Ser sustentável e rentável, eis a filosofia da Renova Ecopeças

Garfinkel: Tenho em mente que muitos consumidores vão optar pelos produtos do grupo Porto Seguro por saber que eles têm um processo que do início ao fim valoriza o bem da sociedade
Garfinkel: Tenho em mente que muitos consumidores vão optar pelos produtos do grupo Porto Seguro por saber que ele tem um processo que do início ao fim valoriza o bem da sociedade

Com menos de um ano de vida, a Renova Ecopeças tem motivos de sobra para comemorar. De março deste ano até agora, a empresa já desmontou cerca de 2,3 mil carros, mas tem capacidade para desmontar 1,5 mil por mês. “Aprendemos muito nesse período em que estamos dedicados a construir uma empresa inovadora, que seja referência no mercado. Estamos numa curva de aprendizagem e temos muito pela frente. Avançamos com passos firmes e verdes”, diz Bruno Garfinkel, presidente da Renova e também um dos herdeiros do grupo Porto Seguro, que reúne empresas diversas, entre elas as principais seguradoras do mercado: Porto, Azul e Itaú.

A ideia de criar a Renova Ecopeças começou no período em que Bruno trabalhou na área de salvados da seguradora do grupo. O departamento visa rentabilizar as perdas com pagamento de indenizações. Como o nome diz, salvar o que puder dos carros batidos, principalmente daqueles que receberam a sentença de perda total por terem um custo de reparo maior do que o valor de indenizar um novo. Muitas vezes, a colisão danificou a frende do carro, deixando as peças da parte traseira intactas.

Ao conhecer a área em que atuava, Bruno se interessou por participar dos leilões de salvados, realizados por profissionais especializados em um pátio lotado de veículos avariados. “Fiquei impressionado com aquilo e com o interesse de tantos grupos de compradores”, contou ao blog Sonho Seguro durante visita ao impecável galpão onde todo o processo de desmonte é realizado. “Resolvi testar a lenda de que um carro desmontado valia três vezes um carro montado”.

O resultado veio provar que a lenda era a mais pura realidade. “O valor de todas as peças do carro desmontado equivalia a três vezes e meia o valor de veículo montado. Isso sem considerar a mão de obra para montar”, contou. Foi então que ele se interessou por montar uma empresa de autopeças, com a filosofia de ser líder de mercado, obedecendo todos os princípios da sustentabilidade e da Lei de Descarte de Resíduos Sólidos, promulgada em 2010, que tem como objetivo reduzir a poluição e a degradação ambiental, a partir da redução do impacto ao meio ambiente causado pelo descarte inadequado de resíduos. Chamou um grupo de executivos de private equity e pediu a eles para estudarem se a ideia de montar uma empresa seria viável do ponto de vista de sustentabilidade e de rentabilidade. A resposta do grupo de executivos especializados em startups foi animadora. A empresa teria uma margem apertada, mas seria rentável ao longo do tempo.

Animado, Bruno foi conhecer o que já havia no mundo sobre o reaproveitamento de peças de carros descartados. Priorizou Inglaterra e Estados Unidos, países onde encontrou um mercado gigante de revenda, porém sem os devidos cuidados com o planeta. Aprendeu sobre as melhores práticas e também viu as piores e os cuidados que teria de ter para não cometê-las. “Nos EUA, os carros ficam em um terreno e o serviço é no estilo self-service. O cliente vai lá e pega no ferro velho o que precisa. Só que sem os cuidados com o planeta. Ao retirar uma peça pode vazar óleo e contaminar o solo”, comentou. Eles também não se preocupam com a rastreabilidade das peças, acrescentou.

Todo o processo obedece a um criterioso processo de descarte
Todo o processo obedece determinações de descarte sustentável

Com ideias borbulhando, montou uma equipe e colocou a empresa para funcionar em março de 2015. Todo o desmonte obedece a um criterioso processo de descarte, desde o armazenamento do óleo dos motores até a negociação de itens de segurança, como cintos, amortecedores, airbags, pneus e rodas, que não podem ser reutilizados, pois colocariam em risco a segurança dos consumidores. Eles são direcionados aos seus próprios fabricantes ou empresas especializadas na reciclagem desses componentes. A lataria considerada sucata é esmagada por uma máquina instalada no local pela Gerdau, empresa líder em fabricação de aço na América Latina, que em troca fica com o alumínio empacotado e levado para reciclagem.

