Hoje foi o último dia legal para divulgação de anúncios de seguradoras. Data em que os jornais ficam gordos, pesados. Aliás, se depender das seguradoras, essa é a única data do ano de gasto com balanços. Antes, elas também anunciavam em agosto o resultado do primeiro semestre. Agora não mais. Ou melhor. Em 2011 foi assim. Tudo pode mudar de novo. Ainda mais num momento de tantas inovações no Brasil. Dilma mudou tantos ministros, que mudaram tantos assessores, que por sua vez mexeram em tudo. Sobrou até para a Casa da Moeda e para Susep. Um complexo e grande jogo.
Bem, mas eu estou aqui para falar do preto no branco. Dos balanços publicados hoje no Valor Econômico. Entre todos eles, os da SulAmérica, da Caixa Seguros e do grupo segurador Banco do Brasil e Mapfre dão gosto de ler. Afinal, seguro serve para faciltar a vida das pessoas. Letras grandes, que nem exigem óculos. Informações que vão além do tradicional. “110 mil sonhos da casa própria realizados graças ao nosso consórcio”, informa a Caixa. “700 mil projetos depositados na nossa previdência e 100 mil apólices ativos do seguro amparo”, acrescenta.
Na SulAmérica, lucro de R$ 445 milhões em 2011, ativos totais de R$ 13,4 bilhões e receita de prêmios de R$ 9,4 bilhões. Em 2011, a SulAmérica aprimorou produtos e serviços, ampliou canais de distribuição e desenvolveu processos inovadores. Foi, pelo segundo ano consecutivo, a única seguradora do ISE, da BM&F, e ganhou o prêmio de melhor seguradora para o acionista da Revista Capital Aberto. Dois reconhecimentos do “compromisso de assegurar proteção financeira a suas clientes em uma relação única de agilidade, confiança e transparência. Afinal, se aborrecer pra quê?”, destaca na primeira página do caderno de 11 páginas publicados no Valor.
O grupo segurador BB Mapfre, com 27 páginas, vem com força no primeiro ano de atuação. “O ano em que o mundo descobriu o Brasil também foi o ano em que o Brasil ganhou um dos maiores grupos seguradores do mundo”. Isso mesmo. Do mundo, diz o texto da página E25. Prêmios, que podemos entender como faturamento, de R$ 9,6 bilhões em 2011.
Só para contextualizar, a Allianz, maior seguradora do mundo, obteve receitas de 103 bilhões de euros. Com certeza a BB Mapfre começou como uma das principais do Brasil e em 2012 pode ser a maior em vários quesitos. Mas do mundo, mesmo com toda essa crise, ainda falta percorrer um longo caminho. Inclusive porque a Mapfre é espanhola, pais que vive uma dura crise, com um dos mais elevados índices de desemprego. Para o primeiro ano — momento em que as atenções se voltaram para a integração das duas operações, os acionistas da Mapfre envoltos com troca de CEO mundial e crise na Europa e os do Banco do Brasil com briga pública por cargos –, os resultados das operações de seguros foram relevantes (números no post abaixo).
A Santander Seguros, vendida pelo grupo espanhol para a Zurich, operação aprovada pela Susep em outubro de 2011, apresentou lucro liquido de R$ 406 milhões para um faturamento em prêmios de R$ 2,2 bilhões. Apesar da receita de prêmios ter aumentado em mais de R$ 700 milhões, o lucro recuou em R$ 85 milhões. A partir deste ano e pelos próximos 25, o Santander passa apenas e receber comissões por disponibilizar a rede de agencias para venda de seguros para a Zurich, exceto automóveis, carteira fora do acordo.
Já os balanços de seguradoras independentes e estrangeiras mostram que a globalização da indústria de seguros está apenas começando. Muita seguradora nova e muitas que ainda não conseguiram acordos. Executivos importados de países vizinhos por falta de executivos locais ou apenas para manter o controle da operação em um momento de tanto deslumbramento com o país do futuro que passou a figurar como o país da salvação dos lucros comprimidos por uma grave crise internacional.
O balanço da Argo, que realizará na próxima semana um coquetel com a presença do CEO mundial para inaugurar a operação brasileira comandada por Pedro Purm, sequer uma lupa dá jeito. Acredito que tenha sido a falta do que dizer e a economia com o valor do anúncio que fez a letra ficar tão miúda. Mas ta perdoada, pois não tinha muito para informar, uma vez que a operação começa de verdade em 2012.
A Allianz Seguros apresentou lucro liquido de R$ 149 milhões, 13,4% acima do resultado de 2010. Um resultado que levou a subsidiária brasileira, conduzida por Max Thiermann nos últimos nove anos, a brilhar para os acionistas do maior grupo segurador do mundo. “Os bons resultados são consequência das ações adotadas para intensificar nossa participação no mercado em setores estratégicos para a companhia no segmento de massificados, com destaque para a carteira de automóvel, ao mesmo tempo em que participamos das oportunidades que o país está oferecendo para os seguros de grandes riscos, como as obras de infraestrutura”, afirma Max Thiermann, presidente da Allianz Seguros, em nota.
