A longevidade e seu impacto nos setores de seguros e previdência foi tema central do primeiro painel do Fórum Fenaprevi, intitulado “Ciência e Tecnologia Transformando a Previdência e Seguros: O Que Esperar do Futuro?”. Moderado pela vice-presidente da Fenaprevi, Ângela Assis, o painel contou com uma palestra da renomada especialista Mayana Zatz, da USP, além da participação de Fabio Gandour (COESA), Carlos Gondim (Porto Seguro), Jéssica Bastos (Susep) e do economista Andrew Scott.
Mayana Zatz, uma das principais referências no estudo do genoma humano e células-tronco, apresentou os avanços científicos que buscam compreender as características de pessoas que vivem mais de 100 anos com saúde e disposição. Coordenando pesquisas no Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, Zatz explicou que seu objetivo é identificar genes que contribuem para a longevidade excepcional.
“Queremos entender o que esses genes regulam no organismo dessas pessoas e como isso ajuda a envelhecer sem doenças”, destacou. Ela também ressaltou que, enquanto fatores ambientais e comportamentais têm grande impacto na juventude, a influência da genética se torna predominante em idades mais avançadas, chegando a representar até 80% da longevidade em pessoas acima de 90 anos.
Mayana enfatizou a importância de discutir as implicações de estender a vida humana, desde o impacto nos sistemas de saúde e previdência até as desigualdades no acesso a terapias antienvelhecimento. “Ainda há muito a ser descoberto, mas os centenários saudáveis fornecem insights valiosos através de suas histórias de vida e dados genéticos. A inteligência artificial tem um papel crucial para melhorar a medicina, mas acredito que a inteligência humana continuará sendo decisiva para o avanço dos nossos estudos”, afirmou.
Carlos Gondim, diretor de vida da Porto Seguro, abordou os desafios enfrentados pelas seguradoras diante da crescente longevidade. Ele destacou o esforço necessário para separar possibilidades de promessas nos dados usados para precificar produtos de vida e previdência. “A inteligência artificial pode nos ajudar a deixar de olhar para o retrovisor e focar no futuro”, comentou.
Outro ponto crítico, segundo Gondim, é como lidar com pessoas que chegam aos 60 anos sem preparação para viver mais, seja em termos de saúde, finanças ou planejamento de vida. Ele mencionou exemplos internacionais de produtos voltados para pessoas acima de 60 anos, com condições diferenciadas, e destacou a necessidade de soluções específicas para esse público.
Gondim também ressaltou a importância do novo marco regulatório da previdência, que oferece maior flexibilidade para o desenvolvimento de produtos adaptados a todas as fases da vida. Além disso, ele enfatizou a urgência de promover educação financeira de longo prazo para jovens, abordando o futuro de forma clara e conectada com a realidade transformadora que os aguarda. “Estamos num processo de evolução e ainda temos muito o que fazer”.
Representando a Susep, Jéssica Bastos destacou que o mercado de seguros e previdência deve ser dinâmico e flexível para se adaptar às mudanças. “A realidade é mutável, e a flexibilidade se torna essencial para garantir a saúde do setor”, afirmou. Ela também reforçou que os avanços tecnológicos devem ser usados com responsabilidade para ampliar o acesso à proteção financeira.
Segundo ela, a Susep tem um titular apaixonado por inovação tecnológica e como o Estado tem de ter um agente ativo, colocando a AI em todas as iniciativas desta gestão da autarquia. “A agenda trouxe uma aproximação da autarquia com setor com diversos grupos de trabalho para ampliar o acesso ao seguro, reduzir preco e aumentar a capilaridade, com projetos que pode atrair financiadores para diversos temas, inclusive educação financeira”.
Ângela Assis, mediadora do painel, apontou que as empresas precisam criar oportunidades no mercado de trabalho para pessoas com mais de 60 anos, garantindo a movimentação econômica e reforçando a importância da ética no uso da inteligência artificial para promover a longevidade saudável. “O Brasil está envelhecendo rapidamente, com baixos níveis de poupança individual e insuficiência na educação financeira. A partir de 2031, teremos mais pessoas usufruindo dos benefícios do governo do que contribuindo para ele. Como resolver isso? Enfrentamos um problema estrutural que exige mudanças profundas”, alertou.
Viver mais é muito bom, mas temos de ter qualidade, afirmou a mediadora do painel, Ângela Assis. Ela ressaltou que as empresas precisam criar mercado de trabalho para pessoas +60 para fazer o mercado girar e também destacou a importância da ética no uso da AI em todos os seus sentidos que envolvem a busca por uma longevidade saudável. O Brasil está envelhecendo muito rápido, tem um baixo nível de poupança individual e educação financeira insuficiente. A partir de 2031 teremos mais pessoas usufruindo dos benefícios do governo do que contribuindo para ele. Como vamos resolver isso mundialmente, e especialmente no Brasil, que envelhece rapidamente a partir de agora?
“É um problema em relação em recursos”, reforça Scott. “A solução é mudar como envelhecemos. Aumentar taxa de natalidade, mas não entendo este raciocínio. Fazer uma pessoa ter filhos, algo que ela não quer, para resolvermos um problema da previdência social de um país. A imigração é outra tentativa dos governos, atraindo mais jovens para países já com mais idosos, o que para mim não vai ser solução. O sistema previdenciário é um esquema de pirâmide e nunca tem o suficiente. Ele só funciona se tem gente entrando. E não é isso que esta acontecendo. Isso precisa mudar. E sobra um ponto que defendo: que todos permaneçam mais saudáveis, com acesso a qualificações profissionais para serem produtivos no mercado de trabalho que lhe dá renda para viver mais”, finaliza.