguro para minimizar as perdas diante das intempéries do clima”, comentou em entrevista em Santiago, Chile, onde cumpre uma agenda intensa para divulgar o mercado de seguros do Brasil e atrair a atenção do mundo. A cidade foi palco do lançamento da Fides Rio 2023, evento que acontece em setembro, organizado pela CNseg. 

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Ampliar a oferta do seguro rural para outras regiões está entre os desafios do setor, que pagou R$ 9,7 bilhões em indenizações de janeiro a setembro deste ano, para um volume de prêmios de R$ 10,5 bilhões. “Hoje o seguro rural está concentrado na região Sul e precisa chegar a outros importantes centros do agronegócio. As associadas da CNseg também buscam formas para mitigar os riscos diante da severidade do clima, mais intensa a cada ano”, comenta.  Outra pauta é discutir um novo formato para o fundo de estabilização do seguro rural diante das catástrofes, uma vez que o modelo atual não despertou o interesse das seguradoras na forma como foi concebido. “Em breve deveremos ter uma resposta do governo sobre este tema”, adiantou. 

Além de rural e automóvel, o setor avança na venda de vários outros produtos. O ramo patrimonial agora conta com aberturas por ramos, permitindo identificar tendências. Com venda de R$ 15,6 bilhões, alta de 23,3%, e indenizações de R$ 5,6 bilhões, recuou de 1,6%, é possível saber que o maior volume de vendas vem o nicho massificados, com R$ 10 bilhões, e grandes riscos, com R$ 4,9 bilhões e R$ 3,1 bilhões e R$ 2,1 bilhões, respectivamente.  

O presidente da CNseg acredita que ambos os segmentos devem ganhar força em 2023. Massificados em razão da esperada recuperação da renda da população e infraestrutura pela retomada do investimento público do governo, segundo notícias veiculadas sobre a gestão da equipe do futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O investimento público ficou por volta de R$ 20 bilhões em 2022. Para se ter uma ideia, em 2014 superou R$ 50 bilhões. O Brasil precisa de melhoras na infraestura para suportar o crescimento e por isso acreditamos que teremos mais investimentos privados e a volta das parcerias públicos privadas”. 

Oliveira chama a atenção para o acumulado até setembro de 2022. Esses produtos foram responsáveis por quase a metade de todo o crescimento nas buscas por proteção pelo setor de seguros (sem Saúde e DPVAT) em relação a 2021. “Dentro dos seguros patrimoniais um dos destaques é o seguro residencial, que ganhou adesão durante a pandemia quando boa parte dos empregadores implementaram o home-office como consequência do isolamento social, que vem mantendo sua trajetória positiva desde então”.  

O seguro residencial, em setembro de 2022, pagou R$ 112,4 milhões em indenizações, avanço de 22,9% em relação a 2021. Em nove meses, já foi pago quase R$ 1 bilhão, 39% a mais do que no mesmo período do ano passado. Em termos de demanda pelo produto, o residencial chegou ao seu pico histórico em setembro, com R$ 433,3 milhões arrecadados, uma evolução de 24,5% em relação a 2021. No acumulado nos nove primeiros meses do ano, a arrecadação já soma R$ 3,3 bilhões, resultado 16,9% superior àquele do ano passado.

O presidente da CNseg explica que o seguro residencial oferece proteção completa para a moradia do segurado, cobrindo reparo ou reconstrução da moradia caso esta tenha sido danificada ou destruída por algum evento coberto, reposição ou reparo de bens, responsabilidade civil familiar – que é o reembolso de quantias pelas quais o segurado vier a ser responsável, em casos de danos causados involuntariamente a terceiros – entre outras coberturas.

“Esse tipo de seguro oferece também serviços emergenciais com assistência 24 horas, o que inclui a disponibilização de eletricistas, encanadores e até de técnicos que fazem reparos nos mais variados eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos. Há também serviços de conveniência, a exemplo de limpeza de caixa d´água, check-up residencial, assistência veterinária para animais de estimação, reparo de bicicletas, entre outros”, afirma. 

Os dados detalhados podem ser acessados no portal da CNseg, na aba “estatísticas”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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