por Eduarda Tenes, diretora Executiva de Placement da Marsh Brasil
Para aqueles que iniciaram suas carreiras no mercado de seguros há 10 anos, talvez estejamos vivendo um momento bem particular. Naquele período, o mercado refletia uma tendência “soft” e com muitos players disponíveis, além de capacidade para colocação do risco com opções.
Nos dois últimos anos, no entanto, houve uma mudança radical no cenário. Sentimos, primeiramente, o mercado internacional mudar seu posicionamento, com reduções de capacidades, players deixando de operar em linhas não rentáveis, e o mercado mostrando cada vez mais sua tendência de endurecimento de termos e condições.
Ainda nesse cenário de transformação, mesmo que temporária e associada a prejuízos, tivemos o início da pandemia do coronavírus, que desde o primeiro trimestre de 2020 tem sido de extremo desafio para a saúde, economia e sociedade como um todo.
A situação de crise trouxe impactos consideráveis à estrutura da sociedade e transformou a maneira de fazer negócios. As empresas precisaram mudar suas rotinas de trabalho, adaptando-se da noite para o dia para a modalidade home office. Muitas não tiveram escolha senão realizar demissões pontuais e reduzir significativamente seu quadro de colaboradores. O mercado foi obrigado a lidar com a falta de matérias-primas decorridas dos extensos períodos de lockdown, paralelamente a questões regulatórias em revisão.
Vimos os mercados internacionais recebendo reclamações de prejuízos relevantes relacionados a perdas financeiras por suas paralisações e as apólices emitidas naqueles territórios sem restrições claras para esse tipo de perda, até porque esse não era um cenário previsto nas análises e subscrição dos riscos, o que resultou numa disputa importante.
Por outro lado, aqui no Brasil acompanhamos uma tendência em outra rota. Riscos para os quais não temos capacidade de colocação não se mostraram tão frequentes, e em algumas atividades temos cenários de renovações com agravações mínimas entre 10% e 20%. Já para riscos complexos, com alta sinistralidade e dependência de capacidade internacional, o cenário se complica. Os riscos financeiros, por exemplo, foram severamente impactados no aumento de preços e ainda continuam na mesma tendência.
Neste momento, passamos pela implementação da Resolução 407 da Susep (Superintendência de Seguros Privados), que que tira amarras dos contratos de seguros com garantias acima de R$ 15 milhões. De modo geral, a nova regulamentação proporciona aos seguradores maior liberdade em termos de clausulado, e, portanto, um novo desafio se impõe: o mercado precisa estar preparado para entregar diferenciais relevantes aos clientes, sem deixar de considerar que as seguradoras estabelecidas no Brasil têm contratos de resseguros para seus próprios contratos e, consequentemente, a liberdade total é praticamente impossível.
Cabe aos corretores acharem sempre o melhor caminho, de forma a entregar a solução adequada e factível aos seus clientes.