Cuidar, abraçar, liderar, superar desafios. Essas foram as ações mais citadas por mulheres que ocupam cargo de liderança no mercado segurador brasileiro para expressar o que é ser líder em entrevista ao blog Sonho Seguro. Mulheres feitas de sonhos, amor, força e inspiração concederam entrevista a jornalista Denise Bueno e contaram um pouco sobre ser mulher e sobre tendências para 2019.
Relatos inspiradores. Atualmente, a questão da diversidade é uma constante na agenda do mundo. O tema foi uma das pautas mais destacadas na reunião do World Economic Forum (WEF), que aconteceu em Davos, Suíca, em janeiro deste ano. Está comprovado cientificamente que times diversos cognitivamente trazem resultados e soluções superiores aqueles homogêneos. Isso traz competitividade e sustentabilidade a quem consegue sair na frente nesta prática.
Diante, disso, o blog Sonho Seguro tem priorizado entrevistar mulheres para que elas tragam o toque feminino para esta indústria, que até pouco tempo atrás era liderado apenas por homens. Uma das primeiras vozes no mercado segurador desde que o acompanho, há uns 20 e poucos anos, foi Beatriz Larragoiti (in memoriam), herdeira e presidente do conselho da SulAmérica na década de 80. Foi sob seu comando que o grupo retomou a liderança do mercado segurador brasileiro e redesenhou seus novos caminhos. Depois dela, Maria Silvia Bastos Marques, conhecida como a “dama de ferro” por ter presidido a CNS, foi nomeada CEO da Icatu Seguros, em 2007.
Com o tempo, as mulheres foram conquistando seus espaços e hoje elas têm uma boa circulação no círculos do poder. E a cada dia se articulam mais e mais para impor a diversidade em seguros. Recentemente, foi criada a Associação das Mulheres do Mercado de Seguros (AMMS), que se dedica ao empoderamento da mulher no mercado de trabalho e é constituída de representantes de todos os segmentos, como segurados, seguradoras, resseguradoras, corretoras, prestadoras de serviços e demais instituições do mercado.
Neste ano, o tema deve ganhar mais força. Pela primeira vez na história do setor, uma mulher, Solange Vieira, vai comandar a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que regula e fiscaliza o setor que administra reservas técnicas acima de R$ 1 trilhão.
Vejam abaixo algumas das entrevistas. Como algumas ainda não tiveram tempo de responder, vou atualizar esse post de acordo com o tempo delas. Desejo a todas, um feliz Dia das Mulheres.

A francesa Delphine Maisonneuve, 50 anos, casada e mãe de quatro filhos, chegou recentemente ao Brasil para comandar a operação local da Axa, uma das maiores seguradoras do mundo. Chegar ao cargo, segundo ela, foi excitante: “um projeto profissional desafiador, e uma aventura pessoal. E realmente não senti que era diferente por ser uma mulher”, diz ela, que está no grupo Axa há mais de 20 anos.
Para ela, ser líder é algo simples. “As empresas e as pessoas precisam ser desafiadas o tempo todo para entregar soluções, produtos e serviços que contribuam para que a vida da sociedade seja melhor. Entendo que, como líder de uma organização como a Axa, meu papel é desafiar, inspirar e contribuir para que juntos a gente entregue valor.”
Ela mesmo se desafiou muito para chegar onde está hoje. Com 10 anos de experiência na esfera comercial e com a terceira filha recém nascida, se mudou da França para Barcelona. “Meu marido fazia MBA no IESE Business School, e eu propus à Axa realizar um projeto de transformação das funções comerciais na filial da Espanha. Falava mal espanhol e nada de catalão, além de não conhecer a empresa por lá. Era a primeira vez que ia trabalhar de verdade fora da França. No entanto eu convenci o CEO da nossa filial”, conta ela animada com o resultado de tamanha coragem.
A missão inicial era ficar 12 meses, mas ela gostou tanto do projeto de transformação e crescimento da empresa que toda a família permaneceu na Espanha por quase cinco anos. Mudaram para Madrid para que ela assumisse o cargo de toda transformação da distribuição e marketing operacional da filial. “Hoje, tenho quatro filhos e só a caçula está comigo em São Paulo. Tudo isso é muito desafiador, mas vale a pena. E sempre, quando toca o celular e é um dos meus filhos, eu paro, atendo, para saber se é algo urgente, imediato. Se não, falamos depois. Para isso tudo dar certo, é preciso se organizar, ter apoio e saber negociar”, afirma.
A diversidade é uma agenda prioritária tanto para ela como para o grupo Axa, que tem o compromisso de atingir, no máximo até 2023, paridade entre homens e mulheres na alta liderança, formada por 150 posições. “A criatividade e a inovação requerem diversidade. Nossos clientes são diversos. É preciso ter representatividade na tomada de decisões”.
No Brasil, as mulheres compõem 52% do quadro de colaboradores. “Em relação às posições de liderança (a partir de Coordenação) temos 104 gestores: 50 mulheres. Somos três mulheres no Comex e os planos de sucessão também já demonstram paridade. Me orgulho muito desse panorama!”, comemora.
O empenho de Delphine como CEO é contribuir para que as pessoas desenvolvam o seu máximo potencial e isso pressupõe um ambiente diverso, que desafie, questione e traga múltiplas visões para a mesa. “Espero poder contribuir sempre com minhas equipes e com o mercado para avançarmos”, comenta. “Sempre digo que enquanto não houver paridade em nossas funções dentro da empresa, mas também na esfera privada, temos que continuar seguindo adiante.”

