Fenaprevi: Os impactos e as lições da pandemia: economia, saúde e comportamento

Se preparar para acolher, ajudar e prevenir foram os conselhos trazidos por especialistas no painel “Os impactos e as lições da pandemia: economia, saúde e comportamento”, realizada no X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado em 1º. de setembro, em São Paulo, pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Participaram Thais Fonseca, professora Associada do DME UFRJ, Mauro Veras, médico consultor da Munich RE, Marcelo Neri, diretor da FGV Social e Professor da FGV, e Margareth Dalcomo, doutora em medicina e pesquisadora sênior da Fundação Oswaldo Cruz FIOCRUZ

Estudo sobre sobrevivência e mortalidade pós-pandemia 

Thais Fonseca apresentou três estudos onde ela e sua equipe buscam entender mais as estatísticas da Covid-19 para desenvolver as tábuas atuarias usadas pelo setor. Trata-se de um projeto inédito e que já traz resultados. Os dados ajudam a responder dúvidas quanto ao futuro e sobre como outras pandemias podem afetar o mercado segurador. “É um grande desafio atuar em questões tão incertas, mas buscamos modelos para que tenhamos mais segurança em ajudar as companhias a honrar compromissos com dados técnicos em um cenário cheio de incertezas.

Um dos pontos claros nas pesquisas é a diferença na letalidade da doença nos EUA para faixas etárias diferentes, vacinadas e não vacinados. “Vemos um impacto brutal quando há vacina e quando não. Não é só intuição. Está claro o quanto é mais arriscado assumir riscos com clientes que não se vacinam e quanto mais idoso, maior o risco”, comenta.

“A Covid-19 representou 25% das mortes no Brasil nos últimos dois anos, um índice bem significativo quando pensamos em várias doenças. Precisamos acompanhar de forma dinâmica a mortalidade da doença, pois não é uma variável estática e precisamos sempre atualizar. Além disso, os dados oferecidos pelo Governo no país não são tão cofiáveis, pois houve muita subnotificações de óbitos. Portanto, é necessário que o setor esteja atento para as consequências dessa e das próximas pandemias”, disse.

Visão do ressegurador

Mauro Veras trouxe dados estatísticos da pandemia do Brasil e de outros países. Segundo a OMS, entre 10% a 20% das pessoas que tiveram a doença sofrem com sequelas após se recuperarem da fase aguda da doença. “Foi uma situação desconhecida e buscamos conhecer melhor reunindo dados de diversos países”, citou. Cerca de 1,5 milhão de pessoas tiveram Covid-19 longa no Reino Unido. Na Suíça os números também impressionam. Isso traz impactos na capacidade laboral. Quanto maior a gravidade inicial da doença, maior o afastamento do trabalho.

As pesquisas são usadas para que as resseguradoras e seguradoras possam calcular o preço do seguro. Os dados nos ajudam a chegar a números que permitem fazer cálculo de morbidade e de risco de uma condição de incapacidade. “E o que vemos é que diversas coberturas de vida são afetadas”, disse. Ele afirmou que há um cenário de muitas incertezas. “Não sabemos qual a incidência da covid longa, mas já sabemos que há clara relação longa e severidade. Alguns sintomas passam com o tempo”, comentou. Entre as sequelas mais relatadas nos diversos estudos estão fadiga e alterações cognitivas, ambas gerenciáveis.

Impactos da pandemia no aspecto econômico-social 

Marcelo Neri trouxe dados alarmantes do impacto da covid na educação e, consequentemente, no mercado de trabalho. Citou uma surpreendente queda da taxa de evasão escolar durante a pandemia em todos os grupos jovens, atingindo o nível mais baixo da série em 2020, com 57,95% de 15 a 29 anos. Em 2019 era 62,2%. Em 2022, segundo ele, a curva voltou a patamares antes da pandemia. O grupo que mais sofreu foi de 5 a 9 anos, com o maior índice de retrocessão. Sem falar da efetividade do estudo remoto, com grande fatia do retrocesso de educação.

Segundo suas pesquisas, em São Paulo, 56% da população estava satisfeita com o sistema educacional antes da Covid-19. Na pandemia, apenas 41% dos paulistanos se consideram satisfeitos. “Somos um país que está envelhecendo e precisa muito dos jovens. Da educação. “Além da evasão, tem outros fenômenos. Jovens que trabalham com TI estão se retirando do mercado. Há uma migração de jovens para o exterior. Muitos aceitam trabalho remoto para outros países. E isto é uma situação nova. E que não é igual para todos. A educação para crianças e juventude é determinante para o crescimento do país”.

Neri acredita que o setor segurador pode dar grande contribuição para prevenção destes riscos e fazer a gestão do futuro. “O Brasil tem muita instabilidade, muita desigualdade, o que dificulta o crescimento. Todo esforço será válido neste desafio cultural”, finalizou.

O que esperar de outras pandemias 

Margareth Dalcomo alertou a plateia sobre a importância do mercado de seguros, previdência e vida em dar apoio à sociedade. Segundo ela, a Covid-19 longa é o maior desafio médico social e econômico em termos de afastamento das pessoas do trabalho. Vai exigir que grandes serviços públicos e privados se preparem para reabilitar as pessoas para voltarem ao ambiente de trabalho e a sua normalidade. “Vocês têm um grande poder. Atendem 30% da população em saúde suplementar, o que faz grande diferença para a saúde da sociedade&r dquo;, disse.

A médica também ressaltou a necessidade de prevenção para outras pandemias e de atendimento especial para pacientes diagnosticados com Covid-19 longa. “O Brasil será um país de idosos em 30 anos. Temos de nos preparar para pensar na linha de cuidado e prevenir e proteger as pessoas. Temos uma geração que vai nos substituir e que vai cuidar dos idosos. De nós. Precisamos dar a eles um lugar mais digno neste cenário pandêmico. Covid-19 não é a última. Muitas ainda virão. Vacinas salvam. Cuidado previne”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS