Modernizar previdência aberta e vida é prioridade para Fenaprevi

Agenda do setor inclui mudanças regulatórias para que consumidores possam comprar previdência de forma simplificada, mas com segurança jurídica

Depois de um dia de evento com discussões como a evolução do mercado de vida e previdência; os impactos e as lições da pandemia: economia, saúde e comportamento; longevidade e planejamento financeiro, entre outros, no X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, Edson Franco, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) se reune hoje com a Susep (Superintendência de Seguros Privados).

A pauta do encontro é uma da lista de desafios que o segmento tem pela frente. ” Temos uma reunião com a Susep por iniciativa do Ministério da Economia, para criar um grupo de desenvolvimento do mercado de seguros, a exemplo do mercado de capitais, visando a modernização dos planos de previdência com discussões sobre questões infra legais”. 

A evolução do mercado de vida e previdência foi retratada no primeiro painel que acontece hoje, em São Paulo. “Tenho orgulho em fazer parte de uma geração de líderes que, quando confrontados pela pandemia, honraram o propósito do nosso setor”, disse o anfitrião do evento, com cerca de 500 participantes.

Franco se refere ao pagamento de mais de R$ 7 bilhões a mais de 180 mil famílias que tinha seguro de vida e planos de previdência e foram indenizadas por perdas consequentes da Covid-19. “Pandemia é uma cláusula de exclusão dos contratos, mas as seguradoras decidiram fazer frente as indenizações num momento tão devastador para o mundo. Honramos o propósito do nosso setor que é proteger vidas. Defender o interesse dos clientes e da nossa sociedade serve de inspiração continua para a nossa história”, citou Franco na abertura do evento. 

Ele foi o mediador do painel “A evolução do mercado de vida e previdência”, que reuniu ícones como Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do grupo Bradesco, Osvaldo Nascimento, membro do conselho curador da Fundação Itaú Unibanco de Educação e Cultura, e Nilton Molina, presidente do conselho do grupo MAG. 

Molina foi o primeiro a falar, e, como sempre, arrancou risadas e aplausos da plateia. “Nem era para eu estar vivo. Quando nasci, a expectativa de vida era de 42 anos. E eu estou com mais de 80”, citou. Brincadeiras à parte, ele trouxe um tema crucial para o setor de vida e previdência: o pacto intergeracional foi quebrado. “Ou seja, nasce menos gente e os velhos não querem morrer. Isso causa um grande problema. O Brasil tem 16 milhões de pessoas com mais de 65 anos. Daqui a 30 anos, serão 60 milhões. O seguro social vai remunerar com uma renda mínima universal. Sendo assim, o setor de seguros é quem vai prover a sociedade com produtos de proteção financeira, como vida e previdência. E este é um grande desafio que depende de todos nós em criamos condições econômicas e atuariais sustentáveis”, disse. 

Trabuco sustentou o argumento, lembrando um pouco da história. “A previdência tem uma trajetória formidável. Gosto de olhar para alguns equívocos do passado, que atrasaram o crescimento do setor”, comentou. Um dos eventos citados foi a correção monetária para a previdencia solicitada em 1993 e que só foi aprovada em 1999. “Alguns governos não entenderam bem a função social que ela exerce. Operamos vida e previdência. Temos de ter muita previsibilidade”, comentou. 

O executivo, que dedicou 57 anos da sua vida ao setor de seguros, ressalta que a inflação é inimiga e dilapidadora da poupança de longo prazo. “Tivemos muitos planos econômicos. Não se pode olhar simplesmente para a taxa de juros. Os ciclos econômicos passam e precisam ser observados pelo setor de vida e previdência, de longo prazo. Um país com previdência e vida robusta tem IDH elevado com mais igualdade social. E se o pacto geracional já se passou, como citou Molina, vivemos o conflito das gerações. Quanto mais os governos gastam com os envelhecidos, mais faltará para as outras gerações”. 

Osvaldo Nascimento, que presidiu a Anapp, precedida pela atual Fenaprevi e um dos responsáveis pela criação dos planos PGBL e VGBL, citou os principais desafios do setor de previdência e vida para a nova geração de executivos. O primeiro deles, como disse Molina, se refere ao pacto intergeracional, atendendo as necessidades da sociedade que envelhece rapidamente. O segundo é uma atualização da Lei Complementar 109, que regulamenta as previdências aberta e fechada. Em terceiro, a modernização, por parte da Superintendência de Seguros Privados (Susep), no que se refere a novas tecnologias. “O consumidor compra carro pela internet, mas tem dificuldade em comprar previdência e seguros. Por isso, precisamos de uma revisão no arcabouço legal, sem perder a segurança jurídica”, enfatizou. 

Outro avanço primordial é estabilidade nas regras tributárias. “Passaremos por reformas tributárias. Se não tivermos estímulos, o setor enfrentará obstáculos. No segmento de fundos de pensão observamos avanços, mas nosso segmento aberto é preciso desagregar os ativos da empresa do ativo dos participantes e segurados”, recomendou. Completou sua lista a urgência citando a autorregulação do setor, sugerindo união de órgãos reguladores como Susep e Previc, e maior atuação entre Fenaprevi e Abrapp, a associação dos fundos fechados. 

Acrescentou a educação financeira, que segundo ele segue em primeiro plano entre as prioridades de todos. “Não só do consumidor, mas também da força de vendas”, alertou. E finalizou com a inovação. “Temos de retomar a discussão de novos produtos, como previdência ligada a saúde, e do Universal Life, ainda pouco difundido no Brasil. E, por fim, avançarmos em questões sociais, ambientais e de governança, ou ESG. É preciso investir no crescimento do país e assim deixar de ser o maior detentor da dívida publica com os ativos previdenciários na casa de R$ 1,2 trilhão”. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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