Executivos comemoram autorização da Susep para seguros “on demand”

Sair de casa e clicar no celular o início da cobertura do seguro do equipamento eletrônico somente por um período determinado do dia. Ou do carro na semana. Ou da bike no mês. Ou da vida durante minutos. Sim, esta é uma realidade em vários países do mundo e agora pode ser implementada no Brasil. Ainda não há previsão de quando as seguradoras conseguirão colocar produtos nas plataformas digitais. Mas a autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para isso foi publicada nesta semana, com a edição da Circular 592 no Diário Oficial da União (DOU).

Um dos executivos que comemorou a notícia foi Antonio Cassio Dos Santos, Global Sponsor de B2B2C do Grupo Generali e CEO das Américas e Europa do Sul. “Essa regulação é necessária para que o mercado retrogado possa inovar. Isso facilita por exemplo coberturas mensais de veículos; coberturas de veículos enquanto na auto-estrada definida; paralização ou ativação de coberturas enquanto em férias somente”, disse ele ao blog Sonho Seguro.

Henrique Volpi, presidente da Associação das Insurtechs no Brasil e CEO da Kakau, a Susep avança de forma muito positiva permitindo ao mercado oferecer contratos de vigência reduzida e intermitente. “Os seguros on demand são uma tendência global e atendem um demanda dos usuários por cenários e contextos flexíveis. Com a futura formalização, acreditamos que novos modelos de negócios, produtos e até mercados surgirão. O cliente ganha muito”, disse ao blog.

Volpi: o cliente vai ganhar muito com a inovação

Peter Rebrin, diretor-executivo de Personal Lines da Zurich, disse que como uma companhia global, a seguradora já opera com este tipo de seguro em outros países. “É uma tendência mundial e uma evolução natural. Vemos de maneira positiva a decisão, que oferece condições para o mercado brasileiro operar com esta modalidade e traz benefícios aos segurados. Agora temos que estudar as reais necessidades dos clientes para entender como aplicar a melhor proteção”.

Segundo o CEO da Thinkseg, Andre Gregori , as novas regras trazem mais vantagens às startups que já nascem com o espírito inovador. Ele se refere também a Carta Circular Eletrônica 01, de 22 de agosto, que permite o uso de peças automotivas adquiridas fora das concessionárias. “Quando o regulador caminha para uma postura mais liberal, fomentando a atividade, tudo acaba ficando mais fácil. A Thinkseg, se tivesse tido a sorte de ter esse tipo de atitude há quase 3 anos, com certeza, já teria inovado muito mais. Demoramos quase 3 anos para convencer um parceiro que nosso produto fazia sentido e também de explicar a ele que nosso produto era aceito pelas normas da época.”

thinkseg
Gregori: “Quando o regulador caminha para uma postura mais liberal, fomentando a atividade, tudo acaba ficando mais fácil”

Gregori afirma que o seguro Pay Per Use (Pague pelo Uso) da Thinkseg é um pacote de seguros fracionados, no caso do automóvel, pago pelo trecho percorrido, hora, local e forma de conduzir. “Nossa vantagem é que já estamos com esse produto pronto há 3 anos. Ele foi aprovado ainda sob a circular antiga da Susep. Portanto, adquirimos muito conhecimento de lá até hoje. Além disso, somos uma empresa de tecnologia que tem inovação em seu DNA. Pensamos só nisso 24 horas por dia”, comenta Gregori.

“Criar um produto flexível é simples. O mais difícil é montar todo o quebra cabeça tecnológico, a melhor forma de ofertar o produto, o melhor canal de distribuição e, finalmente, um jeito completamente novo de subscrever risco. Passa a ser dinâmico, enquanto que, atualmente, é estático. Acho essa a maior barreira, ter uma plataforma com tecnologia plug and play que é ligar e usar. É o que a Thinkseg tem”, diz Gregori.

Igor di Beo, diretor técnico e de seguros da AXA, afirma que uma flexibilização de regras é sempre importante para o mercado, pois permite  novas estratégias. Neste caso desta circular, o segurado poderá pagar por aquilo que ele realmente está usando. Nada além disso. E isso é uma excelente notícia”, afirma.  Um exemplo citado por Di Beo é o seguro viagem. “Uma das novidades que devem surgir é a possibilidade de o cliente poder ter uma apólice anual intermitente, que ele reativa a cada viagem. O benefício está em se livrar da burocracia de contratar uma apólice a cada viagem”. Realmente é muito mais rápido reativar uma apólice do que contratar uma do zero. “Toda mudança de regulação é uma oportunidade para a companhia atuar em um novo segmento, principalmente da AXA que  é considerada uma das inovadores no mundo. 

O diretor da Susep, Rafael Scherre, explica que o normativo traz as condições gerais para a customização de planos de seguros com vigência reduzida de contrato e período intermitente, uma evolução no mercado brasileiro de seguros. Na prática, a partir de agora, as seguradoras poderão oferecer apólices de seguros que são acionadas de acordo com a conveniência do consumidor. “Citando como exemplo o seguro de automóvel, um dos mais populares do País, o segurado terá a opção “liga-desliga” quando comprar o produto ou mesmo optar por intervalos de contratação diferentes da praxe do mercado, que é o plano anual”.

O normativo da Susep informa que a vigência reduzida se aplica a períodos que podem ser fixados em meses, dias, horas, minutos ou a viagens, trechos e a quaisquer outros critérios estabelecidos no plano de seguro. Já o período intermitente (“liga-desliga”) levará em conta os critérios de interrupção e recomeço da validade da apólice, bem como a inclusão ou a exclusão de riscos.

Essa nova categoria de seguro intermitente ou por prazo definido inclui, por exemplo, seguro de vida, de objetos rastreáveis e de imóveis. O produto funciona assim: no caso de celular, o seguro pode ser cobrado somente pelo período em que o usuário estiver em local público. No de residência, quando o proprietário alugar o apartamento ou a casa por temporada. Já o de vida, para quando o contratante estiver em viagens, explica a Confederação das Seguradoras (CNseg).

O seguro intermitente é, normalmente, oferecido pela internet e contratado com menos burocracia. Sem a regulamentação, o seguro não podia ser comercializado no Brasil. Atualmente, o setor de seguros possui R$ 1,3 trilhão de ativos financeiros e, em 2018, arrecadou em prêmios e contribuições o valor superior a R$ 445 bilhões, equivalente a 6,5% do PIB nacional.

Com tal inovação, a expectativa é de avanço significativo da indústria no dia a dia do brasileiro. Tanto que o tema terá um painel exclusivo durante a CONSEGURO 2019, o mais esperado evento do mercado de seguros do país realizado CNseg, que ocorre em Brasília, na semana que vem, entre nos dias 04 e 05 de setembro. 

O especialista em seguros, membro do Comitê para América Latina da Society of Actuaries (SOA) e um dos palestrantes da CONSEGURO 2019, Ronald Poon Affat, explica que havia a necessidade dessa regulamentação que, por ser mais flexível e personalizada, ajudará a atrair consumidores oferecendo produtos mais baratos. “A nova regulamentação vai facilitar a entrada de insurtechs (startups especializadas em seguros) estrangeiras para provocar uma mudança profunda no mercado tradicional”, prevê Affat.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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