Morgan Stanley inicia cobertura de ações de seguros e divulga estudo

Analistas citam IRB como a ação preferida e Thinkseg como principal insurtech

O Morgan Stanley divulgou seu último relatório sobre seguros no Brasil, no qual cita que o setor oferece um crescimento atraente devido a perspectivas econômicas positivas e baixa penetração de consumo. “À primeira vista, a penetração do seguro parece alta. No entanto, o mercado é altamente concentrado em saúde, o que representa 64% de todos os prêmios. Por outro lado, os segmentos de vida e seguros patrimoniais são pequenos e a penetração ainda é muito baixa, em 1,6% do PIB, abaixo da média de 2,1% da América Latina. Nós vemos grande oportunidade, uma vez que taxas de juros baixas sustentáveis ​​devem apoiar a demanda de longo prazo. Além disso, o seguro de bens deve ser beneficiado pela retomada do crédito, especialmente imobiliários”, citou.

O banco, que inicia a cobertura do setor, cita que o ressegurador IRB Brasil Re é o preferido entre as ações do setor recomendadas, que começa com uma classificação de “overweight”, a R$ 104,00, com expectativa de alta de 13%. O resseguro, afirma, é um jogo atraente no crescimento da indústria. Na avaliação do banco o crescimento do resseguro deve acelerar significativamente devido à crescente penetração de seguros, recuperação econômica, privatizações, maiores expectativas de lucros, valorização imobiliária e retomada de projetos de infraestrutura. Resseguro também é menos provável de ser ameaçado por fintechs.

O banco afirma a que também tem em alta a BB Seguridade, por acreditar que ela está bem posicionada para tirar proveito da melhora do ciclo econômico. O acesso exclusivo da empresa aos clientes do Banco do Brasil, a forte capacidade de subscrição e execução e a escala dominante devem resultar em crescimento e rentabilidade acima da média dos lucros, enumera. Também citam positivamente o grupo Notre Dame pela combinação de serviços de baixo custo, preços competitivos e altas margens. O estudo também avalia as seguradoras ligadas a bancos (Bancassurance) e as seguradoras independentes como Porto Seguro, SulAmérica, Zurich, Tokio Marine, Amil entre outras. A única insurtech citada é a ThinkSeg.

O analista do Morgan Stanley afirma que a indústria de seguros parece fragmentada, mas a concentração é alta em produtos que normalmente são distribuídos por canais bancários. Os cinco principais players respondem por apenas 35% do total de prêmios, enquanto quase 400 cooperativas sem fins lucrativos que oferecem planos de saúde privados têm uma participação combinada de 21%.

O Bradesco possui a maior seguradora do Brasil, com 11% do total de prêmios. E as seguradoras bancárias, incluindo o Bradesco, têm uma participação combinada de 22%. Dito isto, a concentração é alta em produtos como o automóvel e a vida, onde as 10 principais empresas controlam, 94% e 80% do total dos prêmios.

Segundo ele, essa dinâmica deve-se em parte à natureza desses produtos, o que facilita sua distribuição por meio dos canais bancários. Outros exemplos de mercados altamente concentrados incluem seguro rural e residencial. Os primeiros são dominados pela BB Seguridade, com 72% de market share, e a segunda pela Caixa Seguridade, com 57% de participação. “O seguro é um negócio atraente, grande e muito lucrativo para os bancos”, afirma, citando que o segmento representa algo entre 10% a 30% dos ganhos nos bancos principais bancos. A exposição a produtos de baixo risco de subscrição e negócios de corretagem compõem um negócio de seguros altamente lucrativo, com ROEs de 20% a 50% nos últimos dois anos.

Além disso, comenta o autor, os bancos têm a oportunidade de alavancar suas participações de mercado em empréstimos e devem se beneficiar de uma grande base de clientes cativos, para a qual podem vender de forma cruzada: apenas uma faixa entre 15% a 40% de seus clientes têm 1,5 produto de seguro, com o restante tendo um ou nenhum produto. Por exemplo, as operações de seguro da Caixa têm fortes sinergias com o negócio de empréstimos do banco porque o seguro de proprietário é obrigatório quando uma casa é financiada com uma hipoteca, e a Caixa é o maior credor hipotecário do Brasil.

