MULHERES na Icatu Seguros: “Não consigo ver o mercado de TI fechado para as mulheres”

Patricia Gargiulo, CIO da Icatu Seguros, afirma que a presença de mulheres em áreas majoritariamente masculinas, especialmente no mercado de tecnologia, vem avançando de forma positiva nos últimos anos, e é possível ver o protagonismo feminino em diversos cargos, inclusive em posições de liderança.

Ela mesma assumiu o cargo na companhia no último ano. Com 34 anos de experiência no mercado de TI, sendo 22 na Icatu, Patricia conta os desafios de comandar uma das principais áreas de uma das maiores seguradoras independentes do Brasil em seguro de vida, previdência e capitalização e sobre como é ser uma líder feminina em uma área historicamente masculina. “Não consigo ver o mercado de TI fechado para as mulheres”, afirma.

Quando você ingressou no mercado de TI, há cerca de 35 anos, os desafios eram os mesmos que os atuais para as profissionais femininas?

Não, acredito que era muito mais difícil. As pessoas nem conheciam a palavra “informática” e as oportunidades eram infinitamente menores. Várias especialidades dentro de TI nem existiam. A internet era muito restrita. Os desenvolvimentos eram em sua maioria para “mainframe”.  

Atualmente, a questão de gênero é um fator relevante na contratação de um profissional de TI ou você acredita que hoje o mercado está mais aberto para mulheres? 

Hoje, talvez pela minha jornada de 22 anos aqui na Icatu, não consigo ver o mercado de TI fechado para as mulheres. Claro, se você tiver raciocínio lógico, for estudiosa, inteligente, competente e focada. Aqui, a competência e profissionalismo sempre estiveram acima de qualquer questão de gênero.  Nossa Diretoria é composta por 50% de mulheres e dentro da TI tenho 50% dos reports diretos também para mulheres. Mulheres competentes, engenheiras, mães e profissionais altamente dedicadas.

O fato de você ser mulher te impõe quais desafios à frente de uma Diretoria que historicamente era ocupada por homens?

Sei que, por vezes, deve passar pela cabeça de algumas pessoas se uma mulher, com sua delicadeza, educação e “fala mansa” é capaz, por exemplo, de falar de geradores, ter firmeza em suas opiniões, manter o time com foco nas entregas, virar uma noite quando necessário, cuidar de um orçamento e comentar sobre economia e/ou política. Mas, a partir da oportunidade, a gente consegue se provar, e foi o que eu fiz em cada chance que tive, provei que conseguia e, consequentemente, fui muito bem acolhida por toda a Diretoria. Tento sempre ter equilíbrio emocional, me basear em dados e fatos, além de ouvir todos os lados. Pra mim, são a chave em qualquer situação.

Você tem uma larga experiência no mercado segurador, em especial na Icatu, onde ingressou no ano 2000. Quais as particularidades da TI no mercado de seguros? Os desafios e as oportunidades de desenvolvimento de carreira do profissional da área também são animadoras? 

O mercado de seguros, por sua tradição, é extremamente regulado, com processos e regras complexas, além de ser um mercado que possibilita fazer com que a criatividade na oferta de um produto seja ilimitada.  Particularmente na Icatu, onde também formatamos o produto de acordo com a necessidade de nossos clientes, precisamos ter visão de futuro, flexibilidade, escalabilidade, agilidade e robustez em nossas entregas na TI. Somos desafiados constantemente pelo negócio e vice-versa, e este cenário é extremamente estimulante.

A TI hoje é a carreira do momento, para homens e mulheres.  Fora a diversidade de especializações que você pode seguir como desenvolvedor de front e/ou backend, analista de sistemas, arquiteto de soluções, arquiteto de integração, arquiteto de software, engenheiro de software, analista de infraestrutura de rede, de servidores, de telecom, analista de segurança da informação, analista de dados, analista de banco de dados, agile, enfim, são muitas as oportunidades para se dedicar, crescer e especializar.  O mundo hoje não vive sem tecnologia. A riqueza desta profissão é que ela está presente em tudo.  Você tem uma amplitude de absorção de conhecimentos de negócio ilimitado.  Seja no agro, médico, finanças ou varejo.  Hoje o estagiário escolhe onde quer trabalhar.  É claro que fazer parte de uma empresa que possui no board todo o apoio e investimento para tecnologia, além de fazer parte do GPTW (a Icatu foi eleita por sete vezes consecutivas como uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil), é um diferencial ao longo da carreira. A responsabilidade é grande quando se tem o investimento necessário para a atualização tecnológica e crescimento da empresa.

Em seu currículo, destaca habilidades como a inteligência emocional. De que forma esta habilidade favorece a atuação em uma área considerada “mais dura/fria”?

A área de tecnologia da informação, por participar de praticamente todos os projetos, sejam eles legais, estratégicos, de negócio ou técnicos, precisa sempre estar aberta para ouvir com atenção todas as demandas, opiniões e expectativas, além de ponderar o que é ou não possível entregar no prazo desejado. É uma área movida à pressão pela entrega e que precisa manter a qualidade.  Sempre brinco com aquele pedido de “Vai fritando o pastel que eu ainda vou decidir o recheio”.    Quanto mais pressão, mais é preciso ter a cabeça no lugar, focar no que é prioritário, negociar o escopo, datas de entrega, priorizar os testes e dar o melhor de si.  Da mesma forma que é uma área extremamente desafiadora e estimulante, se você pensa em ser um profissional de TI, por mais brilhante que você seja ou por mais entrega que você faça, se alguma coisa der errado, sempre a culpa será de sistemas. Mesmo uma demanda ou regra que nunca foi solicitada, se o produto não for lançado porque não estava desenvolvido, a culpa é da TI. E isso é uma grande responsabilidade.

A verdade é que a TI tornou-se muito complexa e, para os usuários comuns, é apenas desenvolver uma tela. Performance, rastreabilidade, monitoração, dimensionamento da infra e definição da arquitetura e integrações não aparecem, são a parte de baixo do iceberg.

Por isso, a inteligência emocional nos ajuda a ponderar todos os fatos, conversar sem julgar, buscar sempre a melhor solução para a empresa, além de sempre colocar na balança para termos a melhor entrega, com qualidade, dentro do tempo e custos estipulados.  Afinal, se você se desesperar, quem entregará por você?

Como você recebeu a notícia de que seria promovida à Diretoria de TI na Icatu? 

Fiquei muito feliz. Vinte e dois anos em uma empresa é uma vida.  Sempre busquei a melhor solução pensando na companhia e tenho muito orgulho de onde trabalho. Os valores, a ética e transparência da empresa, o cuidado com seus funcionários e clientes sempre foram fatores que fizeram eu me apaixonar cada dia mais pelo que faço e por onde estou. Não posso deixar de agradecer toda minha equipe, que sempre me apoiou e confiou no meu direcionamento. Sem eles eu não teria alcançado esta posição.

Hoje você lidera uma equipe de 400 pessoas. Como é sua rotina de trabalho? E quais são os principais desafios de ser uma líder feminina nesta área?

Minha rotina começa cedo. Acordo geralmente às 5 horas para dar tempo de me arrumar para o trabalho, tomar meu café e deixar minha filha às 7 horas na escola. Chego no trabalho por volta das 8h30. Minha agenda é desafiadora pelo fato da TI fazer cross em praticamente todas as frentes da companhia, então participo de vários comitês, projetos e reuniões diárias, tanto com minha equipe direta quanto fornecedores. Consigo, geralmente, fazer exercícios apenas duas vezes na semana, à noite.  E como todo CIO, meu celular é 7×24.  Leio meus e-mails, mensagens e chats ao longo do dia e também um pouco à noite. Estou e tenho que estar sempre ligada no que está acontecendo. Os principais desafios de ser uma líder mulher nesta área é a dedicação que precisamos dar, tanto para a equipe e empresa, quanto para a filha, marido, casa e, claro, a dedicação para mim mesma.  O tempo é o maior desafio.  É difícil desacelerar.

Se pudesse dar um conselho para as mulheres que pretendem ingressar no mercado de TI, o que diria a elas?

Nunca desistam do seu objetivo! Estudem muito e conquistem seu espaço um dia de cada vez. As oportunidades existem e precisamos acreditar que somos capazes para seguir em frente. Cada dificuldade nos torna mais fortes e um dia tudo ainda vai parecer pequeno porque as conquistas te farão enorme.

Resiliência, dedicação, escuta ativa, humildade, segurança, buscar sempre soluções, raciocínio lógico e um bom café ajudam bastante a chegar lá.  Além de sempre ter um propósito claro e um ambiente harmônico, que te inspire a chegar lá. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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