Regulação impede o crescimento de planos individuais de saúde, afirma presidente da FenaSaúde

Debate foi promovido pela FenaSaúde durante o 4º Workshop de Regulação e Análise de Impacto Regulatório

Durante a abertura do 4º Workshop de Regulação e Análise de Impacto Regulatório da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), realizado nesta quinta-feira (30/05), no Rio de Janeiro, João Alceu Amoroso Lima, presidente da Federação, destacou o excesso de regulação no Brasil. Segundo ele, esse engessamento regulatório é o principal entrave para a expansão e comercialização dos planos de saúde individuais. “A escassez dos produtos individuais do setor de saúde é devido a super regulação do setor que impede o seu desenvolvimento”, destacou.

João Alceu destacou alguns números que dão a dimensão do quanto o Brasil é regulado. “A cada 24 horas produzimos 18 novas leis”, assinalou. Segundo o Instituto de Planejamento Tributário, entre outubro de 1988 e setembro de 2016, o país editou 5,471 milhões de normas – média de 769 por dia útil. Se fossemos imprimir essa quantidade de normas em papel A4, frisou, e colocássemos uma ao lado da outra seriam necessários 8,5 mil quilômetros de burocracia. Extensão maior que o litoral brasileiro.

Não por acaso que o Brasil figura entre as últimas posições nos principais rankings globais de liberdade econômica, que avaliam mais de 180 países. Na lista do Fraser Institute, ocupa a 144ª posição; no do Banco Mundial, está na 109º colocação, e no Heritage Foudation, aparece na 150ª posição.

Para falar sobre a evolução da regulação do mercado, Leandro Fonseca, diretor presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) defendeu a importância da regulação para corrigir falha do mercado. Afirmou que, apesar do arcabouço regulatório, o setor tem recebido investimentos importantes e vem se modernizando. “É uma boa prática regulatória modernizar e rever práticas e regulações. Antes do marco regulatório da saúde suplementar as operadoras não tinham regras, não garantiam serviços e procedimentos aos beneficiários, limitavam internações etc. A regulação do setor não só estabeleceu as normas como não inviabilizou o seu crescimento”, sublinhou.

O professor de Direito da UERJ, Gustavo Binenbojm, que fez parte da comissão que elaborou o projeto de lei de Liberdade Econômica, defendeu as novas propostas. “Esta lei visa a uniformização dos setores da economia para evitar a sobreposição regulatória e institui o procedimento decisório. O projeto de lei prevê a racionalização regulatória no país. Naturalmente deve gerar uma postura diferente por parte dos juízes e dar os primeiros passos de reorganização dos diferentes players que atuam no setor”, ressaltou.

Segundo o economista José Luiz Carvalho, PhD pela Universidade de Chicago, é impossível regular preço com qualidade e quantidade ao mesmo tempo. “Temos uma grave herança do período inflacionário que leva a flexibilização de atos. O juiz brasileiro protege excessivamente. Não se tem investimento no Brasil porque há enorme insegurança jurídica. O brasileiro é acostumado a ser cuidado e protegido. Mais liberdade pode indicar melhora. O brasileiro perde liberdade por conta do judiciário”, atestou. 

Acesso – O segundo painel tratou do acesso ao sistema de Saúde Suplementar e sustentabilidade econômica segundo Sandro Leal, superintendente da FenaSaúde, o setor precisa de liberdade para formatar produtos e formar suas redes. “Precisamos sair da macroregulação para uma realidade de regulação por evidências. O grande objetivo do debate é chamar à luz essas questões da regulação que merecem atualização”.

Rogério Scarabel, diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, apresentou o cenário do setor de planos de saúde nos últimos anos e o impacto da conjuntura econômica no comportamento do consumidor. “O desempenho da economia está diretamente relacionado ao movimento de entrada e saída do consumidor no sistema suplementar. Precisamos, então, discutir o acesso aos planos de saúde e modernização regulatória para que as normas sejam adequadas aos tempos atuais. O diálogo com o setor e a participação de toda a sociedade nesse debate é fundamental”.

Luiz Celso Dias Lopes, diretor técnico Corporativo do Grupo NotreDame Intermédica, disse reconhecer os avanços gerados pela regulação da saúde suplementar, como a organização e a transparência do mercado. Ponderou, no entanto, que está na hora de revisitar a regulação passados 30 anos de sua adoção. Na sua avaliação, porém, é preciso simplificar as normas para estimular tanto a oferta quanto a demanda. “A população quer mais acesso aos serviços de saúde, mas o excesso de normas dificulta os negócios. A regulação é boa quando seus benefícios superaram seus custos e atinge os objetivos esperados”, sublinhou.

Para o diretor gerente da Bradesco Saúde, Flávio Bitter, a liberdade econômica facilitará o acesso aos planos de saúde. “Precisamos resgatar as leis de mercado para beneficiar os consumidores e aumentar o acesso. O principal direcionador de mercado deveria ser o consumidor. Temos que ter estímulos e acesso que só a liberdade econômica pode favorecer”, defendeu.

Rodrigo Aguiar, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência, falou sobre a resolução normativa referente à Análise de Impacto Regulatório. Ele ressaltou o processo participativo de construção da norma e destacou o extenso trabalho elaborado pelo corpo técnico da Agência. “Desde 2007, a Agência começou o debate sobre implementação de melhorias regulatórias em um processo contínuo de introdução de novas práticas”. Para Aguiar, o que se busca é a edição de uma norma didática e completa, que preveja que os atos e fases do processo regulatório aconteçam de forma clara e objetiva, evitando-se a necessidade de edição de novos manuais.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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