Porto e Bradesco, da ficção para a realidade*

42-21522418A confirmação da Porto Seguro sobre negociações com o grupo Bradesco por meio de comunicado enviado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) esquentou o dia a dia das conversas de profissionais da indústria de seguros. A notícia deixou de ser um oba a oba das rodas de conversas – das mais discretas até aquelas formadas pelos fofoqueiros de plantão – para ser estampada na primeira página do principal jornal de economia do País.

Desde então, o assunto passou a ser analisado com mais profundidade e leva a reflexões sobre o segmento de automóvel, a cada dia mais competitivo e que ganha mais destaque com a reestruturação de taxas do VGBL, produto que vinha puxando o crescimento do setor e que agora terá de passar por uma ampla revisão. O tema também trouxe a tona questões como a consolidação da indústria de seguros brasileira diante da crise mundial, beneficiada pelo interesse dos investidores estrangeiros em busca de crescimento e lucratividade.

A Porto Seguro é hoje a principal seguradora de carros do Brasil. Tem o maior volume das vendas de R$ 6,5 bilhões de janeiro a maio deste ano, com market share de 20,28%, enquanto a Bradesco tem 13,40%. E por que consegue vender mais mesmo tendo um dos preços mais caros? Segundo pesquisa da CVA Solutinos, a Porto Seguro é a empresa mais bem avaliada, tanto por quem tem o seguro como por quem não tem. Quem não tem, gostaria de ter seguro com a seguradora.

Além de ter a preferência dos consumidores, tem a dos corretores. Para fazer um seguro de carro, o cliente é muito mais fiel ao corretor do que à seguradora, diz a pesquisa que entrevistou 200 corretores, dos quais 42% estão nesse mercado há mais de dez anos. A Porto, segundo relata o estudo e a realidade de quem observa este mercado atentamente, também é adorada pelos corretores por atender plenamente um dos principais critérios de escolha: a agilidade na resolução dos pagamentos de indenização, momento em que o corretor ganhará o céu ou o inferno com os clientes. É como estar acima do bem ou do mal por ter seguido uma estratégia fundamentada em atitudes justas.

No entanto, ela não é mais a única que oferece bons serviços aos clientes e corretores. Tem concorrentes fortes, focados em estruturar a operação nos últimos anos. Estrategicamente, Jayme Garfinkel e sua equipe de executivos criaram a Azul Seguros para competir no mercado.

Apesar de os executivos do grupo afirmarem que a Azul não compete com a Porto, é óbvio que atrai para si aqueles clientes que mesmo gostando dos serviços extras da Porto se vêem num momento financeiro difícil. Em vez de ir para a concorrência, migram para a Azul. Economizam e mantêm a qualidade de atendimento dos serviços básicos proporcionados pela rede de prestadores já consolidada.

Depois de deixar de lado a busca da liderança do ranking de automóvel a qualquer preço, há uns três anos, a Bradesco vem fazendo de tudo para cativar os corretores. Dia a dia tenta afinar o tato no relacionamento e ainda conta com problemas operacionais que atrasam a cotação ou elevam o preço, comentam os profissionais de vendas.

Em números, o ganho da Porto há anos vem do operacional e o da Bradesco ainda é gerado pelo financeiro. Enquanto o índice combinado da Porto é de 56,30%, o menor entre as seguradoras, a Bradesco ficou na outra ponta, liderando o ranking dos piores índices, com 81,83%, segundo estatísticas de janeiro a maio deste ano.

Para Porto e Bradesco, que juntas passariam a deter 35% do mercado de seguro de carro, escala é vital neste momento de queda de taxas de juros da economia. A Porto tem sentido mais a aproximação da concorrência e com sofrido os impactos das oscilações do mercado acionário. Agregar novos clientes e um canal de distribuição alternativo são caminhos naturais para o crescimento.

O conglomerado Bradesco, que perdeu a liderança com a fusão Itaú e Unibanco e passou a ser presidido por um executivo de seguros, sabe do potencial de ganho que uma operação de seguros bem estruturada pode gerar a um banco, principalmente no maior banco do Brasil em número de clientes e com grande potencial de venda de produtos massificados como o seguro de carro.

Em uma parceria de tamanho porte, onde a única informação é de que não haverá mudança acionária do controle da Porto, só pode se esperar que se mantenha o melhor de cada uma das empresas, como vem fazendo Itaú e Unibanco. Imagine uma Bradesco administrada pela cultura da Porto? Uma Porto Seguro tendo a oportunidade de fazer a inclusão social proporcionada pela dimensão e cultura de um Bradesco?

Seja como for, juntas ou separadas, a realidade é que não há mais espaço para serviços ruins, preço elevado e desrespeito aos direitos dos consumidores. O crescimento será uma realidade para aqueles que respeitarem o tripé da sustentabilidade, que leva em conta três aspectos: o econômico, o humano e o ambiental.

*artigo escrito com exclusividade para a Revista Apólice

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS