Valor: Brasileiro desconfia de compartilhamento

Pesquisa da Bain&Company mostra que quase 60% relutam em compartilhar seus dados no futuro sistema

Fonte: Valor

Ainda que os ganhos esperados com o “open insurance” venham sendo discutidos em reportagens e eventos, as pessoas físicas no Brasil permanecem alheias ao processo, segundo sugere uma pesquisa feita pela Bain & Company. Os resultados mostram que mais da metade dos entrevistados – ou 59% – ainda resiste a compartilhar seus dados, informa reportagem de Sérgio Tauhata, no Valor Econômico.

O estudo foi feito entre 21 de agosto e 10 de setembro, com aproximadamente 3,5 mil respondentes de todo o país. De acordo com o levantamento, 34% acham o compartilhamento de informações no open insurance um processo inseguro. Outros 33% revelam receio de que, se autorizar o acesso aos seus dados, poderão estar expostos a ligações indevidas de telemarketing.

Entre os que estão dispostos a compartilhar dados no open insurance, grupo que representa uma fatia de 41% dos entrevistados, a reputação da empresa e a transparência sobre como as informações serão utilizadas são os critérios mais importantes para que a permissão seja concedida. De acordo com a pesquisa, 59% apontam a reputação da companhia como principal fator, enquanto 57% citam a transparência sobre como utilizarão os dados. A qualidade do atendimento aos clientes é indicada por 43% do grupo. Um quarto fator relevante são os benefícios oferecidos pelas marcas, considerados decisivos por 38%.

Segundo a sócia da Bain & Company Luiza Mattos, apenas ter um relacionamento de longo prazo com a seguradora não é suficiente para convencer o consumidor a abrir os seus dados. “A pesquisa mostrou que apenas 22% dos respondentes consideram esse um critério relevante, o que revela que as companhias precisam repensar o tratamento com seus clientes”, diz.

Esse cenário de insegurança dos clientes, porém, não é exclusividade do mercado se seguros. O open banking enfrenta o mesmo desafio. A evolução do sistema sugere que, quanto mais consolidados os serviços ficarem, mais confiança as pessoas depositarão no ambiente.

No primeiro trimestre de 2021, menos de 30% dos brasileiros tinham interesse em compartilhar seus dados no open banking, segundo a Bain. Com fortes investimentos em comunicação promovidos pelo setor sobre segurança, transparência no uso de dados e benefícios ao cliente, esse índice saltou para 44% no terceiro trimestre, aponta a consultoria.

O open banking está na fase dois de implantação, em que já começa a haver compartilhamento de dados entre os participantes. No entanto, isso ainda acontece de forma incipiente.

A expectativa da sócia da Bain é que novos entrantes mais calcados em tecnologia e “que não necessariamente estejam ligados à prestação de serviços de seguros” podem ganhar espaço com o open insurance. “A gente já vê, por exemplo, as fintechs acelerando muito no mundo de serviços financeiros e acreditamos que esse mesmo movimento vai acelerar [no setor de seguros] e promover formas de avançadas de análise de dados.”

Para a executiva, benefícios pode virar um “diferencial maior” na indústria. O levantamento revela que 60% dos entrevistados querem ter vantagens em programa de recompensas; 58% ter condições melhores de preço e cobertura; e 50% esperam receber ofertas de produtos mais personalizadas.

“O open insurance coloca o cliente no centro de tudo”, enfatiza o CEO da insurtech 88i, Fernando Moreira. “Mas grande parte do trabalho será, além de ouvir sobre suas necessidades, ajudá-lo a entender o tipo de proteção que precisa e deveria estar buscando.”

A relação entre prêmios de seguros sobre o PIB no Brasil representa a metade da média mundial. Enquanto no país a taxa se situa em 3,2%, globalmente esse indicador está na casa dos 7%. “O open insurance é uma oportunidade de aumentar essa fatia, porque tem mais de 120 milhões de brasileiros transitando nos vários ecossistemas digitais”, afirma. “O ambiente pode criar um ‘oceano azul’, ou seja, um novo mercado segurador e dobrar o tamanho da indústria em relação ao PIB.”

Uma das vantagens do novo ambiente é a viabilização da portabilidade de apólices. “Hoje é praticamente inviável a portabilidade de seguros, mas no futuro próximo isso vai se tornar realidade”, diz o CEO e co-fundador da insurtech Pier, Igor Mascarenhas. “Essa possibilidade de mudar de seguradora com facilidade vai levar as companhias a ter de entregar uma experiência superior aos clientes.”

Além de produtos inéditos e incentivo à portabilidade, novos canais tendem a surgir no mercado. Moreira, da 88i, cita, como exemplo, a própria experiência da startup digital, que faz “parcerias estratégicas com fintechs, empresas de e-commerce, de delivery e mobilidade para ajudar essas empresas a entregar soluções de proteção aos membros dos seus ecossistemas”.

Isso significa que a implementação do open insurance pode deflagrar uma corrida de transformação digital entre os incumbentes. Os vencedores poderão manter o status e até ampliar o mercado. Os que não se adaptarem poderão perder relevância.

Um estudo da Accenture, porém, revela que preparo da indústria tradicional para a nova realidade ainda é baixo. Segundo o levantamento, hoje, apenas uma em cada dez seguradoras alcançou um grau que a consultoria define como “operações prontas para o futuro”.

Do total, 57% das seguradoras relatam ter atingido um estado “preditivo” de maturidade operacional, onde já utilizam ciência de dados avançada e analytics. Mas, diferentemente das organizações que se dizem “prontas para o futuro”, ainda não têm processos digitalizados e transformados de ponta a ponta, com uso de inteligência artificial em larga escala e uma base tecnológica apoiada em estruturas como nuvem e blockchain.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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