O objetivo dos acionistas da Renova é ter o papel de influenciar a mudança no segmento de seguros e também da sociedade em geral, tratando os resíduos poluentes e ajudando a reduzir o índice de furto de veículos com o respaldo da Lei do Desmanche, que prevê o rastreamento nacional das autopeças. Assim, as bases foram criadas para ter lucro não só rentabilizando os “salvados” para as seguradoras, mas como para ganhar como uma empresa inovadora de autopeças. A fórmula tem se mostrado um grande sucesso.

Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alkimin, fez o lançamento de um sistema online de controle de peças automotivas provenientes de desmanches na sede da Revona Ecopeças. O programa permite que os cidadãos consultem em celulares e smatphones, com ajuda de QR Codes presentes em etiquetas afixadas em cada peça com número único de série, a procedência do produto. Por meio do sistema, a população pode também fazer denúncias de desmanches com suspeitas de irregularidades. “Tivemos uma diminuição de roubo e furto de veículos. Muitos deles eram roubados para ser desmanchados e as peças serem vendidas. Nós fechamos perto de 700 desmanches ilegais”, explicou Alckmin.

Desmanches são os principais clientes
Desmanches são os principais clientes

O projeto de e-commerce que permite comercializar autopeças virtualmente, inclusive no mercado livre, já está pronto. O espaço para a área comercial está no andar de cima do galpão de 8 mil metros quadrados instalado perto no bairro do Jaguaré, em São Paulo à espera da explosão da demanda dos consumidores individuais e oficinas mecânicas. Hoje a Renova tem 9 mil itens no estoque, com uma variedade que ainda não atende às necessidades dos consumidores, em sua maioria desmanches, que buscam peças para consertar seus veículos ou para revender. “Por isso tomamos a decisão de viabilizar no business plan um cadastro no sistema no qual a Renova acessa distribuidores de peças novas e dá a solução final para o cliente sair com suas necessidades satisfeitas”.

Hoje a Renova só faz a desmontagem de carros das seguradoras do grupo. Mas está no radar, além de prestar consultoria para grupos sobre o descarte sustentável, negociar franquia para que outros investidores utilizem o método verde para reciclar carros avariados, seja de outras seguradoras como também dos que lotam os pátios dos Detrans espalhados pelo Brasil. “Acho que outras empresas vão seguir nosso exemplo. Nos já estamos inseridos no contexto das regulamentações”, diz, afirmando que o potencial de mercado para peças usadas é imenso no Brasil e exige concorrentes. Segundo ele, há 10 milhões de carros parados nos pátios para serem processados no Estado de São Paulo. “Ninguém está preparado para fazer isso”, afirma. “Eu quero desmontar carro. As empresas que quiserem doar o carro que está como passivo no terreno delas… estamos aqui para negociar”, avisa.

Atualmente, a Renova é a única que atende às exigências listadas na regulamentação prevista para o seguro popular de carro, tanto de descarte de resíduos sólidos como também de rastreabilidade das peças. O papel da Renova, segundo ele, é ser um catalizador de mudanças. Garfinkel afirma não ter como meta ser líder em vendas do seguro popular, que aguarda aprovação da Susep. O órgão regulador, por sua vez, depende de ter um mercado de peças usadas catalogadas ou genéricas para publicar o normativo que norteará as seguradoras no lançamento de apólices que podem custar 30% menos.

A ambição de Garfinkel é continuar aprendendo. “Temos erros que ainda precisamos descobrir. Abrimos a nossa porta para os críticos e colocamos em prática as mudanças sugeridas pelos especialistas no assunto”, diz. Segundo ele, usar os críticos como consultores não remunerados tem ajudado a mudar coisas simples, como, por exemplo, usar ar comprimido no lugar de eletricidade. “Tenho em mente que muitos consumidores vão optar pelos produtos do grupo Porto Seguro por saber que ele tem um processo que do início ao fim valoriza o bem da sociedade. Como líder de produto acho isso um valor e acredito nos benefícios que essa filosofia vai render no futuro”, finaliza.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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