Seguro de vida precisa se reinventar para reduzir o gap de proteção financeira da sociedade

No evento CQCS Insurtech & Inovação, realizado em São Paulo nos dias 12 e 13 de novembro, o painel “Reinventando o Seguro de Vida Todo Dia” trouxe para discussão os desafios e oportunidades do mercado de seguros de vida no Brasil. O debate contou com a presença de Nuno David, diretor comercial de marketing da MAG Seguros, Ramon Gomez, vice-presidente comercial da MetLife, e Rogério Araújo, sócio da TGL Corretora de Seguros.

Para Nuno David, a penetração do seguro de vida no Brasil ainda é muito baixa: apenas 17% da população possui cobertura, e a maioria dessas apólices são contratadas como parte de financiamentos, sem que os consumidores estejam plenamente conscientes da proteção que possuem. Segundo ele, a porcentagem de pessoas que contratam seguros por meio de uma venda consultiva pode ser inferior a 5%. “Temos um grande número de famílias que não possuem a proteção financeira necessária para manter seu padrão de vida em caso de imprevistos”, afirmou.

David destacou a importância de encontrar novas formas de atingir diferentes públicos e a necessidade de ampliar o portfólio e a inovação, especialmente em um país tão diverso quanto o Brasil. Uma das iniciativas da MAG Seguros é criação da seguradora digital F/Seguros, em parceria com a Favela Holding.A estratégia inovadora de seguros nas favelas, que visa oferecer proteção para uma população estimada em 18 milhões de brasileiros, tradicionalmente com pouca oferta de serviços financeiros. “Esse é um trabalho que abre um mercado enorme”, reforçou. O diretor da MAG também citou iniciativas como o Open Insurance e a regulação de seguros on-demand, que abrem novas possibilidades de mercado e são oportunidades para os corretores de seguros explorarem.

Ramon Gomez trouxe uma abordagem mais filosófica sobre o papel da inteligência artificial (IA) como uma força transformadora da sociedade, que deve ser entendida e avaliada pelo setor de seguros. Ele pontuou que a IA pode trazer neutralidade e precisão para decisões de precificação, algo que atualmente enfrenta falhas devido ao medo de perder negócios. Gomez comentou que, embora a IA traga oportunidades, também levanta preocupações, especialmente quanto ao controle sobre suas operações. Ele citou exemplos de drones militares que reagiram de forma inesperada, destacando o perigo de confiar cegamente na tecnologia.

Para Gomez, a evolução tecnológica tem o potencial de criar um cenário distópico, com até 50% de desemprego no mundo, gerando uma nova classe de “inúteis laborais” que perderiam suas funções tradicionais. “Precisamos de políticas inclusivas e de uma melhor distribuição de renda para que a transformação digital e a IA tragam dignidade e oportunidades, especialmente para pessoas que hoje estão desassistidas”, afirmou.

Rogério Araújo defendeu que a expansão do seguro de vida passa por educação e conscientização da população. “Precisamos levar o seguro de vida para a sociedade e assumir o protagonismo na educação financeira”, disse. Segundo ele, o papel dos corretores é fundamental, pois eles precisam despertar nos clientes a necessidade de proteção financeira para garantir que suas famílias possam manter o padrão de vida, mesmo em momentos de crise.

Araújo destacou o movimento “Minha Vida Protegida”, que tem como objetivo levar a importância do seguro de vida para a sociedade brasileira. “De janeiro a agosto de 2024, o setor pagou R$ 24 milhões por dia em indenizações de seguros de vida individuais e coletivos. Precisamos investir em educação e reinventar o seguro todos os dias para torná-lo acessível a uma população em constante transformação”, finalizou.

O debate reforçou a necessidade de inovar no setor, buscando um equilíbrio entre a evolução tecnológica e a inclusão de um público diverso e, muitas vezes, desassistido. Os participantes enfatizaram a importância de adaptar o seguro de vida às diferentes realidades do Brasil e de investir em educação para que a população entenda e valorize a proteção financeira proporcionada pelo seguro. “Este é o maior desafio do segmento de seguro de vida dos próximos anos. Como incluir a multidão das pessoas que estão desassistidas. Talvez a gente tenha falhado em conquistar as pessoas que estão investindo em bets. Espero que a gente tenha a sorte de mudar isso”, finalizou Ramon Gomez.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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