Relação comercial entre Brasil e Reino Unido é evidenciada em evento de seguros em Londres

“O setor de seguros tem um papel muito importante para enfrentar as mudanças climáticas. Por exemplo, se aumentarmos o capital de resseguros em 1%, reduziremos em 22% os custos para os contribuintes,” disse Cathryn Law

Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), destacou, na abertura do Fórum Brazil UK, o papel vital do setor segurador na economia brasileira e as oportunidades de crescimento e inovação no mercado. Segundo ele, o Brasil vem atraindo investimentos das maiores seguradoras e resseguradoras internacionais, refletindo um mercado moderno e em expansão.

“Temos hoje cerca de R$ 2 trilhões em reservas técnicas, que representam 26% da dívida pública brasileira, uma contribuição relevante para o país”, afirmou Oliveira. Ele ressaltou ainda o volume de indenizações pagas em 2023: “Recebemos mais de 60 mil pedidos de indenizações, que totalizaram R$ 6 bilhões, contra uma perda econômica estimada em R$ 100 bilhões. Esse é o nosso maior desafio: expandir o acesso aos produtos de seguro para que mais pessoas possam ter estabilidade financeira diante de momentos difíceis.”

Oliveira enfatizou também a necessidade urgente de o setor enfrentar os riscos climáticos. “Não há como escapar dos riscos climáticos; as seguradoras precisam estudá-los para oferecer soluções adequadas. A mudança climática chegou a um ponto crítico, com o aquecimento global atingindo 1,5°C. O setor de seguros tem um papel essencial na transição energética, e precisamos aproveitar a oportunidade que os riscos climáticos nos oferecem”, disse ele, ressaltando a importância da inovação contínua no setor.

Outro ponto prioritário, segundo Oliveira, é a segurança cibernética. “Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia e colocamos nossa vida inteira no celular, acreditando que estamos seguros. No ano passado, o Brasil sofreu cerca de 8 bilhões de ataques cibernéticos. Precisamos desenvolver tecnologias que garantam a eficiência e a produtividade, mas também minimizem os riscos associados”, pontuou ele.

Para encerrar, Oliveira destacou a relevância da infraestrutura como terceira prioridade nas discussões do evento. O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal prevê investimentos de R$ 1,7 bilhão em diversos modais de infraestrutura no país, onde o setor segurador desempenha um papel fundamental.

“Nenhuma obra ocorre sem a participação do setor de seguros. Estimamos R$ 5 bilhões em prêmios para o setor apenas com os projetos já mapeados pelo governo”, afirmou. “Trabalhamos para que o mercado de seguros esteja preparado para enfrentar esses desafios com parcerias internacionais, fortalecendo o intercâmbio entre Brasil e Reino Unido”, concluiu Oliveira.

Reino Unido e Brasil: ampliação das relações bilaterais

O secretário-Executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães, apresentou o cenário macroeconômico do Brasil. Guimarães destacou as reformas estruturais recentes e a melhoria institucional que têm impulsionado o PIB e o mercado de trabalho. Ele também abordou desafios importantes, como a implementação da reforma tributária, o controle da dívida pública e medidas para fortalecer a competitividade do país. .

Em sua apresentação, o secretário chamou atenção, entre outros pontos, para o crescimento das vendas no varejo e da utilização da capacidade instalada da indústria, bem como para o tamanho do mercado brasileiro, tanto em termos de PIB quanto de PIB per capita, em relação a outros países emergentes.

Os slides também destacaram que o desempenho do PIB vem superando as projeções do mercado. Guimarães discorreu ainda sobre as principais regras e metas do Regime Fiscal Sustentável, sobre os desafios da transição demográfica e sobre a Estratégia Brasil 2050, que é o plano para o longo prazo do país.

Já do lado do Reino Unido, Cathryn Law, diretora de estratégia internacional e relações comerciais do Departamento de Negócios e Comércio do Reino Unido, destacou a importância do Brasil como maior parceiro comercial britânico na América do Sul e enfatizou as oportunidades de ampliação dessa relação bilateral. Apesar de não poder comentar amplamente sobre o cenário econômico britânico devido à divulgação do aguardado Orçamento do Reino Unido no mesmo dia, Law reforçou o potencial de cooperação entre os dois países.

“O Brasil é o maior parceiro comercial do Reino Unido na América do Sul. Temos fluxos consideráveis e que devem aumentar nos próximos anos. Como disse o embaixador Patriota, isso é apenas a ponta do iceberg e pode crescer ainda mais,” afirmou Law, mencionando também a recente visita de um secretário britânico ao Brasil, onde se encontrou com diversas empresas e com o ministro Geraldo Alckmin. “Ele voltou entusiasmado e elogiou muito o Brasil”, comentou.

Ela ressaltou que o crescimento é uma das principais missões do Reino Unido e que os serviços financeiros representam uma prioridade para o governo britânico. “O setor de seguros, especificamente, é muitas vezes subestimado, mas desempenha um papel essencial para a resiliência econômica, contribuindo com 32% do PIB da City de Londres, sendo que quase 70% dos clientes vêm do exterior,” explicou Law. “Esse setor contribui para avançar o crescimento econômico e desempenha um papel especial em relação aos riscos climáticos, que hoje representam um importante negócio para as empresas.”

O Reino Unido, de acordo com Law, possui vasta expertise em modelagens climáticas e na transição para zero emissões, o que confere ao país uma posição de destaque no cenário internacional. Ela apontou a convergência de interesses com o Brasil nesse tema, um dos grandes desafios globais. “As companhias britânicas têm muita expertise em modelagens climáticas e na transição para zero emissões. Sabemos que esses desafios também são prioritários para o Brasil”, comentou.

Law abordou ainda a importância do setor de seguros na mitigação de riscos climáticos e na construção de resiliência financeira para as nações, mencionando que o Reino Unido tem “apetite ao risco” para aumentar o acesso ao resseguro, o que pode reduzir os custos para os contribuintes. “O setor de seguros tem um papel muito importante para enfrentar as mudanças climáticas. Por exemplo, se aumentarmos o capital de resseguros em 1%, reduziremos em 22% os custos para os contribuintes,” disse Law, observando que muitos países estão buscando a liberalização dos resseguros para mais opções e economia.

Ela também destacou que os reguladores britânicos, em parceria com o Lloyd’s of London, estão focados em práticas que apoiem a conversão para uma economia de carbono zero. “Essa é uma mudança substancial, com foco no crescimento sustentável e na mitigação dos riscos climáticos,” concluiu.

Acordo assinado entre ABI e CNseg

Para impulsionar a colaboração em questões relacionadas às mudanças climáticas e à segurança cibernética, a Associação das Seguradoras Britânicas e a CNseg assinaram um Memorando de Entendimento (MoU). O documento sedimenta o compromisso entre as duas entidades no compartilhamento de boas práticas e casos de sucesso das seguradoras brasileiras e do mercado de (re)seguros do Reino Unido.

O MoU também inclui compromissos de colaboração antes da Conferência das Partes (COP30), que será realizada em Belém, capital do Pará, na região Norte do Brasil, em 2025. Para o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, a assinatura do Memorando de Entendimento vai conferir perenidade ao desenvolvimento do conhecimento sobre os produtos de seguros.

“Já estamos prevendo a realização de estudos conjuntos e trocas de informações que permitirão que o mercado brasileiro se desenvolva mais rapidamente com soluções mais rápidas”, sinalizou Oliveira. O executivo destacou que o início da parceria entre a CNseg e a ABI permitirá criar uma troca produtiva de informações e processos para projetos de mitigação de riscos associados às mudanças climáticas.

Hannah Gurga, diretora-geral da ABI, afirma que as mudanças climáticas e a lacuna global de proteção de seguros são áreas que a ABI e a CNseg estão comprometidas em enfrentar. À medida que nos aproximamos da COP30, estou feliz em marcar nosso relacionamento contínuo com a CNseg com este importante MoU para aprimorar nossos esforços em melhorar a resiliência diante de riscos emergentes.

“É uma oportunidade fantástica de mostrar a importância de nossa indústria na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e, o que é mais importante, encontrar maneiras de resolver a lacuna global de proteção de seguros. Nossas duas organizações se comprometeram com uma colaboração mais próxima em questões que incluem as mudanças climáticas, os riscos cibernéticos, a tributação e muitos mais”, complementou Gurga.

Assinado durante o Fórum de Seguros Brasil-Reino Unido (Brazil-UK Insurance Forum), evento organizado pela ABI e CNseg na embaixada brasileira na quarta-feira, 30 de outubro, o MoU também reconhece o compromisso contínuo mútuo em promover a cooperação, trocar opiniões e compartilhar informações sobre assuntos de interesse comum.

Embaixador destaca afinidades entre os governos

O embaixador do Brasil no Reino Unido, Antônio Patriota, destacou na abertura do evento que há muita afinidade entre o novo governo trabalhista britânico e o governo brasileiro do presidente Lula, o que favorece os laços bilaterais.

Em 2025, será comemorado o bicentenário das relações diplomáticas entre Brasil e Reino Unido, ocasião para a qual o presidente Lula convidou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. “Há muita convergência em temas como a transição energética ecológica”. Segundo ele, as relações comerciais também podem ser intensificadas, ampliando as oportunidades de crescimento para ambos os países.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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