Os Impactos da Tesla no Mercado Segurador e as Soluções para os Prêmios Elevados do Seguro D&O

Artigo escrito por Pedro Ivo Mello, sócio do Raphael Miranda Advogados

Além de ter anunciado planos para lançar um seguro sob medida para automóveis com tecnologias avançadas de segurança e coleta de dados[1], o fundador e CEO da Tesla, Elon Musk, decidiu não renovar o seguro D&O deste ano para os diretores da companhia, substituindo-a com a promessa pessoal de uma cobertura supostamente equivalente àquelas oferecidas pelas seguradoras[2].

Conforme pontuado por Kevin LaCroix[3], tal equivalência dificilmente seria alcançada, na medida em que o arranjo cogitado dependeria exclusivamente da capacidade financeira de Musk para honrar com eventuais indenizações. Diversamente do que ocorre com as seguradoras, Musk não conta com a complexa estrutura de gestão de riscos possibilitada pelas grandes resseguradoras e retrocessionárias internacionais. 

Todavia, a decisão de Musk corrobora com a percepção cada vez mais comum de que os prêmios cobrados pelas seguradoras se encontram particularmente elevados, o que se deve ao efetivo aumento da sinistralidade no âmbito do seguro D&O. A atual crise decorrente da pandemia da COVID-19 foi mais um fator que intensificou esse movimento[4].

No Brasil, soma-se à pandemia ao menos três fatores que influenciam no aumento da sinistralidade: (i) a proliferação, nos últimos anos, de múltiplas operações policiais contra desvios de verbas públicas e esquemas de corrupção; (ii) a progressiva responsabilização de diretores e companhias por danos causados ao meio ambiente[5]; e (iii) a crescente possibilidade de acionistas reclamarem indenização contra as próprias companhias, tendência que ganhou corpo com a inédita condenação da Petrobrás, por sentença arbitral, a ressarcir determinados acionistas pelos prejuízos sofridos em razão dos fatos investigados na Operação Lava-Jato[6].

Em 2019, por exemplo, as seguradoras captaram R$ 625.865.685,00 de prêmios e pagaram R$ 825.791.123,00 de indenizações, como uma elevadíssima sinistralidade de 152%[7], contra uma sinistralidade, já alta, de 85% em 2018.

Nesse cenário, é possível que as empresas passem a cogitar ao menos quatro soluções para evitar o pagamento de prêmios elevados: (i) a adoção de uma espécie de autosseguro, sem a contratação de apólice D&O, na linha do que foi anunciado por Musk, privilegiando a celebração de acordos de indenidade com seus executivos, recentemente regulados pela CVM[8](ii) a diminuição de coberturas contratadas, abrindo mão especialmente da Cobertura “C”, por elevar significativamente os prêmios; (iii) a previsão de uma robusta Participação Obrigatória do Segurado na apólice, tendo como contrapartida a diminuição do prêmio; e (iv) o uso de seguradoras cativas constituídas como ferramenta de fluxo de caixa para gerir, otimizar e financiar os seus próprios riscos, melhorando a relação entre capacidade de colocação x taxa de prêmio cobrado[9].


[1] https://www.businessinsider.com/elon-musk-tesla-launching-insurance-company-nationwide-hiring-2020-7;https://www.insurancejournal.com/magazines/mag-features/2020/08/10/578302.htm

[2] https://www.insurancejournal.com/news/national/2020/05/01/567042.htm

[3] https://www.dandodiary.com/2020/04/articles/d-o-insurance/in-lieu-of-do-insurance-musk-agrees-to-provide-tesla-with-coverage/

[4] https://www.insurancejournal.com/news/national/2020/04/02/563095.htm

[5] https://www.conjur.com.br/2019-out-19/operacoes-pf-aumentam-procura-seguro-executivos

[6] https://exame.com/exame-in/em-caso-inedito-petrobras-tera-de-indenizar-investidores-por-ma-conduta/

[7] http://www2.susep.gov.br/menuestatistica/SES/principal.aspx

[8] https://www.machadomeyer.com.br/pt/inteligencia-juridica/publicacoes-ij/mercado-de-capitais-ij/cvm-estabelece-regras-para-contratos-de-indenidade

[9] https://www.pwc.com/us/en/industries/insurance/captive-insurance-and-risk-management.html

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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