Artigo: Os impactos da longevidade no mercado segurador brasileiro

Por Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon

No último trimestre de 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou estudo que revelou, novamente, que estamos vivendo cada vez mais. Segundo o Instituto, a expectativa de vida média do brasileiro ao nascer em 2018 chegou em 76,3 anos. Esse resultado representa um aumento de três meses e quatro dias no intervalo de um ano. A boa notícia é que não vamos parar por aí. Segundo as estimativas demográficas, a expectativa é de que este indicador, projetado para o ano de 2042, supere os 80 anos de idade. É importante incluirmos ao debate outro dado relevante. Também segundo o IBGE, a expectativa de sobrevida média à idade alcançada de uma pessoa de 70 anos em 2015 é de mais 15 anos. Há 20 anos, ou seja, em 2000, esse mesmo indicador apontava para uma sobrevida média de 12 anos. Quando projetamos a análise mais para frente, especificamente no ano de 2060, a expectativa média de sobrevida para um indivíduo de 70 anos será de mais 17,5 anos. É a manifestação clara e evidente do fenômeno da longevidade.

Mas, afinal, de que país estamos falando? Enquanto especialista e estudioso em longevidade, previdência e demografia, afirmo sem sombra de dúvidas: deixaremos de ser um país jovem nos próximos 40 anos. Este cenário traz impactos para vários segmentos econômicos. Neste momento, no entanto, vou especificar a minha análise ao mercado em que atuo há mais de 50 anos: o de seguros de vida e de previdência, ramo que, segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), representou 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no período de janeira a novembro de 2019.

O primeiro aspecto da minha análise é o da previdência social. Eu posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que o fenômeno da longevidade exigirá reformas cada vez mais frequentes. A matemática é simples: se vamos viver mais, é preciso garantir o pagamento da chamada aposentadoria por mais tempo. Consequentemente, será fundamental, minimamente, contribuir por mais tempo. Adiciona-se a isso mais um ingrediente: a queda na taxa de reposição, fator que aliado às melhorias da saúde impulsionam a longevidade.

Isso revela uma oportunidade grande e única para o segmento de previdência complementar. No entanto, é preciso ressaltar uma questão importante. O esforço de poupança do brasileiro pensando a longo prazo, ou seja, para o futuro, mesmo na iniciativa privada, deverá ser ainda maior em volume e em tempo de contribuição para garantir a reserva financeira mais adequada na hora de desacelerar a rotina de trabalho.

Já quando olhamos o mercado seguro de vida, podemos visualizar algumas possibilidades de análises. Pelo ponto de vista dos produtos de risco de morte, a longevidade e o aumento da expectativa de vida da população favorecem diretamente que essas soluções fiquem, na verdade, mais baratas para o consumidor.

Quando temos tábuas atuarias mais atualizadas, o mercado pode oferecer seguro de vida cada vez mais competitivo, uma vez que o tempo de vida do indivíduo passa a ser maior, tendo impacto direto no preço. Ou seja, se tem a expectativa de viver mais, o cliente pagará mais tempo e, consequentemente, pagará um valor menor referente a esta proteção.

Outra questão é que as pessoas estão cada vez mais ativas. Dessa forma, permanecerão por mais tempo no mercado trabalho, o que tornará cada vez mais recorrente e crescente a contratação de produtos e soluções garantidoras da renda. São exemplos de seguros para esta finalidade o Diária por Incapacidade Temporária (DIT), Diária de Internação Hospitalar (DIH) e Renda por Invalidez.

O mercado de seguro de vida e previdência tem crescido ano a ano e de forma consistente. Não há dúvidas de que a longevidade, juntamente com a maior conscientização financeira da população e a estabilidade econômica, serão fatores que certamente contribuirão para alavancar ainda mais esta indústria e fazer com que esse segmento alcance patamares históricos.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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