*matéria feita com exclusividade para o especial Seguros do Jornal Valor Econômico, que circulou dia 19 de outubro, Dia do Securitário
Quem pensa que as notícias sobre fusões, aquisições e parcerias na indústria de seguros se esgotaram está enganado. Muita coisa ainda vai acontecer para o setor atingir o nível de consolidação esperado pelos especialistas, principalmente na área de saúde.
De 2008 até outubro deste ano, foram divulgadas doze importantes transações entre seguradoras. As conversas não se limitam a seguradoras. Envolvem também resseguradoras e corretores. Algumas delas são fruto de negociações mundiais, um mercado aquecido em razão das perdas geradas pela crise financeira.
“Essa tendência deve se manter por mais algum tempo, porque grande parte das negociações visa fortalecer as empresas em função da concorrência”, diz o consultor de seguros Luiz Roberto Castiglione. As empresas buscam escala para compensar a perda do ganho financeiro gerada pela queda das taxas de juros, que até então compensavam os prejuízos operacionais, principalmente em segmentos como o de seguro de carro. “É fundamental reduzir custos neste cenário competitivo, onde o aumento de preço é praticamente um tiro no pé.”
As empresas também buscam fazer frente à necessidade de capital determinada pelas regras de risco, implementadas em 2008, com exigência gradual de aporte de recursos até 2011. Além do risco de subscrição, outros de mercado e financeiro serão incluídos na regulamentação que visa adequar a indústria de seguros brasileira aos padrões internacionais.
Planos de previdência, seguro de vida individual e títulos de capitalização são segmentos que serão incluídos nas normas e exigirão um robusto aporte de capital.
Aliado a este fato, os bancos passaram a se interessar pelo setor e são responsáveis pelos acordos que mudam a configuração do setor. A criação da Porto Seguro Itaú Unibanco Participações (Psiupar), anunciada em agosto, onde a Porto Seguro deterá o controle, ganhando o rótulo de “o negócio da década do setor de seguros”. No entanto, em outubro, o Banco do Brasil e a Mapfre anunciaram uma associação que deixou os analistas e concorrentes em dúvida sobre qual delas era a mais importante.
A disputa pelo canal de vendas do Banco do Brasil envolve um enorme número de seguradoras. A Mapfre foi a escolhida e deverá ficar com boa parte dos negócios. Segundo Aldemir Bendine, presidente do BB, a similaridade na cultura dos dois grupos teve peso importante.
Outro fator decisivo foi o contrato bem feito da Mapfre em 2005, quando comprou com ágio de 46%, por R$ 225 milhões, 51% da Nossa Caixa Vida e Previdência do governo do Estado de São Paulo, com direito de exclusividade de venda no balcão do banco, mesmo se vendido, por 20 anos. O banco paulista foi parar nas mãos do BB, que ficou preso ao contrato, e quer elevar o faturamento atual de R$ 10 bilhões com seguros para R$ 25 bilhões até 2012.
A Porto Seguro, apesar de liderar com folga as vendas em automóvel, vinha perdendo rentabilidade pela forte concorrência desencadeada pelos bancos. Resolveu seu problema ao associar-se ao Itaú Unibanco numa negociação que durou nove dias.
“A Porto Seguro e o Itaú Unibanco passarão a oferecer o que há de mais completo no mercado brasileiro para seus milhões de clientes e, em especial, para os corretores. Estamos nos entendendo muito bem e vejo que temos muito a fazer”, diz Jayme Garfinkel, presidente da Porto, que passou a deter 28% de market share em automóvel, com R$ 3,6 bilhões em prêmios até agosto. A parceria Mapfre e BB ficou em segundo, com R$ 1,8 bilhão.
Entre as outras aquisições de seguradoras há o Santander, que comprou a participação da Tokio Marine na Real Vida e Previdência e negocia o acordo de exclusividade de venda da seguradora japonesa garantido por dez anos na época da negociação, em 2005. Outra japonesa, a Yasuda, comprou 50% da Marítima Seguros, que ensaiou anos abrir o capital sem sucesso. A Minas Brasil, seguradora controlada pelo Banco Mercantil, foi comprada pelo grupo Zurich. A Mongeral, especializada em vida, fez acordo com a Aegon. A Liberty comprou a Indiana, da família Afif Domingos.
O setor de resseguros recebeu quase 70 resseguradoras desde 2008, quando o mercado foi aberto após 69 anos de monopólio. Na semana passada, o Banco do Brasil informou que pretende comprar a participação do governo no IRB Brasil Re, empresa de economia mista, com 100% das ações ordinárias nas mãos do Tesouro.
Das preferenciais, sem direito a voto, 50% pertencem ao governo e 50% estão pulverizadas entre as seguradoras, sendo Bradesco dona de 21% e Itaú Unibanco 18%. Trata-se de uma compra estratégica, que tirará os resseguradores da zona de conforto. Afinal, trata-se do governo aumentando sua fatia em um setor que acaba de privatizar.
Os corretores de seguros também são protagonistas de boa parte das fusões realizadas no setor. O grupo Aon tem sido um dos mais ativos, com mais de 15 compras nos últimos anos de corretores especializados, seja em nichos de negócios ou em regiões do país. “Estamos atentos a novas aquisições, pois nosso objetivo é estar ao lado do nosso segurado”, diz Fernando Pereira, vice-presidente da Aon.
A Lazam MDS aproveitou a crise para partir para um processo de internacionalização. “Estamos avaliando dez propostas de aquisição em seis países”, diz Eduardo Bom Ângelo, presidente da corretora que tem como controlador o grupo Suzano.
Depois de anunciar duas aquisições no início do ano, o grupo assinou em setembro um contrato para a formação de uma joint venture envolvendo quatro empresas, criando uma holding com uma carteira de prêmios superior a US$ 1,8 bilhão, o que lhe garante a 15ª colocação no ranking mundial de corretores.