Expectativa de PIB melhora para 2020, mas preocupações com déficit fiscal piora indicador para 2021

Para os próximos meses, são esperados aumentos marginais, que poderão amenizar o cenário de recessão econômica provocada pela pandemia, estima a economista da CNseg

O desconforto com os graves riscos fiscais tem agravado a preocupação do investidor com a inflação, que teve mais um ajuste nesta semana no relatório Focus, de 2,47% para 2,65%. Para Priscila Aguiar, economista do CEM – Comissão Estudos de Mercado da CNseg, responsável pelo boletim de Acompanhamento das Expectativas Econômicas divulgada pela Superintendência de Estudos e Projetos (Suesp), da CNseg, dado que o resultado do IPCA de setembro ficou acima das expectativas, é natural que o mercado reveja suas projeções com base no resultado divulgado.

“Em relação ao governo, a falta de uma definição clara das ações relacionadas à política fiscal e a forma de financiamento do programa renda cidadã afetam as expectativas. Entretanto, o governo tem sinalizado de que não pretende furar o teto. Se as definições ocorrerem, as expectativas positivas se mantêm”, disse ela ao blog Sonho Seguro.

Segundo ela, Não há dúvidas de que definições de ajuste fiscal ajudariam a conter o risco de alta de juros, prevista pelos agentes do mercado financeiro para a última reunião do Copom do ano, em dezembro. “Entretanto, o Banco Central atua olhando não apenas para a evolução da inflação, mas também para a perspectiva do regime fiscal. Sendo dois fatores primordiais para as expectativas de longo prazo dos agentes financeiros”, comentou.

Leia abaixo o boletim completo:

O Banco Central (BC) divulgou na última semana o resultado do seu índice de atividade IBC-Br do mês de agosto –considerado uma prévia do PIB -, que registrou alta de 1,06% em relação a julho (com ajuste sazonal). Após a expressiva queda do índice em abril (-9,27% quando comparado a março), agosto já é o quarto mês consecutivo de resultados positivos, embora abaixo das expectativas do mercado, que esperava crescimento de 1,60%, segundo pesquisa da Reuters.

Na comparação mensal, houve um recuo de 3,92% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado de 12 meses, o índice está negativo em 3,09% e, no acumulado do ano até agosto, negativo em 5,44%. Os resultados do IBC-Br estão em linha com o desempenho da atividade econômica avaliado pelo monitor do PIB divulgado recentemente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O indicador da FGV apontou crescimento de 2,2% em agosto, na comparação com julho.

Em relação ao mesmo mês do ano anterior, há retração de 4,9%. O que há de mais importante a reter dos dois indicadores, é que sinalizam a retomada das atividades, porém ainda em ritmo lento, e também o aumento das exportações – com destaque para os produtos agropecuários beneficiados pela alta taxa de câmbio -, como um fator que tem ajudado na recuperação da atividade econômica. Para os próximos meses, são esperados aumentos marginais, que poderão amenizar o cenário de recessão econômica provocada pela pandemia.

O Boletim Focus do BC mostra melhora na expectativa do PIB para 2020, passando de -5,03% para -5,00%. Para 2021, após 20 semanas de projeção em 3,50%, as expectativas foram reduzidas levemente e os analistas preveem um crescimento de 3,47%.

O setor de serviços ainda mostra resultado abaixo do esperado. A recuperação tende a ser mais lenta e mais sensível à crise pandêmica, sendo esperada uma melhora do cenário com o avanço das medidas de flexibilização do isolamento social. A Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de agosto, divulgada pelo IBGE, mostra queda de 10,0% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

No acumulado até agosto, a queda é de 9,0% e, em 12 meses, o recuo é de 5,3%, o mais intenso da série histórica. Entretanto, quando comparado com o mês de julho, houve crescimento de 2,9%, configurando-se na terceira taxa mensal positiva seguida. A alta do mês de agosto foi observada em quatro das cinco atividades pesquisadas.

Destaque para Serviços Prestados às Famílias (33,3%), que teve o maior avanço da série histórica, mas ainda acumula queda de 38,9% até agosto, refletindo a retomada lenta com a ampliação das medidas de flexibilização do isolamento social na prestação de serviços, principalmente os serviços de restaurantes, hotéis, academias de ginástica e salões de beleza em que foram autorizados ao retornos das atividades, mas com capacidade reduzida.

O grupo transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (3,9%), apresentou a segunda maior alta do mês, mas, no acumulado do ano, há retração de 8,9% em razão da redução no volume de operações de transporte aéreo e rodoviário de passageiros, rodoviário de cargas e metroferroviário de passageiros.

Entretanto, com o retorno das atividades do comércio, é esperado um aumento no tráfego de transporte rodoviário de cargas, atribuído à necessidade de armazenamento e distribuição do comércio. O único resultado negativo em agosto veio de serviços de informação e comunicação (- 1,4%), que acumula queda de 2,7% até agosto, reflexo das perdas de receita especialmente no segmento de telecomunicações.

Sobre os índices de preços, a recente divulgação do IGP-M (Índice Geral de Preços- Mercado) mostra uma alta de 2,92% na segunda prévia de outubro. No mesmo período do mês anterior, a alta foi de 4,57%. A FGV informou que a variação dos preços das commodities aliviou a pressão sobre a inflação no atacado, impactando a redução do índice. No acumulado até agosto, o índice está em 17,74%.

No Boletim Focus, é esperado um IGPM de 17,15% em 2020 e de 4,30% em 2021. Os demais indicadores que tiveram aumento na projeção da mediana no Boletim Focus foram a taxa de câmbio, que passou de R$/US$ 5,30 para R$/US$ 5,35 em 2020, mantendo a mesma mediana para 2021, R$/US$ 5,10; e o IPCA que, pela 10a semana consecutiva, registrou aumento na projeção da mediana do indicador, passando de 2,47% para 2,65% em 2020, ultrapassando o piso da meta que é de 2,5%.

No calendário econômico da semana, são aguardadas as divulgações do Índice de Confiança do Consumidor (22/10) e das estatísticas do setor externo do Banco Central (23/10).

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS