Diante de uma crise sem igual, diferente de tantas outras já vivenciadas pelo mercado segurador mundial, as seguradoras não são capazes de mudar a direção do vento, mas podem ajudar a atravessar a turbulência. Essa é a principal mensagem apresentada na nova edição da Conjuntura CNseg – publicação da Confederação Nacional das Seguradoras –, que apresenta as principais medidas adotadas pelas seguradoras nacionais e estrangeiras diante dos impactos da pandemia do novo coronavírus.
No caso brasileiro, a publicação aponta um duplo impacto decorrente da pandemia: no desempenho operacional das seguradoras e na gestão dos seus riscos. “Apesar disso, o mercado permanece resiliente e capaz de responder prontamente aos desafios impostos pelo cenário surpreendente e multifacetado produzido pelo novo vírus”, ressalta o estudo. Tem sido uma rotina diária divulgar as ações das seguradoras que vão desde doações a sociedade até a adesão ao movimento #naodemita, que visa garantir os empregos por um período de tempo, como Porto Seguro, HDI, Bradesco, SulAmérica entre tantas outras.
Em relação ao impacto sobre os produtos em si, de acordo com a publicação, somente será possível “começar a traçar um panorama completo com a divulgação dos dados de março do setor de seguros, e mais meses adiante, o que só deverá ocorrer a partir de junho, tendo em vista a flexibilização dos prazos de envio das informações de fevereiro e março anunciada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep)”.
Entretanto, conforme abordado no editorial do presidente da CNseg, Marcio Coriolano, na Conjuntura CNseg 18, edição recentemente publicada, é possível inferir que, de uma forma geral, todos os segmentos do setor deverão sofrer impactos por conta da pandemia. “Os prognósticos são desfavoráveis a médio prazo”, ele observa.
No plano operacional, a medida mais relevante é a adoção dos Planos de Continuidade de Negócios (PCN), permitindo cuidar da saúde dos colaboradores e, ao mesmo tempo, manter os serviços sem prejuízo a seus clientes. Os elevados investimentos na conversão digital das seguradoras, diz a Conjuntura CNseg, explicam o atendimento via canais digitais a clientes e parceiros de negócios e o bem-sucedido trabalho remoto (home office).
“Tenho ficado estarrecido de ver como tudo tem funcionado normalmente com 100% da equipe em homeoffice”, comentou Nilton Molina, presidente do conselho da MAG Seguros, ao blog Sonho Seguro. O mesmo tem sido dito por outros presidentes de companhias, como Vinicius Albernaz, da Bradesco Seguros, Murilo Reidel, da HDI, Gabriel Portella, da SulAmérica, Edson Franco, da Zurich Seguros, Roberto Costa, da Porto Seguros, entre tantos outros.
A situação atual reflete o que o estudo “Panorama Digital do Setor Segurador”, realizado pela Comissão de Inteligência de Mercado da Confederação em 2018, já sinalizava. 97,3% das empresas consultadas afirmaram dispor de projeto de transformação digital, com destaque para ações voltadas aos clientes. O resultado disso é que podem ser realizados hoje, de forma remota: liquidação de sinistro, reembolsos, resgate, sorteios, pagamento de benefícios, cobrança, cancelamentos, aquisição de produtos e prestação de serviços de assistência.
A Conjuntura CNseg ainda detalha as regras de aceitação de riscos e explica as razões de pandemias e epidemias, que são fatos raros e de difícil precificação, não disporem de coberturas específicas. Ainda assim, dá ciência de que parte do mercado, dada a gravidade da crise sanitária, passou a acolher os riscos decorrentes da pandemia nos seguros de benefícios – como Saúde Suplementar e Vida. Além disso, enumera diversos produtos dos segmentos de Danos e Responsabilidades e Seguros Pessoais que terão desvio na sinistralidade, em razão de situações ocasionadas indiretamente pela pandemia.
A publicação também faz um retrato atualizado das consequências da pandemia no mercado mundial de seguros, demonstrando o alinhamento das seguradoras brasileiras com as melhores práticas. Ela detalha as medidas emergenciais adotadas pelo governo, avaliando-as positivamente no sentido de procurar atenuar os impactos do choque. Uma ação que busca manter as perspectivas de famílias e empresas no terreno positivo, criando uma ponte para o futuro, fundamental para a confiança na economia. A publicação reúne as medianas de projeção do mercado para juros, inflação e dólar, com os dois primeiros com indicações de baixa e o câmbio bastante volátil. A publicação ratifica a previsão de PIB negativo em 2020 e provável recuperação em 2021, mas com alta muito discreta.
Molina, da MAG Seguros, tem em mente uma queda de 5% do PIB para este ano. “Mas estou totalmente convicto de que a partir de julho o país deve retomar ao normal e as empresas terão de correr atras para tentar recuperar as perdas de março a junho. Será um ano difícil, mas vai passar, como vimos em todas as outras crises passadas”, comentou.
Mundo – Em recente comunicado, a Global Federation of Insurance Associations (GFIA) afirmou que reconhece que os bancos centrais, governos e organizações internacionais apresentaram propostas visando flexibilidade em relação a alguns requisitos regulatórios e de coleta de dados. Como os governos ao redor do mundo implementam medidas de resposta a emergências, a GFIA pede que considerem os seguintes pontos:
A estabilidade financeira continuada do setor de seguros é vital. Sem ela, as seguradoras não poderão continuar a responder à crise ou honrar suas obrigações para com os clientes sob as políticas existentes. “Nossa indústria está comprometida em ajudar os governos a atender às necessidades financeiras de cidadãos e empresas. No entanto, onde a cobertura de pandemias e outras causas de perda não foi incluída nas apólices existentes ou refletida nos pagamentos de prêmios, exigir que as seguradoras cubram essas perdas retroativamente poderia ameaçar seriamente a estabilidade do setor de seguros global”, ressalta.
Eventos como incêndios, acidentes de automóvel e catástrofes naturais cobertas pelo seguro não param, mesmo durante uma pandemia. E vale lembrar que a temporada de furacões nos EUA, que causam perdas significativas, só começa em agosto. Ao mesmo tempo, as seguradoras gerenciam sua força financeira para cumprir as promessas e garantias feitas aos clientes, estejam elas relacionadas à pandemia ou não. Dessa forma, alterar retroativamente os termos das políticas não seria uma maneira apropriada de lidar com os impactos financeiros em larga escala da pandemia do COVID-19.