UNEP FI e ICS enfatizam seguro como um instrumento para mitigar impactos climáticos

CNseg promoveu debate na COP29, em Baku, Azerbaijão

Carla Simões, de Baku

Na Conferência do Clima, em Baku, no Arzebaijão, entidades internacionais como a UNEP FI, a iniciativa financeira do programa das Nações Unidas para o meio ambiente, e o Instituto Clima e Sociedade (ICS) disseram que os produtos do mercado segurador são instrumentos fundamentais no processo de mitigação e adaptação aos riscos do clima como os seguros rural, para infraestrutura e os inclusivos.  

As duas entidades participaram do painel “O Papel do Setor de Seguros na Transição Climática – De Baku a Belém”, promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), e que recebeu também a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o deputado federal Arnaldo Jardim.  

Butch Bacani, head de Seguros da UNEP FI, disse em sua apresentação que não há indústria melhor no mundo que consiga acelerar e ajudar neste processo de transição climática que as seguradoras.  É possível, segundo ele, canalizar parte dos recursos para investimentos na transformação da economia para baixo carbono. 

 Maria Netto, CEO do Instituto Clima e Sociedade, alertou para a frequência e severidade dos fenômenos climáticos com impactos cada vez mais negativos para as economias no mundo todo. Ela, inclusive, levantou preocupações sobre a elevação de um risco sistêmico do setor financeiro e segurador devido à falta de ferramentas disponíveis e capazes de considerar os novos cenários levando em conta as mudanças do clima. 

“Sistemicamente se não começarmos a considerar os novos cenários, há um risco de falha no sistema. A segunda coisa é a falta de ferramentas que conversem com seguros e o setor financeiro. No ICS, temos ferramenta sofisticada sobre vulnerabilidade com algumas projeções, mas muitas falhas. É uma ferramenta de governo que não foi feita para isso” 

A executiva defende que os tomadores de decisão local como governo e investidores encontrem uma ferramenta útil e comum a todos para avaliar e precificar igual o risco dado a nova realidade.

“Ano passado foram contabilizados US$ 280 bilhões de perda com desastres naturais no mundo, 40% estavam segurados. Isso significa uma perda enorme que não foi planejada e a probabilidade é que isso continue crescendo exponencialmente a partir de um certo momento se não estabilizar o efeito do gás estufa e a temperatura da terra”, ressaltou Maria Netto. O presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, que conduzia o painel, acrescentou que o setor segurador tem capacidade de fazer muito mais se instrumentalizado.

CNseg e ICS também falaram sobre o potencial do Adapta Brasil, uma plataforma do Ministério de Ciência e a Tecnologia que integra dados de riscos e de vulnerabilidades climáticas. É de interesse comum que o Adapta seja aperfeiçoado, com aplicações customizadas para o setor segurador.

O deputado federal Arnaldo Jardim disse, durante o painel em Baku, que não há como falar em financiamento da transição climática sem pensar conjugado com o setor segurador e chamou a atenção para o exemplo da infraestrutura brasileira que hoje, segundo a legislação atual, todo o compartilhamento de risco seja de demanda ou da operação fica para o concessionário. 

Jardim disse que em fevereiro apresentará um projeto que vai alterar a lei das concessões que vai incluir o princípio do compartilhamento de risco, ou seja, os riscos climáticos e de demanda serão estabelecidos de forma mais solidária entre os partícipes da obra para dar garantia de continuidade.

Butch Bacani defendeu a participação do setor segurador nas concessões e projetos desde o dia zero para mitigar e compartilhar os riscos. “Infraestrutura deve ser prioridade número um e o seguro deveria ser envolvido na construção do projeto para garantir infraestrutura adequada as novas necessidades de resiliência climática, garantindo assim maior sucesso e redução de risco”, completou. 

Seguros para o agronegócio

Além dos seguros para infraestrutura, os painelistas alertaram para o impacto das mudanças climáticas na agricultura brasileira. Atualmente, cerca de 7% da área cultivada no País tem seguro rural, alertou o deputado Arnaldo Jardim, que é vice-presidente da Frente Parlamentar da Agricultura. Hoje, disse, o sistema de informação, de meteorologia é insuficiente para estabelecer parâmetros necessários para o produtor rural e por isso, tem defendido cada vez mais o seguro paramétrico. 

Davi Bomtempo, diretor de Sustentabilidade da CNI, reiterou o compromisso da indústria com a agenda de descarbonização e destacou o papel do seguro na mitigação dos riscos climáticos que comprometem diversas atividades econômicas do País. “Existe um amplo mercado que precisa avançar em termos de seguros e falamos em várias agendas de certificação. Talvez o seguro seja forma complementar dessa certificação que passa a ser mais robusta”. 

O executivo da CNI acrescentou que o setor produtivo brasileiro trabalha com comando, controle e fiscalização para o baixo carbono e a gestão de risco conecta com agenda de adaptação climática mais positiva e que conecta com infraestrutura resiliente que vem crescendo nas COPs.

Seguros Inclusivos

 Butch Bacani acrescentou que, além da infraestrutura, os seguros inclusivos devem ser prioridade para o Brasil. Dyogo então aproveitou para ressaltar a importância do Seguro Social de Catástrofe, um seguro inclusivo apresentado pela CNseg a deputados e ao Executivo. 

“Estamos defendendo o seguro social de catástrofe com indenização de R$15 mil para as pessoas afetadas por enchentes”. O executivo da CNseg acrescentou também que recentemente foram lançadas as primeiras apólices de seguros de reflorestamento, em parceria com órgãos florestais brasileiros para parcerias público-privadas de restauro”. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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