Os desafios da longevidade e o papel social da capitalização

Fonte: CNseg

A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) promoveu, hoje, um amplo debate sobre temas do cenário socioeconômico brasileiro, nos quais o setor de seguros atua ativamente. Em pauta, os desafios trazidos pela longevidade populacional e a necessidade de formação de poupança. Realizado em parceria com o Estúdio Folha, o 1º Seminário Nacional de Educação em Seguros reuniu um público de cerca de 200 pessoas no auditório da Unibes Cultural. Durante a abertura do evento, o presidente da CNseg, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, afirmou que o principal projeto do triênio da sua gestão é colocar, o mercado de seguros no centro das políticas econômicas (ou públicas) do país, tendo em vista seu poder de vir a ser um dos principais motores para o crescimento sustentável, se incentivado.

Coriolano lembrou que, com uma receita arrecadada de R$ 365 bilhões em 2015, o mercado de seguros brasileiro representou 45% dos prêmios gerados na América Latina, no ano passado, tornando-se o primeiro do ranking regional e o 13º no pódio mundial. O seminário, promovido hoje, é uma das 21 ações transformadoras que compõem o Programa de Educação em Seguros da Confederação e tem como objetivo contribuir de forma definitiva para o esclarecimento do consumidor de seguros e ampliar o conhecimento acerca dos produtos e serviços.

Longevidade – O impacto do envelhecimento populacional na previdência e na assistência à saúde norteou o painel de abertura do evento. O debate, que teve como tema “O desafio da longevidade para a economia brasileira”, contou com a participação do economista e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Tafner; da presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz Palheiro Mendes; e do presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), Edson Franco.

O presidente do Ipea expôs a urgência de uma reforma da Previdência por meio de números: na década de 1980, o Brasil contava com 66 milhões de pessoas em idade ativa e 7,2 milhões de idosos. Em 2010, eram 126 milhões em idade ativa e 19,6 milhões de pessoas com mais de 60 anos, e as projeções apontam que em 2050 chegaremos a 128 milhões de brasileiros com idade entre 15 e 59 anos e uma população de idosos de 66,5 milhões. “O número de idosos será 3,4 vezes maior do que era em 2010, e teremos 3,6 milhões com 90 anos e mais de 300 mil centenários”, alertou. Ainda de acordo com o economista, o Brasil tem características de países jovens como México e Turquia, mas tem gastos na previdência equivalentes a países como Alemanha e Japão. Entre 2014 e 2015, a Previdência Social apresentou resultado negativo de 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). “Se não houvesse esse déficit, 2015 fecharia com superávit primário de mais de 2% do PIB”, complementou.

Tafner defende também mudanças no regime de aposentadorias de servidores de municípios, Estados e da União, que só em 2015 apresentaram um déficit de R$ 126,7 bilhões. Ou seja, são apenas 3,5 milhões de indivíduos que geram um déficit de R$ 127 bilhões. Entre os fatores que contribuem para o aumento de todos esses gastos excessivos estão a mudança demográfica e os incentivos inadequados, como regras de elegibilidade, regras de fixação do valor do benefício e acumulação de benefícios. Mantidas as regras atuais, em poucos anos o Brasil estará gastando entre 18% e 21% do PIB com previdência. “As futuras gerações estarão condenadas à pobreza”, concluiu, chamando a atenção para a assistência à saúde e o envelhecimento da população, que em 15 anos aumentou as despesas em 1,7 pontos percentuais do PIB. Com essas taxas de crescimento dos grupos etários, a composição dos gastos vai se alterar, elevando o gasto total, o que deve ocorrer nos próximos 30 anos.

Essa opinião é compartilhada pela presidente da FenaSaúde, Solange Beatriz. “Nos últimos dez anos, o número de beneficiários com 60 anos ou mais cresceu 55%, enquanto a população entre zero e 19 anos manteve um crescimento de apenas 25,9%”, explicou. De acordo com a executiva, a saúde suplementar conta com 6,1 milhões de beneficiários com mais de 60 anos, o que representa 13% do total. “Idosos têm doenças crônicas, de trato continuado, complexo e caro. Em 2030, os idosos representarão 48% dos gastos com saúde”.

Previdência – O presidente da FenaPrevi, Edson Franco, fez um alerta sobre a crise da razão de dependência no Brasil, que é a relação entre a população inativa e a potencialmente ativa. De acordo com o executivo, em 50 anos essa relação irá passar de 10% para 60%. “Na França essa relação será de 19% para 40%. Esse ritmo está muito acelerado no nosso país, que está envelhecendo antes de ter ficado rico. Teremos menos tempo para nos adaptarmos a esse processo de envelhecimento, e o problema está no crescimento dos gastos com uma população envelhecida. Por isso, defendemos a reforma da Previdência”.

Edson Franco defende dois tipos de reformas: uma paramétrica e de curto prazo e outra estrutural, com foco no futuro e que comtemple quem irá integrar o mercado de trabalho. “Buscamos um modelo de estabilidade financeira e de sustentabilidade com senso de justiça social. É importante eliminar privilégios e concessões de determinadas classes para se chegar a uma previdência única e universal”. Para isso, o presidente da FenaPrevi defende quatro pilares: o pilar social; o pilar da contribuição especifica para o sistema previdenciário; o pilar individual, onde cada indivíduo poupa em regime de coparticipação; e o pilar da previdência complementar.

Educação Financeira e Capitalização – No segundo painel do evento, o diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, destacou que a capitalização pode exercer um papel fundamental para ajudar as pessoas a incorporarem o hábito de poupar. O Brasil tem 56% da população com acesso a uma instituição financeira. No entanto, quando se analisa o volume de empréstimos, o percentual cai para 6% e apenas 10% tem poupança, índices abaixo da média mundial de 9% e 22%, respectivamente.

Desde o início da crise, segundo ele, o desemprego não pode ser o considerado o grande vilão da perda de renda, e sim a inflação. “Foi a inflação que tirou o poder de compra dos brasileiros nesta crise, de acordo com nossas pesquisas”, afirmou. “A impaciência é um dos pontos-chave do baixo índice de poupança no Brasil. Por isso, a educação financeira é um grande aliado para ajudar as pessoas a entenderem o benefício de controlar essa impaciência”.

O presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), Marco Barros, destacou a importância do segmento está em dar às famílias o sentido maior do habito de poupar. “É importante criar uma reserva financeira, e o produto de capitalização permite mitigar momentos de crise, como o que estamos vivendo hoje, uma vez que é criado um estoque financeiro, com o bônus de concorrer a sorteios”, enfatizou Barros em sua fala, durante o painel. Para ele, a simplicidade do produto Capitalização é uma das razões que ajudam a educar a população para o hábito de poupar. Mas, o mais importante que a simplicidade do produto, acredita o executivo, é o ônus da perda de uma parte da poupança, se sacar antes do fim do contrato, que estimula a disciplina financeira do participante.

“Todo dia, 400 pessoas são contempladas por sorteio. É um circulo virtuoso. Pagamos e as pessoas colocam os valores na economia novamente. É o único segmento em que o sinistro é comemorado”, brincou. Dados recentes divulgados pela FenaCap indicam que as empresas do segmento distribuíram, juntas, R$ 699 milhões em sorteios entre janeiro e agosto de 2016, crescimento de 6,3% em relação ao mesmo período de 2015, e o equivalente a R$ 4,1 milhões em prêmios por dia útil no período.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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