Denis Morais inicia segundo mandato na FenaCap com foco em crescimento e inovação

FenaCap aposta em inovação, regulação e expansão internacional para impulsionar setor

A Federação Nacional das Empresas de Capitalização (FenaCap) inicia um novo ciclo com a recondução de Denis Morais à presidência para mais um mandato à frente da entidade. O executivo, que segue liderando o setor em um momento estratégico, destaca o potencial de crescimento da Capitalização no Brasil e no exterior, além dos avanços regulatórios que podem impulsionar ainda mais a atuação do segmento. Com um mercado que movimentou mais de R$ 26 bilhões em resgates e sorteios no último ano, a FenaCap trabalha para expandir a visibilidade e o impacto social da Capitalização, consolidando-a como um instrumento financeiro versátil e acessível.

Em entrevista exclusiva ao Sonho Seguro, Morais compartilha suas perspectivas sobre os desafios e oportunidades do setor nos próximos anos. Entre os temas abordados, ele destaca a expansão internacional da Capitalização, a concorrência com os jogos de apostas, a evolução dos produtos – incluindo os voltados para garantia locatícia e sustentabilidade –, e os impactos do cenário econômico, como a taxa de juros elevada. Confira a seguir a visão do presidente da FenaCap para o futuro da Capitalização no Brasil e no mundo.

Quais os principais desafios que o setor de Capitalização enfrentará em sua segunda gestão?

A FenaCap desenvolveu o estudo “Estimativa de Potencial de Mercado” que traz indicadores muito relevantes para nortear nosso trabalho e estimular as empresas de Capitalização associadas. Esse estudo tem sido utilizado pelas empresas para traçar estratégias de crescimento porque indica a possibilidade de o nosso setor chegar a R$ 75 bilhões em resgates e sorteios de pagamentos diretos a pessoas e empresas em 2028. Em arrecadação, podemos alcançar cerca de R$ 91 bilhões. Em relação às reservas técnicas, que medem a robustez financeira do segmento, em dezembro, totalizamos R$ 41,5 bilhões e o potencial é superar os R$ 100 bilhões em quatro anos. Os resultados positivos são uma prova da versatilidade e da capacidade de inovação da Capitalização ao longo de décadas. 

Quais oportunidades acredita que podem ser exploradas para impulsionar o crescimento do mercado em 2025?

Em 2025, vamos trabalhar para avançar em questões regulatórias, que precisam de aprimoramentos para alavancar o desempenho e ampliar a oferta de benefícios para pessoas e empresas. Destaco a implementação da possibilidade de uso dos títulos de Capitalização como garantia em licitações, contratos públicos e Parceria Público-Privadas para a oferta de bens e serviços nos âmbitos federal, estadual e municipal, um importante avanço regulatório, sancionado na Lei nº 14.770/23 e que pode trazer grandes benefícios econômicos e sociais para nosso país. Outra frente, que é considerada uma grande inovação deste segmento, será a continuidade ao projeto de expansão para outros países. Liderados pelo Brasil em 2024, países como Chile, Colômbia, México, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela fizeram parte do grupo de trabalho voltado a internacionalizar a Capitalização. Em 2025, vamos estreitar relações com os interessados e começar as reuniões bilaterais para auxiliar no desenvolvimento do arcabouço regulatório e dos negócios nesses países. Queremos passar nossa experiência e competência técnica para que o segmento possa levar benefícios sociais e econômicos a outros países. 

Como a FenaCap e as empresas do setor podem se posicionar diante da concorrência com os jogos de apostas, que têm atraído grande parte do dinheiro da população? Existe alguma estratégia para diferenciar os produtos de capitalização neste cenário? 

São produtos com propostas diferentes. Quem busca os títulos de capitalização quer segurança e sabe que terá direito a um resgate.  Os produtos oferecem diversos tipos de benefícios bem diferenciados. Há produtos que incentivam a acumulação de reserva financeira para a realização de algum projeto, ou sonho, há outros que são utilizados como garantia de contratos de qualquer natureza, representando uma segurança para as partes envolvidas, há produtos com um fim beneficente, nos quais parte do valor arrecadado é doado para entidades filantrópicas com atuação social, e há produtos que são utilizados pelos donos de negócio para alavancar ações promocionais que geram mais vendas. As modalidades de títulos de Capitalização são propostas de valor diferenciadas, bem específicas, versáteis e que continuam sendo procuradas pelos diferentes segmentos de clientes atendidos pelas empresas e seus parceiros. O foco do mercado está em continuar inovando para oferecer um serviço mais ágil, assertivo e seguro para estes clientes.

Quais produtos de Capitalização você acredita que terão maior destaque em 2025?

