R$ 250 bilhões em investimentos em infraestrutura. Essa é somente uma primeira cifra que a equipe de transição do governo de Jair Bolsonaro projeta para dar vazão aos projetos de infraestrutura necessários para colocar o Brasil em um patamar considerado ainda mediano até o final do governo, em 2022. Um estudo elaborado pelo Fórum Econômico Mundial a partir da análise de dados de 137 países colocou o Brasil em 73o lugar no ranking global de qualidade de infraestrutura. “Precisamos mudar isso com bons projetos e segurança jurídica”, citou o professor da Universidade de Brasília Paulo César Coutinho, diretor do Centro de Estudos de Regulação de Mercados (Cerme), que participa da elaboração do plano para infraestrutura de Jair Bolsonaro, coordenado pelo general Oswaldo Ferreira.
Ele foi um dos mais de 150 executivos que participaram do Seminário de Infraestrtura promovido pelo BTG Pactual, JLT e Nelson Wilians Advogados. A pauta do encontro tinha um objetivo certo: destravar os investimentos privados para projetos de infraestrutura. “Dinheiro há de sobra. Faltam bons projetos, segurança jurídica, acelerar licenciamentos ambientais, simplificar regulamentações entre outras iniciativas”, disse ele ao blog Sonho Seguro.
Todos os participantes se mostraram animados com o novo governo que sinaliza intenção de resolver boa parte dos gargalos de infraestrutura. “Se isso realmente acontecer, o efeito sobre a taxa de investimento da economia será comemorado”, citou Ricardo Amorim, durante sua palestra sobre o cenário político na América Latina. “Se o cenário externo não degringolar antes da equipe econômica ter lidado com tudo isso, o Brasil terá um ambiente macroeconômico positivo e que ajudará muito na tomada de decisão dos investidores”, comentou.
O ministro Nelson Jobim também mostrou otimismo com o Brasil conseguir vencer os desafios e avançar nas reformas que são necessárias, como a da Previdência e a Fiscal. “Mas precisamos esperar a posse não só do presidente em 1o. de janeiro, como também do líder do Senado e do Congresso para ver como fica”, alertou. “Montar bons projetos exige lucidez e pensar com certa frieza. Temos de deixar passar as duas manifestações típicas de uma eleição: a euforia dos vitoriosos e as catarses dos derrotados. Depois disso se começa a criar formas de entendimento. Afinal, a democracia é uma forma de bom senso”, disse ele aos participantes.
Se tudo caminhar como todos desejam, sem solavancos externos, com união de todos para tirar o Brasil da crise, independente de egos políticos e com parlamentares trabalhando para o Brasil, a aposta é que o capital será farto para a maior economia da América Latina. “Investidores do mundo todo têm apetite pelo Brasil. Novos instrumentos financeiros para a captação de recursos no exterior devem ser lançados se o mercado estiver a favor. A tarefa do novo governo é enorme e depende de todos, principalmente de bons projetos e de segurança jurídica”, reforçou Roberto Sallouti, CEO e membro do Conselho de Administração do BTG Pactual.
Os estudos sobre infraestrutura abrangem as mais diversas áreas, incluindo ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, saneamento e petróleo e gás. A equipe de transição de Bolsonaro tem sinalizado que dará continuidade aos projetos do PPI do governo Michel Temer. Estão previstos leilões de 12 aeroportos, de quatro terminais portuários e lotes na área de óleo e gás. No total, 17 editais devem ser publicados ainda este ano, com previsão de leilão para os primeiros dias do governo Bolsonaro. Até o final de 2018, estão marcados leilões de 18 linhas de transmissão, de um terminal portuário e da Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex), lista a Agência Brasil.
Além de concordar que o Brasil precisa investir muito mais em infraestrutura, algo como pelo menos 5% do PIB ao ano, também é consenso que é preciso estruturar bons projetos. “Precisamos alimentar o diálogo para superar o cenário de insegurança e sermos capazes de elaborar bons Project Finance e boas estrutura financeiras corporativas”, acrescentou o advogado Marcos Pessanha, da Wilians.
Alvaro Eyler, CEO da JLT Seguros, também revelou o otimismo do grupo com a mudança de governo. “Os investimentos em infraestrutura vão movimentar muito o setor de seguros. Somos o maior broker para infraestrutura no mundo e como grandes obras precisam de soluções inovadoras estamos aqui para nos colocar a disposição para ajudar a todos a mitigar riscos”, disse.
Dito isso, Tatiana Moura, executiva de riscos da corretora JLT, citou o leque de produtos que o mercado segurador tem a oferecer, que vão desde a cobertura de responsabilidade civil para a emissão de debêntures para captar recursos para os projetos até riscos de engenharia que mitigam os riscos do empreendimento já em funcionamento. “Produtos no mercado de seguros não faltam. Há muita oferta e capacidade. O que é precisamos é discutir qual o risco que cada parte envolvida vai assumir, pois as seguradoras não aceitam 100% do risco”, frisou ela em sua apresentação.
Ela contou que trabalha há 22 anos no setor e é uma grande entusiasta de projetos de infraestrutura. “O mercado mudou muito. Antes tínhamos grandes empreendedores, sócios de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) e também participantes de um consórcio construtor que queria construir os próprios projetos. Isso tornava a análise dos projetos mais fáceis. Tínhamos ativos e balanços para respaldo do projeto. Deixamos de falar de Project finance para falar de Corporate Finance. Isso facilitava a vida de todos, inclusive das seguradoras”, ressaltou.
No entanto, pós Lava Jato, com a falência de grandes grupos, principalmente no segmento de construção, a situação se complicou. “Temos hoje quatro grandes tipos de empreendedores entrando nos projetos”, citou. Empreendedor que é especialista do mercado e com a crise identificou projetos que queria desenvolver. Este empreendedor chega sem balanço forte e sem ativos. O segundo já existia e são os “private equity”, que apostam em portfolios no Brasil. O terceiro grupo de empreendedores é formado por empresas estrangeiras, como chineses, indianos entre outros, que são gigantes lá fora, mas aqui não. O último tipo de empreender que já existia mas agora aparece mais são empresas interessadas em investir para melhorar a própria produção, principalmente do setor agrícola.
“O desafio é: como estruturar projetos se não tenho um grande balanço por trás. Tenho um banco que analisa a taxa de retorno do project finance, seguradoras que sabem avaliar capacidade de perfomar e de construir, e empreendedores que querem que o negócio dê certo, mas não querem tomar 100% do risco. Esse é o brilhantismos do project finance, que depende do fluxo de caixa do projeto. Mapear e alocar o risco para que todos tenham a sua parcela”, afirmou.
Tatiana acrescentou: “Temos no mercado segurador apetite para uma parcela do risco. Não para 100% como querem bancos de fomento. É preciso alocar o risco para cada stake holders e assim construir um programa de seguros essencial para mitigar riscos de projetos. Empreendedores tem de tomar decisões vitais na estruturação dos projetos, com uma análise do projeto básico condizente com a análise do projeto executivo. Temos de achar um equilíbrio entre o partilhamento de risco, se não o Brasil não vai desenvolver bons projetos”, sentenciou a executiva.
A mensagem que ficou do evento é simples: o futuro do Brasil depende do empenho de todos em assumir responsabilidades e riscos dentro de uma agenda pautada por compliance e governança colocada em prática no dia a dia. Feito isso, o país do futuro passa a ser uma realidade com benefícios financeiros e sociais para toda a nação.