Arrecadação do setor até julho somou R$ 138,8 bilhões

por Marcio Serôa de Araujo Coriolano, presidente da CNseg

A resposta desigual do setor de seguros ao ciclo econômico é característica já ressaltada em Cartas do Seguro antecedentes. Continuam sendo observados resultados superlativos em Transportes (15,4% no acumulado do ano), Garantia Estendida (10,7%), Rural (13,2%), Patrimonial (8,2%) e Automóveis (7,5%).

Já no segmento de Pessoas, enquanto VGBL e PGBL ainda enfrentam cenário adverso produzido pela busca de rentabilidade em ambiente de volatilidade de ativos, os Planos de Risco de Cobertura de Pessoas já chegaram próximos a dois dígitos de expansão sobre a mesma base de sete meses de 2017.

Enfim, com a série de dados observada desde o ano passado, não se espera grandes modificações no desempenho dos segmentos líderes até o final deste exercício.

Essa avaliação parece corroborada pelos dados dos gráficos ao final deste editorial, desta vez referindo-se a uma série mais longa de doze meses móveis terminados em períodos sucessivos (maio, junho e julho). O gráfico demonstra que a expansão nominal total do setor vem se mantendo em intervalo de 2% a 3%. A maior contribuição é dos Planos de Risco de Cobertura de Pessoas, que vêm tendo taxa em torno de 10%, seguido do grande Ramo de Danos e Responsabilidades (perto de 8%), compensando o resultado negativo dos Planos de Acumulação PG e VGBL.

A despeito de um desempenho de resultado global negativo em termos reais, isto é, descontada a inflação, o setor segurador mostra ajustamento importante ao cenário macroeconômico. A sinistralidade no acumulado do ano recuou 5,51 pontos percentuais sobre o mesmo período de 2017. Esse ajuste, fruto de reposicionamento tarifário e da melhora das práticas de aceitação de riscos e regulação de indenizações, serviu para ampliar a margem bruta setorial. O professor Lauro Faria prossegue em sua análise detalhada.

por Lauro Faria, economista da Escola Nacional de Seguros

O desempenho do mercado de seguros regulado pela Susep foi fortemente positivo em julho passado, mormente se levarmos em consideração que este é um período de baixa sazonal da atividade econômica, inclusive no mercado de seguros.

No grupo de ramos elementares (seguros de danos e responsabilidades), exceto DPVAT, os prêmios somaram R$ 6,4 bilhões, com crescimento de 3% sobre junho. No grupo de planos de risco de coberturas de pessoas, foram arrecadados R$ 3,1 bilhões, 2,7% abaixo do resultado do mês anterior, porém melhor do que o padrão sazonal do mês. Houve recuperação nos aportes aos planos de acumulação PGBL e VGBL que somaram R$ 8,1 bilhões em julho, 9% acima do observado em junho. Os prêmios do seguro DPVAT e os aportes aos títulos de capitalização cresceram, respectivamente, 4,4% e 0,9%.

A arrecadação total na área da Susep somou assim R$ 20 bilhões em julho, 4,2% superior à arrecadação do mês anterior. No acumulado do ano até julho, a arrecadação somou R$ 138,8 bilhões, com acréscimo de 0,4% sobre igual período do ano anterior.

Comparando-se os primeiros sete meses de 2018 com o mesmo período de 2017, registramos nos diversos ramos resultados mais robustos e uniformemente positivos. Os prêmios do total de ramos elementares (exceto DPVAT) cresceram 8,7%; os de seguros de automóvel, 7,5%; patrimonial, 8,2%; habitacional, 7,2%; transportes, 15,4%; crédito e garantia, 4,2%; garantia estendida, 10,7%; responsabilidade civil, 2,6% e rural, 13,2%. A destoar apenas os ramos de seguros marítimos e aeronáuticos, com recuo de 1,6% na referida base de comparação.

Fato similar se observa na arrecadação do grupo de planos de risco de coberturas de pessoas: o total de prêmios do grupo cresceu 9,9% no acumulado do ano até julho sobre igual período de 2017; vida, 8,7%, prestamista, 22,4% e acidentes pessoais, 5,4%. Os prêmios do seguro viagem tiveram redução de 7%, fato esperado devido à contínua desvalorização do valor externo da moeda nacional e o consequente encarecimento das viagens ao exterior.

Esses resultados suscitam a esperança de que o mercado regulado pela Susep possa fechar 2018 na faixa superior de projeção de crescimento da arrecadação feita pela CNseg de 5,2% sobre 2017. O que seria excelente na fase atual de fraco crescimento da economia brasileira.

O crescimento vigoroso de certos ramos de seguros como patrimonial, transportes e rural bem como de planos de risco de seguros de pessoas testemunha maior busca de especialização das seguradoras brasileiras, com as de capital nacional procurando maior foco nos seguros massificados e as de capital estrangeiro, nos seguros de grandes riscos. Uma divisão de trabalho benéfica ao desenvolvimento do mercado. No curto prazo, o maior desafio continua sendo a retomada firme do crescimento dos planos de previdência aberta, fato que tende a ocorrer a partir de 2019 em razão das incertezas atuais sobre as taxas de juros e a política econômica do novo governo que sairá vitorioso das urnas em outubro.

Na área da Susep (e exceto DPVAT), a sinistralidade situou-se em 42,3% no período janeiro-julho de 2018, com redução absoluta de 5,51p.p sobre o verificado no mesmo período de 2017. A sinistralidade do grupo de ramos elementares foi de 51,7% nos primeiros sete meses de 2018, inferior em 2,41 pontos percentuais à do mesmo período de 2017. No grupo de planos de risco de coberturas de pessoas, houve decréscimo de 26,7% para 25% no mesmo período.

O índice de despesas de comercialização dos produtos de seguro exceto DPVAT foi de 24,4% no acumulado do ano até julho, com redução de 0,46 pontos percentuais frente ao mesmo período de 2017, sendo em janeiro-julho de 2018 de 21,8% em ramos elementares e 29,2% no grupo de planos de risco de coberturas de pessoas. Como ocorrido em junho, houve novamente ampliação da margem bruta de lucro (100% – sinistralidade – índice de despesas de comercialização), denotando melhora na subscrição de seguros e na regulação de sinistros por parte das seguradoras.

No acumulado do ano até julho de 2018, as despesas administrativas das seguradoras reguladas pela Susep cresceram 3,3% ante igual período de 2017, o resultado financeiro caiu 9,2% e o resultado patrimonial, 66%. Não obstante, devido à melhora técnica mencionada acima, o lucro líquido das seguradoras aumentou 18,9%. A rentabilidade em 12 meses do patrimônio líquido agregado foi de 22,5% em janeiro-julho de 2018, superior em 2p.p a do mesmo período do ano anterior. O total de provisões das seguradoras atingiu em julho R$ 950,1 bilhões, 11,35% acima do verificado em julho de 2017.

No setor de saúde suplementar, os dados divulgados pela ANS ainda se referem ao primeiro trimestre de 2018 e, assim, repetimos o escrito em junho: a receita de contraprestações foi de R$ 46,6 bilhões, com crescimento de 7,1% sobre o mesmo trimestre de 2017, mas decréscimo de 2,8% ante o quarto trimestre desse ano, indicando piora das condições de demanda dos planos de saúde. A sinistralidade foi de 79,7%, 0,3% abaixo do verificado em janeiro-março de 2017 e 1,7% abaixo do dado do último trimestre de 2017.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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