Para impulsionar inovações mais disruptivas, é fundamental realizarmos ajustes na regulamentação do setor. Seguimos incentivando nossas associadas a desenvolverem novas soluções em todas as modalidades, atendendo tanto pessoas físicas quanto jurídicas, cada uma com necessidades específicas. Nos últimos meses, observamos um crescimento expressivo na demanda por todos os produtos de Capitalização. Dados recentes da Superintendência de Seguros Privados (Susep) mostram que a modalidade Tradicional arrecadou R$ 23,1 bilhões entre janeiro e dezembro de 2024, demonstrando sua solidez e adesão contínua. Já a Filantropia Premiável alcançou R$ 4,05 bilhões no período, possibilitando o repasse de R$ 1,93 bilhão para entidades filantrópicas – um avanço de 20% em relação a 2023. Outra modalidade em crescimento é a de Incentivo, que totalizou R$ 218 milhões em sorteios, registrando uma alta de 19% na comparação anual, uma contribuição relevante para o crescimento de pequenos e grandes negócios. Esses números reforçam o papel da Capitalização como um mecanismo relevante para a economia brasileira, beneficiando tanto consumidores quanto instituições filantrópicas e empresas. No total, somamos mais de R$ 26 bilhões em pagamentos de resgates e sorteios, reinjetando recursos na economia e estimulando o consumo. Diante do cenário de juros elevados, os consumidores tendem a ficar mais atentos à segurança e ao planejamento financeiro, o que pode levar a novas adaptações nos produtos. O setor permanece dinâmico e pronto para evoluir conforme as necessidades do mercado.

O título de Capitalização de garantia locatícia já se consolidou no mercado?

O Título de Capitalização na modalidade Instrumento de Garantia é uma opção prática e segura para quem busca alternativa à figura do fiador ao negociar o aluguel. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país há 74 milhões de imóveis. Ao todo, 16 milhões são alugados, sendo que em 14% deles os inquilinos recorrem a alguma garantia locatícia paga. Os títulos ganharam espaço nesse mercado, mas ainda é possível expandir a sua utilização. Eles podem ser usados em outros tipos de contratos privados, tais como locações comerciais, locação de equipamentos, empréstimos, locação de eventos, obras e prestação de serviços, entre outros. E, há pouco mais de um ano, como já mencionei, foi sancionada a Lei nº 14.770/23, que permite o uso de títulos de Capitalização como garantia em licitações e contratos públicos e Parcerias Público-Privadas para a oferta de bens e serviços nos âmbitos federal, estadual e municipal. A operação é válida em todos os modelos de contratação pública. Caso ocorra qualquer incorreção ou descumprimento do que foi firmado na licitação pública, o resgate é feito em nome do poder público, para honrar o compromisso assumido. A FenaCap está empenhada em estruturar a viabilização dessa iniciativa, que vai ampliar a atuação do nosso setor. Temos bastante trabalho pela frente, pois é uma novidade que ainda não é conhecida pelas instituições públicas contratantes, pelas empresas que fornecem ou desenvolvem parcerias com governos, nem pelas agências ou órgãos governamentais que apoiam estes processos de contratação. É um oceano azul em que estamos começando a navegar.

E em relação aos títulos de capitalização sustentável, qual tem sido a receptividade do público? Existe a intenção de lançar novos produtos voltados para a sustentabilidade, talvez alinhados à COP 30? 

Em relação à sustentabilidade, podemos citar os títulos de Filantropia Premiável, que já são um case de sucesso, um importante mobilizador social, pois dá suporte ao funcionamento de instituições e apoia milhares de pessoas. Atualmente, repassamos valores para cerca de 60 entidades que possuem o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (Cebas). Temos iniciativas para trabalharmos em mudanças regulatórias para possibilitar que as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) também recebam recursos arrecadados por essa modalidade. Hoje as OSCIPs não podem receber esses repasses de títulos de capitalização. Entre elas há entidades voltadas a temas como cultura, patrimônio histórico e artístico e até segurança alimentar, desenvolvimento sustentável e combate à pobreza. Essa possível mudança regulatória vai possibilitar que o setor amplie seu impacto social e contribua diretamente para iniciativas ambientais positivas. Também estão sendo avaliados pelas empresas novos produtos nas demais modalidades que contribuirão diretamente com a sustentabilidade.  Estamos trabalhando para ampliar essa agenda. 

Como o setor tem enfrentado a alta da taxa de juros no Brasil, considerando que os investidores podem buscar outras aplicações financeiras? Existe uma estratégia para reforçar o atrativo dos títulos de capitalização como instrumento financeiro para diversos perfis de público?

Os títulos de Capitalização não são considerados um investimento. Como acabamos de detalhar, são produtos que têm proposta de valor bem distintas e bastante versáteis, que atendem a diferentes necessidades dos clientes. Estímulos à constituição de reserva para a realização de projetos ou sonhos, garantia a contratos de qualquer natureza, apoio direto a entidades filantrópicas, todos estimulados pelo lúdico dos sorteios, e apoio a ações promocionais de pequenos e grandes negócios são algumas das propostas que são consideradas valiosas por nossos clientes. Ao longo dos seus 95 anos, o segmento já passou por diversos momentos de variação dos juros e cenários econômicos diversos. A oferta de produtos e os negócios continuam resilientes e atrativos. Seguimos firmes e confiantes nessa linha, buscando cada vez mais oferecer agilidade, assertividade, transparência, inovação e segurança para nossos clientes. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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