O que representou o acidente do Costa Concórdia para a indústria de seguros? Fui procurar uma das maiores especialistas do Brasil para responder a algumas questões: Maria Helena Carbone, diretora de Marine da Aon. Veja abaixo:
Qual o custo da remoção do Costa Concórdia?
O custo de remoção dos destroços do Costa Concórdia já alcançou cerca de USD 1,17 bilhões somente de P&I (Protection & Indemnity), totalizando US% 1,7 bilhão, se for incluído a parcela referente a perda total da embarcação. Como a operação ainda deverá perdurar até a primavera (na Italia) de 2014, este valor deverá aumentar, podendo superar U$ 2 bilhões.
Por que tão caro? É por causa da tecnologia necessária? Por que ele teve de ser removido dessa forma?
A operação de salvamento tornou-se complexa pelo exigência das autoridades italianas de que o wreck fosse removido por inteiro. Desta forma o método chamado “parbuckling” seria a única opção que atenderia esta exigência. No entanto esta operação nunca havia sido feita antes em um navio do porte do Costa Concordia, tampouco que estivesse tão perto da costa. No Parbuckling a embarcação é virada sobre um “fundo falso” – que atuaria como uma plataforma estabilizadora para o navio até ele estar pronto para reflutuar e ser rebocado ao destino definido. A remoção dos destroços em navios de grande porte é extremamente mais complicada. Para o Costa Concordia ainda mais, pela posição em que o navio se encontrava, próximo a uma área de extrema profundidade para onde ele poderia escorregar. O bordo de boreste era de dificil acesso, por estar submerso.
O alto custo justificado por:
• Cerca de 500 pessoas trabalharam no projeto elaborado por de 29 países diferentes
• 100 mergulhadores estavam na água todos os dias
• 55 soldadores, 24 horas por dia
• 28 embarcações diversas estavam no local apoiando a operação
De acordo com um relatório do Lloyds – “Os desafios e as implicações da remoção de destroços de navios no Século 21” – , o Costa Concordia demonstrou na prática que vários fatores relevantes podem aumentar severamente os custos de uma remoção de destroços, como: um navio de grande porte, num local difícil, com solo rochoso, próximo a águas muito profundas, combinado com as preocupações ambientais que levam as autoridades a exigir uma solução de engenharia complexa.
Quais eram as alternativas para a remoção?
As alternativas clássicas eram: o uso de explosivos ou o corte do casco no local com a utilização de correntes/amarras e sua remoção em pedaços. Ambas as opções, no entanto, poderiam facilmente devastar o meio ambiente e indústria turística. Por esta razão o governo italiano exigiu um processo de duas etapas que nunca foi feito nesta proporção: parbuckling e re-flutuação.
Qual a participação das seguradoras nesse processo?
As seguradoras leaders no dano material são XL Group, Generali e RSA Insurance Group plc. Entretanto, maioria das apólices marítimas são subscritas por vários seguradores, de forma que a exposição ao risco seja relativamente fragmentado. No P&I, o risco estava dividido 50/50 entre Standard CLub (líder) e Steamship Mutual (SSM). As seguradoras de danos material, após a indenização da perda total, deixaram de ter participação nesse processo. Apenas os Clubs de P&I, responsáveis pela remoção de destroços, continuam suportando financeiramente a operação. A operação está entregue aos responsáveis contratados para este fim, cabendo aos seguradores (Clubs) a supervisão e aprovação de procedimentos e custos.
Isso vai impactar o preço de seguro para embarcações?
Após toda a tragédia do Costa Concordia – a Organização Marítima Internacional estabeleceu regras mais rigorosas para a segurança dos navios de passageiros. Exercícios de segurança antes ou imediatamente após a saída tornaram-se obrigatórios em navios de cruzeiro. Várias seguradoras e resseguradoras consideram os custos envolvidos excessivos e acham que o processo tradicional de cortar o navio em partes para sua remoção teria sido mais rápido, menos onerosa e não prejudicial ao meio ambiente, uma vez que o combustível já tinha sido removido. Com relação ao Mercado de Casco e Máquinas, o impacto foi pequeno e mais concentrado no setor de embarcação de passageiros. Na parte de P&I o impacto foi mais sentido e foi distribuído pelos quatro setores de resseguro do Grupo Internacional de Clubs de P&I que congrega os 13 maiores Clubs.
O aumento verificado no resseguro da cobertura de P&I pode ser visto no quadro abaixo:
Certamente a distribuição do aumento penalizou de forma expressiva (+125,08%) os navios de passageiros, mas dentro do princípio do mutualismo, todos foram afetados de alguma forma. É esperado, por conta do incremento de custo ao longo do ano de 2013, que o custo do resseguro no P&I volte a ter impacto nas renovações de 2014.
Interressante também quando ela explica como será conduzida a operação de resgate, o chamado parbuckling. Bacana
Esta entrevista foi muito interessante de ler. Além do grande conhecimento demonstrado pela diretora da AON, disponibiliza, para quem não é da área, informações as quais não teria acesso normalmente.