O grupo segurador espanhol MAPFRE está aberto à inovação e busca parcerias com startups que desejam escalar. “O sonho do setor de seguros é inovar, e, por isso, colaboração é a palavra-chave hoje. Inove, transforme, sempre com o propósito claro de sermos pessoas cuidando de pessoas. Queremos proteger a maior camada possível da população brasileira e fazer isso com vocês, insurtechs”, disse Felipe Nascimento, CEO da MAPFRE América Latina, na abertura do MAPFRE Innovation Summit 2025, realizado na manhã do dia 25 de fevereiro, em São Paulo.
Nascimento citou alguns exemplos citados sobre o uso de tecnologia. Segundo ele, 60% dos atendimentos da MAPFRE são realizados via WhatsApp. O cliente faz a avaliação dos danos, a inteligência artificial estima os custos, indica uma oficina e, no final das contas, o processo melhora a satisfação do cliente e reduz custos. “Vivemos um avanço apaixonante da inovação no Brasil, com foco na melhoria da experiência do cliente e na redução de custos. E esta jornada está apenas no início. Temos muito a fazer daqui para frente”, finalizou Nascimento.
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Hugues Bertin, influenciador número um no mundo sobre inovação em seguros, foi o primeiro palestrante do evento e apresentou o estudo “Digital Insurance 2025”. Segundo ele, “cada país está vivendo uma realidade totalmente única”. Bertin destacou a importância das associações para alavancar o crescimento das startups de seguros na América Latina, especialmente nos principais países da região.
A captação de investimentos na América Latina nos últimos 10 anos foi de US$ 506 milhões (sem Brasil). Apenas o Brasil arrecadou US$ 743 milhões. De acordo com o estudo apresentado, o financiamento de insurtechs na América Latina atingiu seu pico em 2021, com US$ 420 milhões, e caiu para US$ 92 milhões em 2024, representando uma queda de 78%. O Brasil é um terço deste valor.
O levantamento revelou que, em janeiro de 2025, a América Latina contava com 502 insurtechs, sendo 70 novas apenas no primeiro mês do ano. Em 2024, o número de startups de seguros totalizou 432 na região. O índice de internacionalização foi de 14%, e o índice de atração de investidores chegou a 24%. A taxa de mortalidade das insurtechs na América Latina é de 11%, enquanto no Brasil é de 7%. “O Brasil se destaca como um mercado único no cenário latino-americano, com 206 insurtechs e um crescimento de 6% em 2024, comparado a 2023. É um mercado predominantemente interno e inovador”, afirma o palestrante.
No quesito distribuição, houve mudanças no mercado. Em 2020, a distribuição representava 59% das insurtechs; em 2024, caiu para 51%. Já as enablers (facilitadores) subiram de 41% em 2020 para 49% em 2024. No ranking das principais insurtechs da América Latina, aparecem cinco empresas de destaque: Sami, Loovi, 180 Seguros, Blucyber e Lina.
O estudo de Bertin reforça que, apesar dos desafios, o mercado de insurtechs na América Latina continua evoluindo, com destaque para a internacionalização e novas oportunidades de crescimento. “O que é preciso agora atentar-se é exportar para outros países o que o Brasil tem feito de bom”, afirma.
Nos últimos quatro anos, a internacionalização das insurtechs cresceu significativamente: em 2020, apenas 6% das startups operavam fora do país de origem, enquanto hoje esse número subiu para 28%. O México conta com 120 insurtechs, continua atraente e apresenta uma taxa de internacionalização de 36%. A Argentina cresceu 88% e se caracteriza por um perfil altamente internacional. Já o Chile apresenta um crescimento sustentável de 21%, mesmo sem novos investimentos. A Colômbia cresce a uma taxa de 18% e atrai 51% dos investimentos internacionais.
Leire Jiménez, chief innovation officer da MAPFRE Global, contou que o grupo espanhol passou por três fases importantes de inovação. Entre 2005 e 2014, o foco foi a transformação digital inicial, com a implementação de seguradoras digitais e a adaptação às novas tecnologias emergentes. De 2015 a 2023, o ponto alto foi a expansão das iniciativas digitais, consolidando a inovação como um pilar estratégico e integrando soluções tecnológicas avançadas nos processos e serviços oferecidos.
Já o plano do período de 2024 a 2030 inicia uma nova fase, com o objetivo de aprimorar o desenvolvimento de negócios, otimizar processos decisórios e manter a empresa à frente das tendências de mercado para melhor atender aos clientes. Esta etapa é liderada por Leire Jiménez, que busca fortalecer a posição da MAPFRE como referência em inovação no setor de seguros. “Essas fases refletem o compromisso contínuo da MAPFRE com a inovação e a adaptação às mudanças do mercado, garantindo soluções eficientes e atualizadas para seus clientes, com destaque em três tendências: riscos emergentes, nova mobilidade e longevidade.”
