Os efeitos da crise já são sentidos no Brasil. Ao mesmo tempo em que há sinais de vitalidade, com fila de espera para a compra de alguns modelos de veículos zero quilômetro, há também uma dura realidade, como os 100 mil veículos já recuperados pelos bancos até fevereiro em razão da inadimplência. Segundo especialistas, a intensidade com que o País será atingido dependerá do esforço de cada indivíduo, de cada empresa, de cada governo.
Todos concordam que 2009 será um ano difícil porque as turbulências econômicas vão gerar mudanças em custos e receitas. “Vai dar trabalho gerenciar todos os riscos a que estamos expostos e serão necessários ainda mais esforços para oferecer melhores produtos e serviços”, diz Patrick Larragoiti, presidente da SulAmérica.
Os indicadores no Brasil começaram a apresentar piora desde o início de 2009. “No setor industrial, a última coisa que a empresa corta é o seguro, pois os ativos têm de estar garantidos. No varejo, o consumidor elimina itens básicos. Se for demitido e não usar o carro, o segurado pode cancelar o seguro. É uma experiência nova e não podemos subestimar as conseqüências”, comenta Luis Maurette, presidente do grupo Liberty Seguros (foto acima).
Veja a seguir os principais riscos que as seguradoras terão de gerenciar para manter o crescimento do setor na cadsa dos dois dígitos em 2009.
Cenário internacional – Acompanhar o cenário internacional é de extrema importância para as seguradoras e grandes clientes segurados no Brasil. “O mercado de resseguros acaba de abrir no Brasil. É preciso estar atento aos movimentos externos para mitigar riscos e poder agir de forma rápida e preventiva”, diz Marcos Couto, presidente da ACE Seguros. As seguradoras estavam habituadas a colocar seus riscos no IRB Brasil Re nos últimos 70 anos, onde o risco de crédito era praticamente inexistente por ser o ressegurador controlado pelo Tesouro Nacional. Agora, precisam de uma avaliação de risco de crédito mais precisa do que aquelas feitas pelas agências de rating.
Indicadores econômicos – As seguradoras estão mais atentas às variações que podem ter no valor dos ativos e passivos em razão da volatilidade dos preços dos seguros e das taxas de mercado, considerando-se aqui juros, ações, moedas, desemprego, inadimplência, recessão, déficit primário, exportações, importações, bem como indicadores que afetam diretamente a indústria de seguros, como custo de reposição de peças automotivas e de medicamentos e serviços médico-hospitalar, por exemplo.
Crédito e poupança – Crédito mais caro e cliente mais consciente da necessidade de poupar. Este é um momento de desafio para que todos aprendam a viver com seus próprios recursos e reflitam mais sobre a necessidade de poupar, na opinião de Fernando Moreira, presidente da HSBC Seguros. “A questão foge da área econômica e aumenta a percepção do cliente em relação aos produtos e serviços prestados pelas companhias”. Segundo ele, para competir é preciso investir na prestação de serviços e trazer o cliente para dentro do grupo. Investimentos é o grande foco para os próximos anos. “O cliente no centro de tudo”, resume.
Consolidação – A indústria de seguros passa por um momento de consolidação, com algumas mudanças importantes como a fusão do Itaú e Unibanco e a remodelação na área de seguridade pelo Banco do Brasil. A reorganização e a força da atuação de grupos importantes como os citados trazem mudanças significativas para a estratégia das companhias. “É preciso acompanhar de perto a concorrência para antecipar tendências e assim reter os clientes com preços e serviços diferenciados”, diz Fábio Luchetti, diretor vice-presidente executivo da Porto Seguro.
Custos – Adequar os custos à nova realidade econômica fará com que o processo de gestão e de controle de risco das seguradoras continue submetido a revisões periódicas. Será preciso ter uma gestão ainda mais eficiente para remunerar o acionista e assim mantê-lo no negócio, como também encantar os consumidores. “Isso requer uma revisão de processos e produtos para ter o melhor retorno aos investidores”, diz Patrick Larragoiti, presidente da SulAmérica. “Praticar o preço justo será uma questão de sobrevivência neste cenário de baixa de juros, volatilidade dos mercados financeiros, aumento da criminalidade e da ocorrência de catástrofes naturais”, diz Luis Maurette, da Liberty.
Veículos – O melhor dos mundos para as seguradoras, segundo Max Thierman, presidente da Allianz, seria continuar com o nível de vendas de seguro automóvel obtido em 2008, quando os prêmios chegaram a R$ 15,3 bilhões, alta de 13%. Para manter o ritmo seria necessário manter o nível de vendas de carro. “O gGoverno tem sido um grande aliado ao estimular a indústria, e esperamos que persista nas medidas de isenção de alguns impostos e do crédito mais acessível”. Segundo estudo divulgado pela PricewaterhouseCoopers em fevereiro, a produção brasileira vai cair 13%, interrompendo uma sequência de alta média de 10% verificada a partir de 2003.
Mudanças climáticas – Max Thierman acredita no aumento da frequência cada vez maior da ocorrência de eventos climáticos incomuns, como os registrados entre outubro do ano passado e janeiro deste ano. “Alagamentos como o de Santa Catarina e granizo como em Minas Gerais certamente causarão impacto negativo para a nossa indústria”, diz. Praticamente todas as seguradoras participam do grupo de discussão criado pela FenSeg para viabilizar iniciativas que mitiguem riscos.
Regulamentação – A crise levantou uma série de questionamentos sobre a eficiência da normatização que visa transparência e solvência das companhias. “Quem poderia imaginar que a maior seguradora do mundo, a AIG, teria de ser socorrida pelo governo dos EUA para não ir à falência? Quem não investiria numa empresa que tinha o segundo mais alto rating mundial dado por agências de classificação? Como conseqüência, o mundo todo discute mudanças nas regras. “É preciso ficar atento para sugerir idéias coerentes, que não amarrem o crescimento das empresas e ao mesmo tempo tragam mais transparência aos investidores”, diz Samuel Monteiro, Diretor Geral Administrativo e Financeiro do Grupo Bradesco de Seguros e Previdência.
*Matéria produzida com exclusividade para a Revista de Seguros, da CNSeg, edição de janeiro/fevereiro/março de 2009.