Inovar é uma questão de sobrevivência. Ainda mais quando a margem de ganho com a venda de uma apólice de seguro de carro pode ser comparada ao valor de 3 litros de coca-cola. “Ter lucro com a venda de seguro de carro atualmente é algo que requer muita competência. E fico feliz da Liberty ser uma das seguradoras que tem conseguido crescer tanto em vendas como em rentabilidade”, diz o CEO Carlos Magnarelli durante um encontro com jornalistas.
Segundo ele, para ser rentável neste segmento, que tem registrado queda nas vendas nos últimos anos e margens negativas, se considerada a média do mercado, é preciso entregar o melhor produto e prestar o melhor serviço para cliente e corretor, além de buscar formas de atrair um público maior para a carteira. “A oferta tem de chegar na hora que o cliente precisa. E onde ele estiver. Isso é fazer a diferença na vida das pessoas. Quem mais se diferenciar, mais sucesso terá no mercado”, sentencia o executivo.
A pauta do encontro sinaliza de onde vem boa parte do bom resultado conquistado pela seguradora, que tem cerca de 70% de sua receita proveniente da venda de seguro automóvel. A Liberty Mutual, juntamente com a Liberty Seguros, abriu a terceira filial do Solaria Labs, laboratório de inovação da companhia, em São Paulo, focado em soluções de seguros de auto, residência e seguros para pequenas empresas.
“O Brasil foi escolhido para sediar o terceiro laboratório de inovação do grupo, que começou na sede em Boston (EUA), em 2015. Dois anos depois seguiu para a Ásia (Cingapura) e agora chega a São Paulo, de onde atenderá a agenda de inovação de sete países da América Latina (Brasil, Chile, Colômbia e Equador) e da Europa Ocidental (Irlanda, Portugal e Espanha). Somos a segunda maior operação da Liberty Mutual fora dos EUA e receber o Solaria nos enche de orgulho”, citou o CEO da Liberty, que tem acumulado premiações diversas no quesito inovação.
O Solaria Labs tem no comando José Mello (foto), que voltou à casa depois de pouco mais de um ano fora. Foi ele quem começou a revolucionar a Liberty cerca de cinco anos atrás e agora volta como diretor de Inovação do Solaria Labs. “Um projeto deste é tudo o que um profissional pode querer diante deste quadro de disrupção que vemos no mercado segurador mundial”, comenta.
O Solaria nasceu com conceito de trazer inovação disruptiva para o negócio da Liberty, com o olhar para tecnologia, tendências de mercado e necessidades do consumidores. Quando o grupo encontra uma ideia ou uma startup com potencial de agregar valor a seguradora, é testada no Solaria, que foi criado em uma estrutura à parte do grupo segurador para facilitar a experimentação de novas soluções.
Segundo ele, o laboratório tem a função de explorar as principais tendências globais nas áreas de mobilidade, habitação, comércio e novas formas de proteção, bem como criar produtos disruptivos que atendam às necessidades crescentes dos consumidores. A Solaria pode ser comparada a uma insurtech, que busca as dores dos consumidores e traz uma solução para ocupar um espaço ignorado pelas seguradoras tradicionais. “O estudo gera um conceito que é testado no mercado. Tento atratividade, passa para o Solária para ser colocado nos mercados onde o grupo atua”.
“O compartilhamento de casas e carros, por exemplo, mudam o mundo, assim como vemos um futuro grande dos pequenos negócios com o movimento dos autônomos. O seguro de bem não cabe mais na vida dessas pessoas, que trocaram bens por vivenciar experiências. E é isso que queremos entender. Como atender as demandas desta nova sociedade”, explica Mello. Assim, o laboratório busca as tendências, faz pesquisas sobre tecnologias emergentes, como o processamento de linguagem natural e a visão computacional, buscando criar produtos para a indústria de seguros e outros mercados.
O Solaria não faz aceleração de startups, enfatiza Mello. “Criamos a hipótese, construímos, colocamos no mercado e vamos aprendendo, sempre com a abordagem de inovação, de fortificar o negócio, da disrupção e da diversificação. “A estratégia conta com quatro pontos: comprar participação em empresas, de forma estratégica, não porque vai dar lucro no futuro, mas sim porque precisa ganhar essa competência. Seria como um cliente anjo”, explica. Pode ser também adquirir soluções que já estejam testadas ou construir uma solução do zero”, acrescenta. Se aprovado, o investimento vem de outra empresa do grupo Liberty.
Entre os exemplos de produtos que foram criados dentro do Solaria Labs, Mello citou o produto Simplify Life Insurance, comercializado em Hong Cong, uma apólice totalmente digital moldada pelo cliente diante de suas necessidades num período de longo prazo e que pode ser alterada diante de mudanças na rota do planejamento.
Nos EUA, Mello citou a plataforma Certainly, 100% digital, voltada para o seguro de apartamentos alugados. É praticamente uma irmão gêmea da da insurtech Limonade, que desde que foi criada cresce a taxas elevadas e rouba Market share das das gigantes do setor.
Outra invenção criada no Solaria Labs foi a Dwellbeing, também nos Estados Unidos. Trata-se de uma plataforma que ajuda os clientes a protegerem seus bens, por meio de serviços. O portal traz dicas, com uma agenda na qual pode cadastrar os equipamentos que tem em casa. O portal lembra que a validade do filtro está para vencer. Se não sabe como fazer, o portal oferece um vídeo didático. Se mesmo assim a pessoa não se dispõe a fazer, o portal oferece um prestador de serviço qualificado. É como se fosse um marido de aluguel, termo usado no Brasil para esses serviços.
Uma coisa é certa: há muito para inovar no mercado segurador local e internacional. Certamente muitas ideais vão surgir dentro da Solaria para facilitar a vida dos corretores e dos consumidores, e assim manter as seguradoras centenárias vivas, prestando um serviço de gestão de riscos e garantindo o orçamento familiar e a retomada do ciclo de crescimento dos negócios mesmo diante de imprevistos.