Mudanças climáticas exigem nova modelagem para precificar riscos de seguros

“O lançamento de uma modelagem específica para o país é um primeiro passo, mas há necessidade de políticas públicas e de parcerias com governos para proteger comunidades vulneráveis”, afirmou o CEO da Guy Carpenter Brasil, apontando exemplos como México, Chile e Peru

Durante o painel “Desafios Globais para o Mercado de Seguros”, executivos do setor discutiram os esforços necessários para enfrentar a crescente intensidade de desastres naturais e as lacunas na cobertura de seguros ao redor do mundo, especialmente em economias emergentes como o Brasil. A pauta foi marcada pela relevância da modelagem de risco, parceria público-privada (PPP) e incentivo à conscientização da população.

Pedro Farme d’Amoed, CEO da Guy Carpenter Brasil, ressaltou que a modelagem de riscos, pouco utilizada no Brasil até recentemente, é uma área que precisa ser fortalecida. Ele apontou que o afastamento histórico do país desse processo se deveu à baixa frequência de catástrofes naturais, mas alertou que as recentes inundações no sul destacam a urgência de mudança. “O lançamento de uma modelagem específica para o país é um primeiro passo, mas há necessidade de políticas públicas e de parcerias com governos para proteger comunidades vulneráveis”, afirmou Farme, apontando exemplos como México, Chile e Peru, que já avançaram em colaborações para proteção a desastres.

Daniel Castillo, vice-presidente do IRB RE, enfatizou a importância da conscientização para evitar futuros desastres econômicos. “As inundações no sul do país foram gravíssimas e o pior erro que podemos cometer é ignorar essa lição”, alertou Castillo. Segundo ele, a população brasileira ainda não compreende plenamente os riscos que podem enfrentar, mas com uma política de conscientização, a cultura de seguro poderia se expandir, tal como ocorre em países onde o seguro de terceiros é obrigatório.

Um ponto central do debate foi como o setor de seguros pode alavancar sua influência para promover práticas de baixo carbono e investimentos em tecnologias sustentáveis. Farme destacou que a indústria seguradora tem papel de destaque como investidora e que pode, inclusive, contribuir para a criação de créditos de carbono no Brasil. Ele sugeriu que os recursos de superávit do setor poderiam ser aplicados para fomentar projetos de reflorestamento e outras práticas ambientais, especialmente com a proximidade da COP 30 no Brasil, um evento em que o setor pretende apoiar ações inovadoras.

Sid Miller, consultor estratégico da Lloyd’s of London, complementou que o seguro paramétrico tem o potencial de ampliar a cobertura em mercados locais e de compensar perdas de maneira rápida e precisa. Ele citou o exemplo de Nova Zelândia, onde o setor de seguros conseguiu cobrir 5% do PIB do país após um evento catastrófico. “Essa experiência mostrou como a resiliência, somada ao controle de preços, pode trazer resultados benéficos para as populações afetadas”, argumentou Miller, destacando que a colaboração entre seguradoras e governos é essencial.

Outro desafio exposto foi a baixa penetração de seguros em áreas vulneráveis. Segundo Castillo, o seguro compulsório, comum na Europa para veículos, poderia ser um modelo interessante a ser adotado no Brasil para ampliar a proteção da população. Ele destacou que, em locais onde a adesão é mais alta, como Reino Unido e Estados Unidos, a conscientização faz a diferença, com o seguro visto como uma ferramenta essencial para a recuperação econômica.

Farme também mencionou um estudo em colaboração com o Banco Mundial que evidencia a grande lacuna de proteção entre populações de diferentes continentes. “No Brasil, a cobertura é mínima e, nas áreas mais pobres, onde o impacto dos desastres é mais severo, há uma necessidade urgente de produtos acessíveis, como microsseguros ou seguros subsidiados pelo governo”, explicou.

COP 30 e Compromisso com o Desenvolvimento Sustentável

Em vista da COP 30, que será realizada no Brasil, o painel destacou o papel que a indústria de seguros pode desempenhar para apoiar práticas sustentáveis e contribuir para o sucesso do evento. Farme argumentou que o setor tem o poder de incentivar o reflorestamento e que o Brasil deve aproveitar essa oportunidade para se tornar um grande produtor de créditos de carbono. Miller, por sua vez, apontou que o Lloyd’s trabalha junto a organismos internacionais, como a ONU e o Banco Mundial, para fortalecer iniciativas de combate às mudanças climáticas.

O painel concluiu com um chamado à colaboração entre seguradoras, governos e a sociedade. Com as mudanças climáticas se intensificando, os executivos destacaram que o setor de seguros pode desempenhar um papel transformador, não apenas no suporte às vítimas de desastres, mas na criação de uma cultura de resiliência e sustentabilidade, capaz de preparar o Brasil e outros países para os desafios ambientais e econômicos do futuro.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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