Corretores – No Brasil, as seguradoras, corretoras e agentes das seguradoras e instituições financeiras podem intermediar os produtos de seguro. No entanto, o pagamento da comissão do corretor é obrigatório, mesmo se um corretor não estiver envolvido, ressalta o estudo. Neste caso, a comissão deve ser paga ao Fundo para o Desenvolvimento da Cultura de Seguro. Além disso, os requisitos para se tornar um corretor não são muito complexos. Como consequência, quase 94 mil corretores ativos operam no país. Saúde e a maioria dos seguros de bens e responsabilidades que em geral são mais sofisticados, são em grande parte distribuídos por corretores, responsáveis por quase 85% dos prêmios. O bancassurance também é relevante no Brasil, já que quase 65% dos prêmios de seguro de vida são vendidos por esse canal.

Digital – A digitalização já está ocorrendo no setor de seguros, embora a um ritmo mais lento do que outras atividades bancárias. Na maior parte, as empresas acham que a sofisticação do produto e a preferência cultural pelos corretores tradicionais são os principais obstáculos. A maioria não espera uma ruptura significativa nos próximos 5 anos, mas todos estão investindo fortemente em iniciativas digitais. No longo prazo, a Caixa Seguridade acredita que as plataformas digitais representarão ~ 18% do mercado. Atualmente, apenas produtos simples, como seguro de viagem, são amplamente vendidos on-line. Como referência, o digital responde por apenas 14% das vendas na BB Seguridade e 22% na Itaú Seguros.

Neste capítulo sobre ser digital, o banco cita a insurtech Thinkseg Group como a maior companhia tecnológica de seguros brasileira. O posicionamento se deu em função do seu modelo de negócio totalmente digital e a compra da corretora de seguros online Bidu, realizada no ano passado, que trouxe 23 mil clientes ativos e 2 milhões de consumidores para a sua base.

A análise destacou o lançamento que será feito pela empresa, ainda sem data definida, do primeiro seguro Pay-Per-Use do Brasil. Na modalidade, o cliente pagará uma assinatura mensal somada a um valor variável conforme a utilização de seu carro – uma combinação de quilometragem rodada com a forma de condução do segurado. Andre Gregori, ex-BTG Pactual, fundador e CEO da Thinkseg Group, questionado pelo blog Sonho Seguro sobre o nome do parceiro internacional que possibilitará o lançamento do produto, informou que ainda não pode ser divulgado, por normas de compliance.

Segundo o Morgan Stanley, cerca de 85% do faturamento da ThinkSeg vem de vendas do seguro de automóveis e 15% de casa, vida e assistência. Nos próximos dois anos, a empresa espera aumentar a contribuição dos segmentos não automotivos para 50%. Em 2019, a empresa espera atingir R$ 200 milhões em prêmios e entre R$ 2 milhões a R$ 3 milhões em lucro líquido, contra um prejuízo de R$ 90 milhões no ano passado.

A empresa lançou recentemente um novo segmento operacional, chamado Powered by ThinkSeg. Entre os contratos já fechados cita a Rodobens, com um aplicativo móvel que usa tecnologia de telemática, e a Casas Bahia. Atualmente, a empresa tem mais de 20 outros projetos em andamento, com todos os contratos com duração de 10 anos. Até o final de 2019, a ThinkSeg está planejando atingir 100 contratos.

“Este reconhecimento é um passo importante para nos consolidarmos como uma empresa de tecnologia em seguros, que possui um ecossistema aberto, atuando na aquisição do cliente, formatação de produtos, distribuição, atendimento e prestação de serviços. Um modelo que apostamos e ainda traz mais transparência, agilidade e preço justo para o consumidor”, explica Andre Gregori.
 

Seis temas destacados no estudo do Morgan Stanley

  • A penetração do seguro digital continua baixa, mas as empresas estão investindo fortemente em canais digitais. Estes são vistos como chave para aumentar a penetração, mas permanecem nos primeiros estágios de desenvolvimento. A sofisticação do produto e a preferência cultural pelos corretores tradicionais são vistos como os principais obstáculos.
  • Melhorar a eficiência é uma das principais prioridades. As empresas estão lançando ferramentas de treinamento de corretores, plataformas de relacionamento com os clientes e plataformas de preços para facilitar o processo de venda dos corretores. Muitas dessas plataformas usam análise comportamental, IA ou Big Data para reduzir os custos de aquisição e fornecer serviços mais personalizados. Algumas empresas também estão investindo em operações de corretagem totalmente digitais.
  • As empresas estão lançando cada vez mais produtos de baixo custo para atingir segmentos sub-segmentados.
  • As equipes de gerenciamento estão implementando estratégias de cross-selling para aumentar o número de produtos de seguro por cliente.
  • A maioria dos provedores de planos de saúde está cada vez mais verticalizando seus modelos de negócios para reduzir os custos da inflação médica.
  • As empresas estão alavancando as plataformas abertas de seguros e previdência para aumentar a penetração de sua base de clientes.



Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS