A construção de economias resilientes, a promoção de investimentos de longo prazo em infraestrutura sustentável, o seguro 2.0 para fazer frente à ruptura tecnológica e a questão da globalização dos mercados de seguros e resseguros foram os temas do Fórum de Seguros 2018 realizado no âmbito do G20, na cidade de San Carlos de Bariloche.
“O seguro é capaz de ser protagonista no desenvolvimento da economia e é nosso desafio gerar as condições para fornecer alternativas de investimento de longo prazo em infra-estrutura para criar economias resilientes e contribuir para o desenvolvimento de nossos países de forma inclusiva”, afirmou Juan Pazo, superintendente de Seguros da Argentina, que coordenou a realização do evento com apoio do governo argentino, juntamente com o comitê executivo formado por Adrián Werthein, acionista da Expert ART, Alejandro Simon, CEO da Sancor Seguros; José Cardoso, presidente do IRB Brasil Re, Recaredo Arias, presidente da GFIA (Federação Global de Associações de Seguros) e Toyonari Sasaki, vice-presidente da Associação de Seguradoras do Japão.
De um lado investidores buscando investimentos que tragam bom retorno para remunerar os planos de previdência e seguro de vida administrados pelas seguradoras. As companhias de seguros detêm aproximadamente US$ 30 trilhões em ativos, muitos dos quais protegem as obrigações dos segurados. De outro, governos com poucos recursos para investir em infraestrutura. Estudo da Geneva Association (GA) revela que o deficit global de investimentos em infraestrutura estimado para ser reduzido até 2035 é de US$ 5,5 trilhões.
Os países emergentes lideram a lista de projetos. “Diante de taxas de juros baixas, os projetos de infraestrutura são uma das alternativas para casar investimentos administrados pelas seguradoras de fundos de pensão, bem como traz diversificação do portfólio de investimentos, concentrado em títulos de renda fixa”, comentou Anna Maria D’Hulster, secretária geral da entidade que reúne os principais CEOs de seguros e de resseguros do mundo.
A América Latina tem uma necessidade de investimentos em infraestrutura que alcança US$ 8,5 trilhões, segundo informou Pazo. Para tanto, tem um pacote de US$ 8 bilhões em projetos de parceria público-privada (PPP) para atrair mais investimentos, com boa parte deles já em andamento em processos licitatórios. Segundo fontes entrevistadas no evento, a Argentina oferece condições interessantes para os investidores, com retornos atrativos diante da taxa de juros em curso no país. Ele afirmou que indústria de seguros tem oportunidade de diversificar seus investimentos em diversas frentes de projetos, bem como vender garantias securitárias para gerenciar o risco dos governos e garantir que as obras sejam concluídas mesmo diante de imprevistos.
“Estamos em um momento decisivo na história, com mudanças nas estruturas políticas, econômicas e sociais tradicionais. Todas essas variáveis forçam os diferentes atores políticos e econômicos a trabalhar juntos para facilitar fontes de financiamento de longo prazo em infraestrutura que contribuam para criar desenvolvimento e resiliência em cenários cada vez mais voláteis “, insiste Pazo.
No entanto, assim como o Brasil, falta o grau de investimento para receber recursos mais significativos dos investidores. No Brasil, além do grau de investimento, os investidores aguardam o resultado das eleições. “A Generali criou recentemente um fundo com 1 bilhão de euros para investir em infraestrutura. Atualmente, o fundo conta com aplicações no México e no Chile”, disse Antonio Cássio dos Santos, CEO para Américas e Europa do Sul do grupo Generali. “Brasil e Argentina precisam melhorar a relação de risco e retorno antes que possam atrair mais recursos de longo prazo de investidores institucionais estrangeiros”, afirmou.
Tal passo vem sendo dado pelos órgão reguladores dos países, que agora enfrentam desafios políticos para que a economia possa voltar a crescer de forma mais significativa. Joaquim Levy, executivo-chefe financeiro do Banco Mundial e ex-ministro da Fazenda do Brasil, afirmou em vídeo que a indústria do seguros tem um importante papel como investidora institucional e também como gerenciadora de riscos ao vender seguro garantia para mitigar riscos das operações financeiras desenhadas para financiar grandes projetos. “Essa certamente é uma importante agenda para 2019 e estou certo de que o envolvimento de todos já tem surtido bons efeitos”.