“No caso da seguradora de saúde, como atuamos apenas no ramo empresarial, a alta no emprego formal e a oferta do nosso produto em regiões onde ainda não atuávamos foram as principais responsáveis pelo crescimento”, conclui Thiermann, que neste ano passa para a presidência do conselho de Administração, sendo sucedido por Edward Lange, que aguarda sua documentação para ser oficilamente apresentado ao mercado. Os prêmios totalizaram R$ 2,6 bilhões, 22% maiores do que o registrado no ano anterior. O resultado operacional avançou 10,5%, mesmo com a acirrada concorrência vivida pelo setor em 2011.
Assim como Edward Lange, que deixou a operação da Allianz na Argentina para comandar a subsidiária brasileira, a americana Liberty Mutual designou o executivo da subsidiária chilena, Pablo Barahona, para comandar a operação no Brasil. Ele também aguarda o trâmite burocrático da documentação para assumir o posto ocupado por Luis Maurette por dez anos, findos em setembro do ano passado. Em 2011, a seguradora oficial da Copa 2014 apresentou prejuízo de R$ 30 milhões, segundo balanço publicado na página E 33 do Valor. No ano anterior, o grupo havia lucrado R$ 16 milhões. O volume de vendas chegou a R$ 1,6 bilhão, sendo seguro de carro responsável por 79%. Segundo a nota, o grupo chegou a marca de 960.100 veículos segurados.
A Chubb Seguros registrou lucro líquido de R$32,2 milhões, ultrapassando a marca de R$1 bilhão em ativos totais. O patrimônio líquido ficou em R$ 362,9 milhões de reais, representando um aumento de cerca de 8% em relação a 2010. “Este resultado é consequência de um crescimento de 11,7% nos prêmios emitidos somado a uma forte disciplina de subscrição e foco na administração de otimização dos processos”, informa Acacio Queiroz, presidente & CEO da companhia, em nota. O índice combinado chegou a 85% e o índice combinado ampliado, que considera receitas financeiras, ficou em 79%. “Esses números refletem a estratégia da seguradora nesses últimos anos de manter uma forte análise de riscos e controle de despesas, com oferta de produtos e serviços diferenciados e exclusivos, o que vem permitindo a conquista de uma carteira cada vez mais rentável e diversificada”.
A holding JMalucell, que agora conta com quatro empresas, duas seguradoras, uma resseguradora e uma prestadora de serviços de gerenciamento de riscos, encerrou o ano com lucro líquido ajustado de R$ 83,2 milhões, ante R$ 55,2 milhões em 2010, evolução de 50,7%. O valor significou 51,2% do lucro obtido pelo Paraná Banco, que reduziu de 100% para 56,5% a sua participação nas empresas de seguros e resseguros a partir de junho de 2011, quando recebeu um valor significativo do novo sócio, a seguradora americana Travelers. O aporte fez o saldo da reserva de seguros saltar de R$ 431 milhões para R$ 1,034 bilhão.
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O grupo francês BNP Paribas tem duas seguradoras. A Cardif Vida e Previdência apresentou alta de 58% no volume de prêmios, para R$ 609 milhões. O lucro liquido passou de R$ 28 milhões para R$ 33 milhões no período analisado. Já a Cardif Seguros e Garantia apresentou faturamento de R$ 156 milhões para um lucro de R$ 3,9 milhões.
A britânica RSA saiu de um lucro de R$ 14 milhões em 2010 para um prejuízo de R$ 862 mil em 2011. Os prêmios emitidos avançaram de R$ 382 milhões para R$ 477 milhões. A Crêdito y Caucion, do grupo Atradius, obteve prêmios de R$ 19 milhões e lucro de R$ 337 mil com a seguradora de crêdito e garantia. A seguradora de crédito à exportação emitiu apenas R$ 201 mil e lucrou 238 mil.
A Icatu Seguros fechou o ano passado com lucro de R$ 103 milhões, alta de 30% sobre 2010. O faturamento total bateu R$ 2,07 bilhões, 18% a mais que um ano antes. A empresa tem seis milhões de clientes. Totalizou R$ 8,8 bi em ativos administrados. A expansão é resultado da consolidação de canais de vendas de produtos e da maior proximidade de corretores, informa nota.
A Fator Seguradora, que registrou baixa de boa parte da equipe, divulgou receita de prêmios de R$ 201 milhões e lucro de R$ 17,4 milhões. Segundo informou o Valor, em reportagem no dia 15 de fevereiro, André Gregori deixou a presidência da Fator Seguradora com mais sete profissionais da casa rumo ao Pactual.
As resseguradoras apresentam uma curiosidade. As três que divulgaram balanço no Valor obtiveram o mesmo valor de lucro, apesar de faturamentos bem diferentes. A Munich Re, maior resseguradora do mundo, que atua no Brasil como um ressegurador local, apresentou prêmios de R$ 500 milhões e lucro de R$ 12 milhões. A Mapfre Re apresentou prêmios de R$ 152 milhões e lucro de R$ 13 milhões. Já a XL Re registrou prêmios emitidos de R$ 68 milhões e lucro de R$ 12 milhões. A ACE se diferenciou. Obteve prêmios de R$ 169 milhões e lucro de apenas R$ 1,9 milhão.