Qual o impacto no setor de seguros se o Brasil perder o grau de investimento?

sustentabilidasdeOs impactos em seguros são significativos. Para definir o rating, as agências levam em consideração a situação econômica. No caso do Brasil, que vive uma crise e tanto gerada, em boa parte, pelos escândalos de corrupção, o selo de bom pagador pode ser retirado, uma vez que a previsão do PIB é negativa, a inflação está muito acima da meta considerando-se os últimos 12 meses, desemprego em alta, investimento em baixa, gastos excessivos do governo e meta de superávit primário, o dinheiro que deve ser separado para pagar os juros da dívida, reduzida na semana passada e com pouca chance de avançar diante de todo o cenário macroeconômico.

Caso o Brasil perca o grau de investimento, inclusive, os três IPOs previstos pelo governo para arrecadar recursos, entre eles IRB Brasil RE e Caixa Seguraridade, ficam comprometidos, uma vez que o Tesouro é acionista das duas empresas. Fora esse impacto no setor, que tem sido a bola da vez no mundo em razão de ser o responsável por três emissões de ações na bolsa brasileira, há outros problemas.

Em um recente estudo sobre o mercado segurador brasileiro que o blog Sonho Seguro teve acesso, a Moody’s afirmou que a concentração dos investimentos em títulos soberanos brasileiros pode restringir a qualidade dos ativos e diversificação do perfil global das seguradoras. Esses títulos, que estão atualmente classificados com Baa2 (negativo), são responsáveis por aproximadamente 90% do total investido da indústria de seguros.

Como resultado, qualquer alteração no rating soberano teria um impacto direto nos fundamentos de crédito das seguradoras brasileiras, através de medidas como a qualidade dos ativos, adequação de capital ajustado ao risco e flexibilidade financeira. Uma mudança no perfil de crédito soberano do Brasil também pode afetar a avaliação do ambiente operacional do país, incluindo o ponto de vista do risco sistémico, força econômica, força institucional e suscetibilidade ao risco de evento, informa a Moody’s em relatório confidencial enviado a alguns investidores.

Para quem não sabe, grau de investimento é uma espécie de selo de bom pagador, que dá segurança ao investidor disposto a fazer uma aposta no país. Apesar da crise de 2008, que trouxe uma certa descredibilidade para as agências de rating, os investidores institucionais, como fundos de pensão internacionais, seguradoras e fundos de investimentos seguem as recomendações das agências de classificação de risco para nortear seus investimentos. Algumas resseguradoras e seguradoras estrangeiras também tem em seu compliance interno só fazer negócios com companhias que tenham determinado rating.

Para complicar, clientes das seguradoras que dependem de crédito vão ser obrigadas a pagar juros maiores. As pessoas comuns também serão afetadas, pois os juros aumentam. Assim, os investidores vão procurar investimentos mais seguros, como em países como Estados Unidos. Com a saída de recursos do Brasil, a cotação do dólar tende a subir, o que já esta acontecendo, alimentando ainda mais a alta da inflação. Inflação alta, custo elevado e demanda de consumo reprimida, o temor é de que os poucos investimentos no calendário sejam suspenso e, com isso, mais cortes de empregos para que as empresas equilibrem seus custos.

Uma situação que ninguém deseja, mas que está nas mãos de políticos que tentam se manter no cargo a qualquer custo. Mesmo que o custo seja esse. Infelizmente. Mas há esperança de que tudo mude. Afinal, o Brasil é um país que surpreende a todos. Vamos torcer que agora nos surpreenda com boas decisões.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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