Os órgãos reguladores estão reunidos no evento para garantir a solvência das seguradoras e evitar que elas invistam os recursos que administram dos segurados em ativos de riscos. “Esse tem sido a principal preocupação da discussão do grupo de reguladores internacionals”, afirma Gustavo Caldas, da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que participa das discussões em Bariloche. “As estruturas regulatórias podem garantir que os consumidores recebam produtos adequados e acessíveis, que atendam às suas necessidades de gerenciamento de riscos, contribuindo para apoiar a estabilidade econômica”, afirmou Jonathan Dixon, diretor geral da International Association of Insurance Supervisors (IAIS).
Rodney Lester, consultor do Banco Mundial, destacou que o setor de seguros existe há cerca de 300 anos, mas 99% da reforma regulatória ocorreu nos últimos 20 anos. Segundo ele, os principais pontos de ruptura que aceleraram a mudança para a regulamentação baseada em risco para as seguradoras foram a Crise Financeira Asiática e o fracasso das seguradoras tradicionais na Europa e no Japão após a queda abrupta das taxas de juros nos anos 90, que corroeram parte da poupança dos clientes. “Precisamos encontrar uma abordagem que reconheça a natureza de longo prazo de muitos contratos de seguro e não exponha o capital de solvência a grandes oscilações de curto prazo nos valores dos ativos”, afirma.
Toyonarri Sadaki, vice-presidente da Associação de Seguradoras do Japão, afirmou que as companhias japonesas enfrentam o grande desafio de rentabilizar os planos de previdência diante das taxas de juros baixas e aumento da longevidade no país, com um número enorme de pessoas acima de 100 anos.”As companhias querem diversificar seus investimentos, mas isso requer bons ativos, com regras claras, transparentes e riscos mitigados”.
A Argentina fez um grande esforço para simplificar e modernizar o arcabouço regulatório do setor para atrair um número maior de companhias do setor para atuar no país. Muitos grupos estrangeiros deixaram a Argentina no último governo em razão de mudanças nas regras de resseguro e de seguros. No ano passado, por exemplo, promoveu uma abertura do mercado de resseguros praticamente igual ao do Brasil, com proteção do mercado local que será reduzida em etapas.
Pazo afirmou que “copiou” a abertura de resseguros feita no Brasil e viajou o mundo no último ano para consolidar as normas adotadas em seguros e finanças. Assinou oito convenções internacionais e também cumpre todas as exigências da Comissão Nacional de Valores, tornando o setor transparente e apto para fazer parte ao G20. Também busca facilitar novos produtos, de planos de previdência a seguro paramétrico para produtores rurais. Em previdência, Pazo tem consultores brasileiros para viabilizar produtos como PGBL e VGBL
O presidente da CNseg, Marcio Coriolano, destacou que o Brasil é líder de arrecadação de seguros na região da América Latina e Caribe, ao registrar US$ 83,3 bilhões em prêmios de um total de US$ 167,8 bilhões em 2017. “O setor de seguros precisa estar incorporado com mais efetividade nas agendas macro e microeconômicas do governo para ser ainda mais presente na proteção da sociedade e no papel de destacado investidor institucional, formando poupanças. É importante que o mercado de seguros e resseguros tenha um encontro exclusivo no âmbito do G20, com a participação dos representantes mais influentes do mercado segurador mundial”, disse aos jornalistas presentes no evento.
O evento é um fato histórico para o setor de seguros, pois é a primeira vez que o setor se une à agenda de discussão da G-20. “Vim participar pois é muito relevante que o setor participe das discussões do G-20. Temos convicção da importância do seguro e do resseguro para o desenvolvimento de economias resilientes. Por isso debates como esse são importantes para o aprimoramento da indústria de seguros dentro de um quadro de previsibilidade e compromisso com as melhores práticas em todo o mundo”, finalizou Coriolano, da CNseg.
José Carlos Cardoso, CEO do IRB Brasil RE, líder em resseguros na América Latina, foi convidado para participar da rodada de debates do Insurance Forum. Ele participa hoje do painel Globalização de Negócios: o papel do mercado global de resseguros, trazendo importantes dados da resseguradora, que em quatro anos obteve a mais bem-sucedida história de turnaround do Brasil, de R$ 2,7 bilhões para R$ 20,4 bilhões de valor de mercado.
A jornalista viajou para Bariloche a convite do IRB Brasil Re