A Report Sustentabilidade lançou no dia 29 a publicação Materialidade no Brasil: um ensaio qualitativo, uma análise detalhada dos processos de materialidade de quatro empresas brasileiras: Banco do Brasil, Cosan, EDP – Energias do Brasil e SulAmérica. No texto, são apresentados os desafios que essas empresas enfrentaram para implantar seus processos de materialidade, assim como iniciativas adotadas e os resultados que elas trouxeram. Também se destaca a visão da materialidade como um processo de melhoria contínua.
Segue o texto referente a SulAmérica. O relatório na íntegra pode ser visto no link http://reportsustentabilidade.com.br/rpt_estudomaterialidade_20140127_final.pdf
Mais que atualizar sua matriz de materialidade para direcionar o relatório de sustentabilidade 2012, a SulAmérica, companhia de capital aberto que atua nos ramos de seguros e gestão de ativos, atrelou esse processo ao de desenvolvimento da política e da estratégia de sustentabilidade da empresa. Abrangendo todas as operações, o processo contou com análise documental, entrevistas com 11 membros da alta gestão (presidente, vice-presidente e diretores), pesquisa para o mapeamento de temas ambientais, sociais e de governança vinculados ao setor de seguros e a própria companhia e outras seis entrevistas com representantes do governo, agências reguladoras, sociedade civil, clientes, corretores e prestadores de serviço.
Em busca de uma percepção mais qualitativa e por se tratar de uma atualização, a empresa optou por reduzir o número de consultas em 2012. Como resultado, foram identificados cinco temas prioritários: qualidade do serviço e atendimento; inovação em produtos e serviços; desenvolvimento do capital humano; responsabilidade na cadeia de valor; e educação financeira e uso consciente do seguro.
O destaque foi o alinhamento com o processo trianual de revisão do planejamento estratégico da companhia, que também teve início em 2012. A medida que a atualização da estratégia da SulAmérica progredia, os direcionamentos obtidos nessa revisão eram considerados na elaboração da política de sustentabilidade e, consequentemente, também impactava o processo de materialidade. Assim, os cinco temas prioritários apontados são reflexos dos quatro pilares estratégicos que nortearão a atuação da SulAmérica nos próximos cinco anos. Esses pilares se relacionam às áreas-foco: clientes, operação escultura organizacional e segmentos. Também ficou estabelecido que a sustentabilidade estará integrada em toda iniciativa derivada do novo planejamento estratégico.
Mesmo com o envolvimento da liderança da empresa desde o primeiro processo de materialidade, em 2012 a SulAmérica aprofundou essa participação, incluindo os membros do Comitê de Sustentabilidade (presidente, diretor financeiro e quatro vice-presidentes das principais unidades de negócio), que foram os responsáveis pela aprovação final da política e da estratégia de sustentabilidade.
Além do relatório corporativo, que busca refletir a percepção dos stakeholders a partir do resultado da materialidade, a companhia se vale de outros meios para responder às expectativas de seus públicos de relacionamento, caso dos eventos e encontros específicos com stakeholders que acontecem ao longo do ano e do acesso da equipe da área de sustentabilidade a outros meios de diálogo, como o canal de denúncias e a ouvidoria.
Como tudo começou
Desde 2008, a SulAmérica publica relatórios de sustentabilidade se- guindo as diretrizes da GRI. Como um dos dez princípios norteadores do relato corporativo, estabelecidos pela GRI, a primeira materialidade da SulAmérica foi realizada dois anos depois, em 2010. Vista como consequência de um processo contínuo de maturidade, a consulta aos principais stakeholders ocorreu apos a definição da sustentabilidade como valor corporativo e objetivo estratégico da companhia e a estruturação da Superintendência de Sustentabilidade Empresarial, em 2009.
Nesse primeiro processo, 85 pessoas foram consultadas. Para a construção do eixo interno da materialidade, foram realizadas oficinas com representantes de todas as unidades da companhia, incluindo membros do Conselho de Administração. No eixo externo, a empresa utilizou questionários (entrevistas presenciais e via e-mail) para colher as percepções de representantes de órgãos reguladores, acionistas, clientes, corretores, prestadores de serviço, fornecedores e integrantes de ONGs e de outras instituições parceiras. Ao final, foram elencados quatro temas prioritários – desempenho dos negócios, satisfação dos clientes, desenvolvimento de pessoas e governança e combate a fraudes –, que, além de servirem de base para a estruturação do relatório de desempenho, pretendiam ser incorporados no planejamento da gestão da sustentabilidade da companhia.
No ano seguinte, houve um novo processo de materialidade, desta vez com uma mudança na metodologia adotada. A partir de 43 temas levantados como relevantes em um estudo que incluiu dados sobre a SulAmérica, seu setor de atuação e os indicadores GRI, foram organizados dois painéis para a análise e priorização desses tópicos, com um total de 52 participantes. Entre os públicos de relacionamento consultados estavam gestores, executivos e membros do Conselho de Administração, e prestadores de serviços, investidores, acionistas e representantes de entidades de classe e da sociedade civil. O processo também considerou questões apontadas em outras instâncias por outros stakeholders, caso do Conselho de Clientes e dos Encontros com Corretores. Dos 43 tópicos iniciais, oito foram apontados como de alta relevância e, por isso, mais bem detalhados ao longo do relatório de 2011. São eles: atendimento e satisfação de clientes, gestão de riscos e corrupção, crescimento e mudanças no setor de seguros, perfil setorial, produtos e serviços, produtos e serviços com viés socioambiental e educação financeira.
Em evolução contínua
A construção da materialidade da SulAmérica vem evoluindo no decorrer dos anos. A diversidade de públicos consultados ao longo dos processos trouxe elementos relevantes para a análise, favorecendo a condução da estratégia de sustentabilidade de maneira consistente.
No processo mais recente, houve um forte envolvimento da alta gestão na aprovação final da política e da estratégia de sustentabilidade. Dessa forma, os temas definidos como prioritários caminham para estar intrinsecamente ligados à estratégia do negócio.
Outro elemento de destaque é a permanência do processo de materialidade na organização. No último ano, as consultas não foram extensivas como nos anteriores, entretanto, públicos-chave continuaram a ser ouvidos para atestar a validade dos temas críticos. Além de demonstrar o compromisso da organização com a sustentabilidade, esse fato fortalece o entendimento de que os aspectos são dinâmicos e que as percepções dos públicos de relacionamento devem ser sempre atualizadas.