Hugo Assis, diretor geral de estratégia e transformação da MAPFRE no Brasil, ficou surpreso com a baixa internacionalização das insurtechs revelada no estudo, pois acredita que o país é muito diverso e tem capacidade de exportar tudo o que é feito aqui. O programa Tubarões é o motor de engajamento da empresa com a inovação. Ele contou que a empresa registrou aproximadamente 90 iniciativas em 2024, com mais de 150 colaboradores envolvidos, 25 projetos e mais de 15 startups testadas e contratadas.
“Queremos desenvolver produtos com impacto e potencializar a hiperpersonalização. Um exemplo são os seniors, que possuem necessidades específicas. Utilizaremos realidade virtual para atender idosos. Com um celular, eles podem receber suporte, como em casos de vazamento de água, por exemplo. Esse atendimento é prestado pela Mawdy, empresa que presta assistências para a MAPFRE.”
Assis destacou como tendências os canais alternativos, o embedded insurance (seguros embarcados), programas de qualidade de vida integrados aos seguros da MAPFRE, maior integração das insurtechs com seguradoras, seguros de impacto e, por fim, a inteligência artificial aplicada ao negócio, incluindo atendimento, retenção e eficiência. “Temos muitas dores e as insurtechs têm grande capacidade de criar mecanismos para solucioná-las. Estamos de portas abertas para as insurtechs”, finalizou Assis.
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Investimentos, inovação, regulação e crescimento no setor de seguros
A segunda parte do evento reuniu especialistas do setor de seguros, insurtechs e investidores para debater a inovação e o futuro do mercado segurador na América Latina. Mediado por Hugo Assis, da Mapfre, o encontro contou com a participação de Alexandre Leal, diretor da CNseg, Cristiano Saab, da insurtech Klimber, Rafaela Andrade, gestora do fundo Mundi Ventures, e Gabriel Purkyt, da consultoria Boston Consulting Group (BCG).
O fundo de investimento Mundi Ventures, com sede em Madri, Espanha, anunciou um novo foco na América Latina. Atualmente, o fundo já investiu US$ 30 milhões na região e planeja expandir esse montante para US$ 100 milhões nos próximos três anos. Segundo Rafaela Andrade, o objetivo é investir em startups que operam na interseção do seguro com outros setores, como fintechs e healthtechs. “Percebemos o potencial do mercado segurador na América Latina devido à sua baixa penetração no PIB. Não olhamos apenas para as 500 insurtechs mapeadas no estudo, mas para startups em séries A e B, e empresas que podem agregar seguros como parte do seu modelo de negócio”, afirmou.
Gabriel Purkyt, da BCG, destacou que, apesar dos últimos dois anos terem sido lucrativos para as seguradoras, os próximos anos trazem desafios significativos. Entre eles, mencionou a instabilidade política, a evolução da inteligência artificial generativa (GenAI), o impacto das mudanças climáticas e a necessidade de adaptação às novas gerações de consumidores. Além disso, apontou que a regulamentação do setor está em constante evolução, o que exige flexibilidade das empresas.
No contexto global, Purkyt citou a experiência da Ping An, seguradora chinesa que conseguiu revolucionar sua operação ao fornecer tecnologia diretamente para corretores e fornecedores. “Essa estratégia pode inspirar insurtechs brasileiras a agregar mais valor ao setor”, afirmou.
Hugo Assis ressaltou que a regulamentação pode ser uma aliada da inovação, citando exemplos como a evolução dos meios de pagamento no setor. Alexandre Leal, da CNseg, complementou ao afirmar que regulações bem estruturadas ajudam a modernizar o setor. “O setor de seguros é muito rico em dados, e um dos desafios é garantir a proteção dessas informações, especialmente com a LGPD. O Sandbox Regulatório tem sido essencial para impulsionar novas seguradoras e trazer mais inovação ao mercado”, disse Leal.
Sobre o Open Insurance, Leal mencionou que ainda há barreiras para sua adoção plena pelas seguradoras, principalmente devido aos investimentos necessários para viabilizar sua implementação. “Apesar disso, o Open Insurance representa uma grande oportunidade para o setor”, afirmou.
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O evento foi encerrado por Alessandro Octaviani, superintendente da Susep, que destacou a necessidade de inovação para ampliar a penetração do seguro no Brasil. Citando a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, Octaviani ressaltou a urgência de maior cobertura securitária, já que as perdas econômicas foram superiores a R$ 100 bilhões, enquanto os valores indenizados pelo mercado segurador somaram apenas R$ 6 bilhões.
Octaviani também pontuou três desafios cruciais para o futuro do setor: a supervisão das novas entidades que entram no mercado, a implementação do Sistema de Registro de Operações (SRO) e a evolução do Open Insurance. Ele defendeu que o Open Finance, que integra bancos e seguradoras, pode liberar mais de R$ 1,4 trilhão em previdência para servir como garantia de crédito, o que equivaleria a quatro vezes o BNDES. “Para que isso aconteça, a jornada do consumidor precisa estar bem estruturada”, disse.
Por fim, destacou a relação entre seguros e infraestrutura como um tema estratégico para a economia. “Temos mais de 10 mil obras paradas no Brasil. Uma boa gestão do seguro garantia pode permitir a retomada desses projetos e garantir maior segurança para investidores”, finalizou Octaviani.