Poupar para a longevidade é essencial, alerta Eduardo Giannetti em evento da Bradesco Seguros

"Temos uma cultura de aproveitar o presente, o que é bonito, mas precisamos aprender a sacrificar um pouco agora para garantir um futuro melhor", destaca Giannetti

O economista Eduardo Giannetti chamou a atenção para a rápida e profunda transformação demográfica que o Brasil está vivendo em sua participação no Fórum de Longevidade do grupo Bradesco Seguros, realizado nesta terça-feira, em São Paulo. Ele destacou que a taxa de fecundidade das mulheres brasileiras sofreu uma queda vertiginosa, passando de três filhos por mulher para menos de dois em um período de apenas 18 anos — uma velocidade sem precedentes quando comparada à Europa, onde essa transição demorou seis décadas.

A taxa de fecundidade atual no Brasil é de 1,57 filhos por mulher, abaixo do nível de reposição populacional de 2,1 filhos. “Embora a taxa esteja abaixo do necessário para manter a população estável, o Brasil ainda não sente uma queda populacional por causa do momentum demográfico”, explicou. A população brasileira, de acordo com ele, continuará crescendo até 2041, quando atingirá seu pico de 220 milhões de habitantes, e, a partir daí, começará a diminuir.

Giannetti utilizou metáforas geométricas para ilustrar a transição demográfica do país. No primeiro estágio, a população se assemelhava a uma pirâmide, com uma base larga, formada por muitas crianças, e um topo estreito, com poucos idosos. Com o passar do tempo, essa “pirâmide” se transformou em um “barril”, refletindo a queda nas taxas de natalidade e o aumento da expectativa de vida.

Atualmente, o Brasil se encontra nesse formato de barril, com uma proporção significativa de pessoas em idade ativa e uma base mais estreita. “Mas, à medida que a população envelhece, esse barril vai se transformar em um cogumelo, com a base cada vez mais estreita e um topo cada vez mais largo, composto por uma grande quantidade de idosos”, alertou Giannetti.

A proporção de brasileiros com mais de 60 anos era de 8,7% em 2000 e subiu para 15,6% em 2023. Em 2070, esse número chegará a 37,8%, com mais de um terço da população composta por idosos. Isso, segundo Giannetti, representa um desafio crítico para a economia do país, especialmente na questão da previdência, saúde e no aumento da produtividade.

“Precisamos urgentemente repensar a ideia de aposentadoria e como lidar com essa transição. A produtividade precisa aumentar, e os custos com saúde e manutenção de uma população envelhecida serão muito elevados”, disse Giannetti, frisando que a produtividade não significa necessariamente trabalhar mais horas, mas sim gerar mais valor com o trabalho realizado.

Giannetti também falou sobre a chamada “armadilha da renda média”, na qual o Brasil se encontra. Ele explicou que o país parou de convergir com as nações mais ricas e produtivas e ressaltou que apenas 12 países no mundo conseguiram escapar dessa armadilha nos últimos 70 anos, todos aumentando suas exportações e integrando-se mais à economia global.

“A produtividade é fruto de três fatores: capital físico, capital humano e instituições. Precisamos investir em infraestrutura e tecnologia (capital físico), melhorar a educação e qualificação dos trabalhadores (capital humano), e reformar as regras que regem nossa economia (instituições).”

O papel da poupança

Outro ponto de destaque foi a questão da poupança. Giannetti argumentou que, para aumentar o capital disponível e melhorar a infraestrutura do país, é necessário que os brasileiros poupem mais. “Temos uma cultura de aproveitar o presente, o que é bonito, mas precisamos aprender a sacrificar um pouco agora para garantir um futuro melhor.”

Para Giannetti, começar a poupar cedo é essencial, pois os juros compostos podem fazer uma grande diferença ao longo do tempo. “A transição demográfica torna essa necessidade ainda mais premente. Se não mudarmos, a transformação do barril em cogumelo será acompanhada por uma grave crise econômica e social”, concluiu.

A fala de Giannetti traz uma importante reflexão sobre os desafios que o Brasil enfrentará nas próximas décadas e sobre a urgência de tomar medidas para preparar o país para essa nova realidade populacional.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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