ARTIGO: O Compliance na era da proteção de dados e privacidade

por Victor Graciani, compliance Officer Marsh Brasil

Governança, riscos e compliance. Eis três processos que integram diversas iniciativas corporativas que evitam conflitos, gastos com controles redundantes e garantem a conformidade com as leis, regulamentos e normas internas. Esse tema surgiu nos Estados Unidos, na década de 70 e foi se alastrando para o mundo por meio de regulamentações internacionais. No Brasil, o compliance corporativo, que caminhava lentamente até 2010, ganhou força com as investigações deflagradas pelo Ministério Público como Mensalão e Lava Jato, entre outras. A onda de corrupção estampada nas manchetes dos jornais locais colocou o tema na pauta nacional e impulsionou a promulgação da Lei Anticorrupção 12.846, em 2013, que estabeleceu uma série de regras e multas milionárias para punir os transgressores. Desde então, o tema compliance e governança corporativa, que já era uma realidade em economias maduras, passou a ser também um aliado no plano estratégico das empresas brasileiras, principalmente das nacionais, uma vez que as multinacionais já obedeciam as regras de seus países.

Embora o compliance tenha ganhado força, há muitos desafios a serem conquistados. A 4º revolução industrial trouxe novos riscos e também novas oportunidades. Robótica, computação quântica, biotecnologia e inteligência artificial abrem múltiplas formas de plataformas voltadas para o aperfeiçoamento do compliance e da governança corporativa, ao facilitar a transparência e combate à corrupção. Tanto o machine learning quanto a inteligência artificial já são utilizadas para ajudar os profissionais de compliance a tirar conclusões do vasto volume de dados com o qual se deparam diariamente, incluindo atualizações regulatórias.

Em 2018, todos os departamentos de compliance estão preocupados com a proteção de dados e os riscos de privacidade para deixar a empresa em conformidade com questões regulatórias que visam reforçar a segurança dos dados frente a seu crescente vazamento por meio de ataques cibernéticos, como mostra o General Data Protection Regulation (GDPR), que entrou em vigor na Europa em maio. A nova regulação considera dados pessoais como propriedade do indivíduo, não de controladores de dados.

E isso se aplica a todos os cidadãos da União Europeia, independentemente de onde se encontrem e da localização da organização a qual pertencem. Com isso, todas as empresas que fizerem negócios com qualquer país do bloco europeu serão obrigadas a proteger os dados pessoais e a privacidade dos seus cidadãos. Não é por menos a preocupação.

O recente relatório internacional “Preparação ao GDPR: um indicador de gestão de riscos cibernéticos” da Marsh revelou que 23% das empresas que precisavam se adequar à regulamentação (GDPR) sofreram ataques de hackers e 57% já estavam desenvolvendo práticas de governança e complaince para se adequar à lei. Em complemento, 49% desenvolveram um plano de resposta aos incidentes cibernéticos e 27% aumentaram a cobertura ou reestruturaram seu seguro de risco cibernético. No Brasil, um normativo semelhante foi aprovado, o que ajudará ainda mais os profissionais dedicados ao compliance a zelar pelo patrimônio do acionista.

Mitigação de riscos – Muitas equipes de compliance têm tido dificuldade em implementar os sistemas e processos necessários para lidar com a imensa quantidade de dados coletados, gerenciando o armazenamento dessas informações de acordo com critérios específicos e rastreando-os desde a sua coleta até a sua completa destruição. Porém, esse é um dos aspectos precisamente avaliados pelas seguradoras e que ajudam a evitar punições severas dos órgãos reguladores, além de consequências graves que a desconformidade pode gerar para a imagem e reputação da empresa.

Para ser minimamente efetivo, além de ter um bom programa de compliance, código de conduta e regras corporativas, é fundamental ter instrumentos de monitoramento que garantem o cumprimento dos objetivos. De nada adianta ter políticas e normas de procedimentos de gestão de riscos, se a empresa não tiver profissionais engajados com a gestão dos riscos.

É necessário também ter especialistas dedicados e independentes e até com autonomia para contrariar decisões da empresa, como recomendar que executivos não se relacionem com determinados clientes ou até mesmo que abandonem algum projeto que é visto como arriscado para a imagem da organização.

Um programa de compliance bem estruturado entende os objetivos da empresa e faz com que o corpo diretivo atinja a meta traçada no planejamento anual dentro de padrões de regras estabelecidos, que asseguram a sustentabilidade do negócio.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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