A série “O que esperar de 2021”, visa trazer um pouco de luz sobre as incertezas do próximo ano. Nesta edição, Jorge Sant´Anna, CEO da BMG Seguros, fala um pouco sobre suas expectativas. Leia abaixo:
Como descreve o ano de 2020?
O ano de 2020 tem sido um ano onde a realidade se impõe. Uma crise sanitária sem precedentes na nossa geração, trouxe como consequência não só a desestruturação política e econômica de grande proporção para o Brasil, mas também a aceleração da tendência de transformação digital, que por si só coloca em risco a maneira tradicional com que conduzimos os nossos negócios. Os choques para o mercado de seguros são importantes e deverão ter repercussão nos próximos anos. Alguns exemplos:
Efeitos sobre o segmento de Seguro Garantia – Empresas Grandes e Médias:
- PGFN entra em desaceleração a partir de março/20, reduzindo expressivamente novas execuções fiscais;
- Intensa deterioração no crédito corporativo a partir de abril/20 em segmentos importantes (Viagem e Turismo; Aviação; Varejo e etc.), reduzindo oportunidade de receita;
- Restrições do Governo Federal – Ministério da Economia, à substituição de Depósitos Judiciais;
- Projetos de Infraestrutura em “hold”, em todo País;
Muito embora o Seguro Garantia ainda apresente crescimento em 2020 (Gráfico abaixo), tais efeitos concentraram ainda mais o setor na modalidade de Seguro Garantia Judicial e mais especificamente em torno de alguns tomadores específicos. Houve também uma nítida redução na rentabilidade das Seguradoras que operam no setor, associada a um maior índice de sinistralidade, especificamente no segmento SME.
Importante também mencionar, uma redução progressiva no apetite de risco por parte dos resseguradores em relação ao mercado Brasileiro, concentrando sua capacidade em players com excelência na avaliação de crédito.
Efeitos sobre o segmento de SME:
- Intensa deterioração no segmento SME, especialmente no 2o semestre, limitando a incursão neste segmento, tanto com Seguro Garantia como P&C. Penetração atual em P&C menor que 20%, podendo chegar à menos de 10% após a Pandemia;
- PRONAMPE, não atingiu os objetivos de suporte às SME: R$ 12bn disponibilizado pelo Governo Federal (agosto/20):
- Número de SME que tentaram acessar o crédito: 6,3 milhões
- Número de SME que conseguiram crédito: 1 milhão
- Segundo ANR mais do que 50 mil restaurantes fecharam as portas de março a agostono estado de SP e a expectativa é que ao todo 200.000 deverão desaparecer em todoPaís;
- De acordo com IBGE, 716 mil SME deverão fechar as portas em 2020.
Como consequência, houve uma restrição imediata de crédito aos Setores / Empresas de maior risco, para Garantia Judicial e Seguro Garantia Tradicional, bem como uma maior seletividade para os produtos de P&C. Adiciona-se a isto a alta inadimplência nos produtos de P&C SME, como consequência da crise econômica generalizada.
Qual o impacto da pandemia na empresa?
Em 2020 nossa Empresa persegui uma abordagem conservadora na aprovação de crédito, privilegiando a saúde de nosso P&L. Fechamos com o melhor resultado líquido da nossa breve história e com um ROE próximo a 40%. Operamos com tomadores selecionados e adiamos de certa forma a nossa incursão mais ativa nos mercados SME. No período continuamos contratando e consolidamos diversas áreas internas, bem como focalizamos em nosso planejamento estratégico para os próximos 3 anos. Catalisamos as discussões sobre seguro e infraestrutura, em conjunto com a FGV e estamos lançando, também em conjunto com a FGV o “Instituto de Inovação em Seguros”. A despeito do cenário foi um grande ano para BMG Seguros.
Quais as áreas mais afetadas?
Naturalmente os planos mais afetados foram aqueles relacionados ao desenvolvimento dos mercados no segmento SME, seja para Seguro Garantia ou P&C.
O que mudou na forma de se relacionar com o consumidor?
A partir de agora tudo muda em uma velocidade cada vez maior no que diz respeito à Jornada do Cliente. Será necessário reavaliarmos as cadeias de valor e o nosso papel neste processo. Ecosistemas, marketplaces, plataformas de procurement, finalmente chegam ao mercado de Seguro Garantia, temos que nos adequar. Ainda nesta área, acho inexorável a aprovação do PL 1.292, que altera substancialmente a vida dos seguradores. Em P&C SME, a redução dos “pain points” atuais dos Clientes, exige uma total re-imaginação do setor tanto em termos de produtos, como distribuição.
Quais as tendências da empresa e do setor para 2021?
As expectativas que chegam do mercado financeiro (sou Conselheiro da ABBC), ainda são muito ruins no primeiro trimestre de 2021, mais especificamente no segmento SME. Espera-se que teremos o recrudescimento de uma crise de crédito que poderá afetar inclusive grandes companhias. No entanto, existe potenciais pontos positivos que podem ser importantes para o segmento de Seguro Garantia:
- O funcionamento da PGFN (Ministério Público da Fazenda Nacional) tende a voltar ao normal no 3o trimestre, o que pode gerar uma grande demanda de novas execuções;
- A Substituição de Depósitos Judiciais, embora suspensa agora, reuniu vários apoiadores e pode vir a ser uma realidade em 2021, aliviando a crise de liquidez das empresas;
- O novo Marco Regulatório para Saneamento, recentemente aprovado, vai criar uma onda massiva de investimentos em infraestrutura no Brasil e, consequentemente, uma grande demanda de Garantia. A previsão de investimentos é da ordem de R $ 50 bilhões por ano até 2033.
- Debêntures Incentivadas (Títulos de Infraestrutura) serão um importante componente de financiamento dos novos projetos. Seguro Garantia pode atuar como instrumento de Hedge nestes instrumentos;
- Projetos de infraestrutura em geral deverão ser retomados no 1o trimestre de 2021;
- Espera-se que ocorra um surto de privatizações nos próximos 3 anos;
- Licitação de telecomunicações móveis 5G – Investimento total de cerca de R $ 35bilhões de 2021 a 2022;
- Programa Pró-Brasil de Infraestrutura: Investimentos totais da ordem de R $ 280 bi de2021 a 2023;
- O Parlamento está prestes a aprovar, o novo Quadro Regulamentar do GAS;
Enfim, a previsão de investimento total em infraestrutura é da ordem de R$ 700 bilhões até 2023.
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