ARTIGO: a importância do ESG para o desempenho financeiro das empresas

Por Thiago Tristão, VP de Riscos Corporativos da MDS Brasil e CEO Brasil da MDS Reinsurance Solutions

Embora relativamente recém-iniciado no Brasil, o tripé ESG (em português, ASG – Ambiental, Social e Governança) foi cunhado em 2004, pelo Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial. No relatório Who Cares Wins (Quem se importa, vence), era estabelecido o objetivo de integrar práticas mais sustentáveis ao mercado de capitais. 

Neste momento, foi definido que o mercado financeiro tem um papel essencial na sustentabilidade ao incentivar e financiar boas práticas, tornando de bom gosto o olhar para estas questões tão urgentes na sociedade.  Desde então, empresas com políticas ambientais e sociais ganham maior destaque para agentes reguladores e investidores, fortalecendo suas instituições enquanto engajam causas importantes.


Impacto do ESG no resultado das companhias –
Durante a Brokerslink Conference 2022, que aconteceu no Porto, o ESG esteve em voga. A conferência, que se deu em Portugal, nos dias 25 a 27 de maio, reuniu mais de 300 líderes de todo o mundo da área de Seguros, Resseguros e Gestão de Risco e chamou a atenção para o painel “Profitable Caring”, liderado pelo CEO do Grupo Ageas Portugal, Steven Braekeveldt. Em seu discurso, o líder reiterou que “não há nada de errado em ganhar dinheiro. É tudo sobre como você ganha dinheiro. Não há nada de errado em querer ter poder. É o que você faz com esse poder que pode fazer a diferença”. E este é, de fato, um dos pensamentos que se encontram no alicerce da discussão em questão.

Segundo levantamento[1] feito pelos estudiosos Eccle, Ioannou & Serafeim (2014), desde 1990, as 90 companhias analisadas que adotaram políticas ESG performaram melhor no mercado acionário e tiveram melhores resultados financeiros, em comparação às que não estavam alinhadas com as práticas orientadas por essa tríade. Outro trabalho[2], dessa vez dos autores Shan, Fu & Zheng (2016), comprovou que empresas com maior igualdade de gênero corporativa apresentam melhores índices de produtividade no trabalho e, consequentemente, elevam seu retorno acionário. Para os estudiosos, há uma correlação entre abraçar políticas de diversidade e reter mais funcionários talentosos, elevando também a criatividade.

Para investigar a relação entre ESG e desempenho financeiro, verificando se essas performances estão ou não associadas a políticas ambientais e sociais, Friede, Busch & Bassen[3] (2015) analisaram mais de 2 mil estudos sobre o tema. A partir da investigação, constataram que 90% afirmam que “há correlação neutra ou positiva entre fatores ASG e desempenho financeiro, sendo que 63% evidenciam que existe correlação positiva […] e apenas 8% encontraram correlação negativa”. 

O papel das soluções de riscos e seguros

Neste cenário, o Relatório de Sustentabilidade 2020 da Susep demonstrou que 90% das empresas levam em consideração as concepções do ESG, mas apenas 40% delas incluem critérios de sustentabilidade na gestão de seus investimentos, processo e aceitação de riscos. Os números não surpreendem, afinal, a mobilização do universo do Risk Management em torno desse tema é, de certa forma, recente. A CNseg, inclusive, é um dos primeiros órgãos do segmento a tomar a frente e apoiar um estudo sobre riscos Ambientais, Sociais e de Governança junto aos pesquisadores do Programa de Planejamento Energético da Coppe e da Coppead da UFRJ. A pesquisa, que tem ênfase em riscos climáticos, terá seus resultados revelados por meio de um artigo científico esperado para meados do segundo trimestre de 2022.

Na vanguarda desse mindset, a CNseg tem aberto os olhos de seguradoras e corretoras para ameaças que já estavam sob sua alçada, mas, até então, eram tratadas e mitigadas de forma isolada através de seguros como Riscos Ambientais, Seguros Paramétricos, Danos e Responsabilidades, D&O, E&O, Cyber Risks e outros. Neste novo contexto, o ideal é que cada um desses conceitos seja enquadrado em um modelo macro de gestão que contemple também as questões correlatas a eles, tais como transparência e ética corporativa, bem-estar dos colaboradores, longevidade da população, proteção à biodiversidade e ao ecossistema, e muito mais. É chegada a hora de criar um banco de dados mais holístico e capaz de gerar insights ricos para a sociedade, e não apenas indicadores focados em prêmios segmentados sob administração.

Referências

[1] Estudo “The Impact of Corporate Sustainability on Organizational Processes and Performance”. Na íntegra em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1964011

2 Estudo “Corporate Sexual Equality and Firm Performance”. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2873851

3 Estudo “ESG and financial performance: Aggregated evidence from more than 2000 empirical studies”. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/287126190_ESG_and_financial_performance_Aggregated_evidence_from_more_than_2000_empirical_studies

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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