No Brasil, uma das pessoas mais animadas como o tema mulher é sem dúvida Maria Helena Monteiro, 66 anos, diretora da Escola Nacional de Seguros. Há anos ela vem organizando estudos, pesquisas, palestras e agitando a mulherada para dar voz ao público feminino. “A melhor parte do meu esfoço em crescer foi que consegui abrir caminho para muitas outras mulheres que me sucederam”, comemora.
Um dos seus maiores desafios como mulher, mãe e executiva foi ter sido transferida para a Inglaterra, pela Shell, com três filhos pequenos, sendo o menor com cinco meses. “Um desafio e tanto, que até hoje rende boas risadas – apesar da ansiedade daqueles tempos”, diz a especialista em recursos humanos.
Para ela, a diversidade sempre foi importante. “Quando pensamos no tanto que nossos clientes – e o mundo – são diversos, é um aspecto importantíssimo a considerar em qualquer decisão de negócios ou sobre as pessoas”, cita ela, que tem como conceito de liderança a capacidade de fazer as coisas acontecerem através das pessoas.
Maria Helena acredita que a dificuldade em aumentar o número de mulheres em cargos de comando vem das próprias mulheres, que muitas vezes não acreditam no seu potencial, e têm medo de se arriscar. “E há a dificuldade da dupla jornada, que traz um ônus inegavelmente maior para mulher, que ainda é a principal responsável pelos cuidados com a casa, os filhos, e com os idosos”, acrescenta.

Para Mariangela Morenghi, 38 anos, coordenadora de comunicação da AIG Seguros e líder do grupo de diversidade da AIG Women @ Work, liderar é saber ouvir e perceber qual a melhor maneira de tirar o melhor desempenho individual e em grupo das pessoas, ao mesmo tempo em que a equipe se sinta motivada e incluída. “É aproveitar os momentos para transmitir a percepção a respeito do trabalho da equipe, e alimentar a nossa relação (pessoal e profissional) para que o trabalho seja mais satisfatório para ambos os lados.”
Segundo ela, em debates promovidos dentro da iniciativa Women@Work (WOW), três “esteriótipos” precisam ser vencidos para ampliar a participação das mulheres em cargos de liderança. O primeiro é a falta de incentivo às mulheres para que se candidatem a posições mais elevadas nas empresas. “Muitas vezes os homens gestores consideram que mulheres, em especial as mães, não gostariam de assumir mais responsabilidade”, cita ela, que decidiu cursar Direito e está no terceiro ano.
Em segundo lugar, ela cita questões de autoconfiança da mulher. “Apesar de, na sua maioria, mais qualificadas em termos de escolaridade e conhecimento técnico, as mulheres costumam candidatar-se a uma vaga quando preenchem 100% – 110% dos requisitos, enquanto os homens arriscam mais e candidatam-se às vagas com até 80% dos requisitos preenchidos”.
E por fim, Mariangela cita a postura e perfil de liderança. “Como a mulher tem arquétipos pré-estabelecidos na nossa sociedade, como a mãe, a princesa, mulheres com perfis mais confiantes são logo rotuladas de mandonas, de estarem na TPM, de serem masculinas. Nesse sentido, as mulheres com suas características femininas são consideradas, muitas vezes, soft para uma posição de liderança, enquanto que as mulheres mais firmes e femininas têm, muitas vezes, que vestir-se de um papel masculinizado, para conquistar seu espaço”.

A fórmula de sucesso de Patricia Coimbra, que chegou aos 51 anos ao cargo de vice-presidente de Capital Humano, Administrativo e Sustentabilidade da SulAmérica, foi aceitar desafios com resiliência, ter boa equipe no trabalho e em casa, com todos compartilhando responsabilidades.
Liderar, para ela, é conseguir atrair, inspirar e desenvolver as pessoas para um resultado comum, sustentável. “Acho que tantos homens quanto mulheres desejam arranjos mais flexíveis não apenas na empresa, mas também nas leis. Não temos a licença maternidade com a mesma duração da licença paternidade, ou uma licença casal como é o caso de países nórdicos. As responsabilidades ainda não são equilibradas no Brasil, impactando mais a carreira da mulher do que do homem”, diz a executiva, que tem como hobbies fazer cursos, viajar e caminhar.

Patrícia Godoy, 45 anos, diretora executiva jurídica e de compliance da Aon Brasil, tem um poder surpreendente dentro do grupo por responder não só ao CEO no Brasil, Marcelo Homburger, mas a um conselho mundial do grupo. “Ela é muito ponderosa”, citou ele em recente entrevista ao blog Sonho Seguro.
Segundo ela, a conquista do cargo veio de dedicação, estudo e, principalmente, de fazer o que gosta. “É muito mais divertido e assim sendo é gratificante e enriquecedor”, comenta. Patrícia fala fluentemente inglês, espanhol e francês, o que conta pontos para ter uma atuação em comitês globais. Mãe orgulhosa de um filho de 11 anos, pratica equitação, adora filmes e séries, além de ser uma curiosa dos motivadores do comportamento humano.
Em suas andanças rotineiras pelo mundo, ela afirma que todas as grandes empresas já incorporaram práticas que tornam a agenda da diversidade uma realidade. Talvez pela natureza do negócio, o mercado financeiro é mais conservador do que outros em termos de diversidade. Porém, os avanços são reais e ocorrem cada vez mais rápido, afirma a executiva. “Os consumidores estão mudando o tempo todo, e os fornecedores precisam acompanhar o movimento. Se as empresas não tiverem pessoas com pontos de vista diferentes, ficarão para trás”, sentencia.